Natural do Paraná, o religioso Domingos Franco, 44, mora há três anos na Síria, um dos países vítimas do terremoto da última segunda-feira (6). Até esta sexta (10), eram mais de três mil mortos na Síria e 18,9 mil na Turquia. Para Franco, a sensação na hora do principal tremor era de que o prédio ia cair sobre si.
“A única imagem que eu tinha na minha frente é que o prédio todo ia cair em cima de nós, e até agora continuam os tremores. Hoje à tarde (10), inclusive, teve um outro tremor. No primeiro dia, foram mais de 50 tremores que seguiram”, relata o brasileiro.
Franco é membro do Movimento dos Focolares e vive em Alepo, maior cidade da Síria, onde faz trabalho religioso. Na tarde desta sexta no Brasil já era fim da noite no país árabe, e Domingos disse que acabava de chegar em casa após prestar apoio aos sobreviventes.
“Ficamos umas quatro horas com um grupo para dar um suporte para mais de 400 pessoas que estavam reunidas num abrigo em uma igreja, sobretudo um suporte como terapeuta, até pela questão psicológica, como você pode tratar a questão do medo, as pessoas que não conseguem dormir…”, relata.

“Quando aconteceu, você vê todo o prédio balançar. Então as coisas caíram, você tem aqueles poucos segundos para tomar uma decisão… Eu moro num prédio de sete andares, para sair estava chovendo, então saí de pijama, descalço e depois ficamos nas ruas como todo mundo por um certo número de horas, porque estava muito instável para voltar ainda”, conta o religioso.
Em Alepo, segundo Domingos, mais de 270 prédios desmoronaram. A situação, diz ele, é agravada pelas sanções econômicas impostas ao país por parte da comunidade internacional após a guerra civil de 2011.
“Já são 12 anos de guerra. Aqui mais de 90% [da população vive abaixo da linha da pobreza, a energia elétrica é fornecida só entre duas a três horas por dia, gás muito difícil de ter acesso, tem produtos que em um ano aumentaram mais de 1000%”, diz o brasileiro.
“Um salário mínimo aqui você consegue comprar talvez 12 kg de banana, ou 4 kg de carne, ou alguns litros de gasolina”, fala.
Para Domingos, o país necessita de ajuda humanitária para seguir.
“Alimentação, produtos médicos, cobertores, porque a gente tá atravessando um dos invernos mais rígidos. Tá muito frio agora, tem algumas cidades em que está nevando”, conta.
Agora, após o desastre, ele espera que a voz dos sírios “possa ser escutada”.
“O principal objetivo é fazer com que a voz dos sírios possa ser escutada. Porque por ser um país que está sob sanções internacionais, então muito pouco se fala, e as pessoas sofrem, estão morrendo. Com esse terremoto os grandes líderes precisam repensar, sobretudo essa questão das sanções internacionais, para que as pessoas possam sobreviver”, espera.
