Todo carnaval tem seu fim
Natal, RN 20 de abr 2024

Todo carnaval tem seu fim

23 de fevereiro de 2023
4min
Todo carnaval tem seu fim

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Sim, o título desta crônica é um clichê e, para complicar, ainda é título de uma das canções mais conhecidas da banda carioca Los Hermanos, que há tempos tirou dos Engenheiros do Hawaii o título de grupo de rock mais odiado do Brasil. Contudo, o que é o carnaval senão um imenso clichê onde tudo não passa de variações sobre o mesmo tema? o que não tira o mérito da festa, principalmente como catarse coletiva após dois anos (2021 e 2022) sem a festa devido à pandemia de covid-19. Vamos aqui aos poucos analisar e divagar sobre aspectos gerais da folia momesca em terras potiguares e no país.

Seguindo tradição pessoal que mantenho há uma década e meia, passei a folia momesca em Natal, entre blocos de amigos e shows de artistas potiguares e também nacionais. Pode-se dizer que apesar de problemas aqui e acolá e necessárias críticas em alguns pontos, o carnaval na capital foi um sucesso absoluto. O público prestigiou todos os polos (decisão acertada de levar a festa para pontos diferentes da cidade, Centro, Ponta Negra, Nazaré, Petrópolis, Rocas, Redinha) e as atrações musicais agradaram a todos os públicos. A César o que é de César e a Álvaro o que é de Álvaro (incluindo Dácio Galvão aí): o carnaval foi bem planejado, bem distribuído e bem organizado.

Por falar em Álvaro Dias, o prefeito avaliou mal o sucesso da festa e se arriscou a subir no palco das Kengas antes do show de Johnny Hooker. Levou uma estrondosa vaia e de quebra umas garrafas de água, sendo  - pelo constrangimento e segurança - obrigado a dar meia volta sem discurso e sem eira nem beira. Álvaro colhe os frutos da gestão má avaliada em pontos estratégicos, como transporte público e a identificação com o bolsonarismo e o negacionismo. Lembrando ainda o astro da noite, Johnny Hooker, é LGBTQIA militante, com postura anti bolsonarista e progressista, portanto, atraiu um público desta perfil, complicando a vida do prefeito bolsonarista de ocasião. Porém, é preciso se dizer que o Centro de Natal num domingo de Kengas é uma bolha. Não se engane com os vaias, se a eleição municipal fosse hoje com os mesmos candidatos, Aálvaro ganharia novamente com folga no primeiro turno.

Por falar em prefeito de Natal, o anterior, Carlos Eduardo, desfilava simpatia entre o público das kengas, sendo abraçado e solicitado para fotos. Carlos tem profunda identificação com o bloco das Kengas e mostrou ainda que em uma bolha que lhe tem simpatia, que talvez tenha lenha para queimar em 2026 em Natal. A esperar.

Pelo menos nos três polos onde curti o carnaval (Centro, Petrópolis e Ponta Negra) o policiamento foi intenso e de maneira discreta e funcional. Não percebi nenhum registro de violência e poucas notícias sobre roubos e furtos. No geral, parece ter sido um carnaval com segurança e sem maiores percalços para os foliões. Ponto para o Governo do Estado e a Secretaria de Segurança Pública.

Para além dos blocos antigos, tradicionais e com grande dimensão (como as citadas Kengas e ainda Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens, Banda do Siri, Baiacu na Vara) vale o registro de pequenos blocos que contribuem bastante para a festa. Que em 2024 esses recém-criados recebam mais apoio e que outros surjam, fenômeno que aconteceu em São Paulo (durante a gestão Haddad) e que contribuiu para revitalizar e consolidar o carnaval paulistano.

Não acompanhei com atenção o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, mas percebi uma "polêmica" devido a evangélicos terem criticado e chamado de "profanação" um carro alegórico da Salgueiro representando um demônio. Primeiro, que evangélico nem deveria assistir desfile de escola de samba. Segundo, está cansativo a mídia dar espaço ao que um punhado de evangélicos pensa ou acha do carnaval ou de qualquer outro assunto.

No mais, agora é esperar o carnaval 2024. E cuidar de produzir que segundo a tradição tupiniquim, "o ano começa depois do carnaval". Vamos que vamos.

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