Em um vídeo que circula nas redes sociais, uma profissional de saúde tenta conter um jovem autista, aparentemente em crise, com uma haste de metal utilizada como suporte para soro. Porém, o objeto acaba sendo utilizado pelo paciente contra a profissional, que também é agredida. Apenas com a chegada de outras pessoas, o jovem é imobilizado e contido.
A cena, registrada por uma pessoa que estava no local na hora do ocorrido, aconteceu dentro da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Conjunto Cidade Satélite, na Zona Sul de Natal, no final de janeiro, mas apenas esta semana se tornou de conhecimento público depois de chegar às redes sociais.
No vídeo, é possível ouvir a mãe do jovem pedindo calma e para não agredirem o filho:
“Não é assim, calma, ele é autista, calma, ele está em crise, vocês sabem o que é isso”.
De acordo com a técnica de enfermagem que aparece no vídeo, a mãe do jovem informou que ele era agressivo e precisava ser internado, porém não havia conseguido atendimento no hospital Dr João Machado, que estaria sem vagas disponíveis na ala masculina.
“Nosso protocolo quando recebemos pacientes agressivos é fazer a contenção. No entanto, a mãe pediu para o filho não ser contido, pois ele estava calmo”, comentou a trabalhadora.
Ainda segundo a técnica em enfermagem, a cena das agressões que aparece no vídeo ocorreu apenas horas depois do paciente ter dado entrada na unidade.
“Por volta das 22h foi aplicada uma medicação. A acompanhante havia solicitado lençol, travesseiro para acomodar o filho. Como o pronto socorro estava tranquilo, fui para o meu descanso às 00h. Quando retornei por volta das 3h, escutei uma gritaria”, relatou a técnica de enfermagem, que fez um boletim de ocorrência (B.O) na madrugada do dia 31 e exame de corpo delito. Ela ainda reclama que a direção, em nenhum momento, falou com ela ou procurou saber o que ocorreu.
A forma como o jovem foi atendido foi muito criticada pela falta de preparo e treinamento para atender esse tipo de ocorrência. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal afirmou, por meio de nota, que o paciente que aprece no vídeo já é acolhido na rede psicossocial de Natal desde a infância e que ele passou pelo CAP’s Infantil e Adulto. A SMS lamentou o ocorrido e afirmou que dispõe de protocolos clínicos para o manejo de pacientes em casos de agitação psicomotora e que vem investindo de forma contínua na capacitação dos profissionais, desde porteiros até os médicos, para atuação nestes casos. A Secretaria, no entanto, não comentou o atendimento adotado no caso.
Já a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) explicou que a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), instituída desde 2011, é composta por diversos pontos de atenção de acordo com a complexidade que o caso requer, indo da Unidade Básica de Saúde, passando pelos Consultórios na Rua, Centro de Atenção Psicossocial (CAP’s), UPA’s, Centros de Convivência e Unidades de Acolhimento, até os Leitos de saúde mental em Hospitais Gerais.
O paciente com transtorno mental grave e persistente tem o direito de ser assistido no Centro de Atenção Psicossocial (CAP’s) mais próximo de sua residência, que deve elaborar um projeto terapêutico específico com o objetivo de diminuir as crises, além de promover a reinserção social.
Ainda de acordo com a Sesap, em situações de crise, o fluxo de atenção inclui as UPA’s, que precisam ter equipes qualificadas para o atendimento de pacientes de saúde mental, assim como são para outras urgências.
O Sindicato dos Trabalhadores da Saúde no Rio Grande do Norte (Sindsaúde/ RN) tanto a técnica em enfermagem quanto o paciente são vítimas da negligência do Estado e Prefeitura de Natal, que teriam fechado leitos e não realizado o investimento necessário no atendimento especializado.