Um homem foi preso depois de agredir um Capitão da Polícia Militar, na noite desta quinta (2), durante um cortejo que fazia parte das festividades em homenagem ao Dia de Iemanjá realizadas em Natal (RN).
A confusão começou quando o grupo já estava no fim da caminhada, perto da estátua de Iemanjá, na Praia do Meio. O morador de uma das casas que fica em frente à estátua estava com o som ligado em um volume tão alto que atrapalhava os cânticos que fazem parte do cortejo. Um capitão da Polícia Militar, que fazia parte da organização do evento, se identificou como policial e solicitou que baixassem o som, um jovem que parecia ser o filho do dono da casa atendeu ao pedido, mas o pai se aproximou e reclamou.
“O capitão foi até lá, se apresentou como policial fora de horário de serviço e pediu para diminuir volume enquanto o grupo passava porque o cortejo tem uma estrutura de cânticos e músicas. O filho diminuiu o volume, mas o pai foi até lá e aumentou de novo. Ele insistiu que não ia baixar o som e que ia usar na altura que quisesse. A PM foi chamada, mas quando ele via que os policiais saíam, aumentava de novo”, relata Giselma Omilé, coordenadoria estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que é vinculada à Secretaria de Estado das Mulheres, Juventude da Igualdade Racial e Direitos Humanos.
Giselma estava presente no cortejo e testemunhou o momento em que o homem partiu para a agressão física contra o Capitão da PM.
“Como foi o Capitão que se apresentou inicialmente, o homem ficou no embate com ele. O homem parecia não acreditar que um policial pudesse estar num cortejo de Iemanjá, que é ligada a religiões de matriz africana. Independentemente se o policial era agente de segurança ou não, qualquer pessoa do cortejo poderia ter solicitado e ele ouvido. Houve deboche: ‘quem é você?’. Como se o PM não pudesse estar com vestes do candomblé, isso é importante para que se tenha noção de como está presente no imaginário popular que pessoas de branco, com esses trajes, não devem ser respeitadas. Esperamos que o caso seja registrado como intolerância religiosa”, critica Giselma.
Na tentativa de conter o agressor, outras pessoas acabaram se envolvendo na confusão. O homem que iniciou a briga foi levado para a Delegacia de Plantão da Zona Sul. Algumas pessoas que estavam no cortejo foram voluntariamente para a delegacia e se apresentaram como testemunhas.
“Acompanhei todo o processo. Outras confusões foram geradas porque isso durou um bom tempo e o pessoal tentou conter o agressor. Como a PM já estava perto, eles chegaram rápido. Não podemos tirar qualquer conclusão, mas as pessoas que moravam perto, quando notaram que a confusão era com ele, chegaram a comentar ‘só podia ser’, parecia que ele já era uma pessoa problemática na região. Houve clamor da população, não só das pessoas do cortejo, que testemunharam o ocorrido para que ele fosse detido. Essa não é a primeira vez que o cortejo acontece, esse evento já é realizado há mais de uma década, mas nunca houve problemas dessa natureza”, desabafa Giselma.