O último dia de carnaval no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, na Zona Norte de Natal, terminou com pancadaria iniciada pela própria Polícia Militar, que não queria trabalhar na chuva e pediu que a festa fosse encerrada mais cedo, segundo a organização do evento. 

Em um vídeo gravado por pessoas que estavam no local no momento das agressões, é possível observar que o público pula e se diverte, quando um grupo de policiais surge por trás já agredindo a população. Algumas pessoas chegaram a ser levadas para unidades de saúde e uma chegou a sofrer convulsões depois de ser agredida pela PM, de acordo com informações repassadas pela organização do evento. 

Por causa da chuva intensa que caiu em alguns pontos da capital nesta terça (21), as apresentações de carnaval programadas pela Prefeitura de Natal para ocorrer em diferentes polos culturais foram encerradas mais cedo pelo Corpo de Bombeiros, que interditou os locais por uma questão de segurança. Porém, no bairro de Nossa Senhora da Apresentação não houve interdição e depois de uma vistoria, o Corpo de Bombeiros autorizou a continuidade da festa., o que teria irritado alguns PM’s. 

“Já tinha tocado Lucas Lemos e Ferro na Boneca, mas os policiais não queriam que entrasse a última banda. Eles queriam que encerrássemos a festa mais cedo por causa da chuva, uns dez policiais vieram falar com a gente e disseram que era um risco pra eles e para a população. Só que aqui a chuva tinha sido fraca e já tinha até parado, os próprios Bombeiros, que saíram passando em todos os polos e fecharam na Redinha, nas Rocas e na Praça 7 de Setembro, fizeram a vistoria aqui e disseram que estava tudo certo, que podia continuar”, detalhou uma fonte à Agência Saiba Mais, que preferiu não ser identificada. 

Pelo vídeo, é possível ver que os policiais se organizam em um cordão e começam a agredir com cacetete algumas pessoas que estavam pulando na frente do palco por trás. Durante a ação, também foi utilizado spray de pimenta. 

“Ligamos até para a Funcarte [Fundação Cultural Capitania das Artes] para perguntar o que deveríamos fazer. Eles disseram que se os Bombeiros não interditaram, a festa tinha que continuar, que não poderia terminar mais cedo até porque a banda só receberia o cachê se se apresentasse. As apresentações iam até as 23h30, mas já tínhamos até acordado em terminar mais cedo, às 23h. Porém, os policiais não ficaram contentes com a continuação”, denuncia um dos membros da organização.  

No momento em que as agressões da PM começaram, havia cerca de 5 mil pessoas acompanhando o carnaval em frente ao palco montado no bairro de Nossa Senhora da Apresentação. Nas redes sociais, muitas pessoas criticaram a diferença de tratamento dado ao público na Zona Norte , frequentemente discriminado, e Zona Sul de Natal. 

“Esse é um pessoal simples, que nunca tinham tido um carnaval organizado pela prefeitura no bairro. Durante três dias não houve uma única ocorrência, apenas algumas ocorrências pontuais por excessos, mas sem o registro sequer de uma briga. Como não tiveram o pedido de encerrar a festa antes, resolveram acabar com a festa por conta própria. Os policiais arrancavam a bolsa das pessoas perguntando por drogas, jogavam dinheiro no chão e até spray de pimenta em quem tentava filmar. Eles se organizaram ontem num esquema que não fizeram em nenhum dia, faziam um corredor de policiais e quem reclamasse, eles batiam”, relata a fonte mantida em anonimato. 

A Agência Saiba Mais questionou a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) sobre a denúncia e as agressões mostradas pelo vídeo, mas não obtivemos resposta até a publicação da matéria. 

Confira alguns vídeos das agressões:

PM agride público no carnaval 2023 no bairro Nossa Senhora da Apresentação, em Natal (RN)

ERRATA:

O texto da matéria foi alterado para corrigir a informação de que uma pessoa que sofreu convulsões depois das agressões da PM havia morrido, mas ela foi socorrida e não se sabe o estado de saúde dela.