Mulheres negras são maioria no campo, mas têm as maiores taxas de desemprego, mostra Dieese
Natal, RN 19 de abr 2024

Mulheres negras são maioria no campo, mas têm as maiores taxas de desemprego, mostra Dieese

31 de março de 2023
4min
Mulheres negras são maioria no campo, mas têm as maiores taxas de desemprego, mostra Dieese

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As mulheres negras do campo têm maior dificuldade de inserção no trabalho, menores rendimentos e ocupações mais precárias. O apontamento vem de um estudo produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que mostrou que esta população vive em condições ainda mais desiguais que outras mulheres - e principalmente que homens - mesmo sendo mais de 60% da força de trabalho feminina rural.

O boletim do Departamento analisa as informações da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relativas aos quartos trimestres de 2022 e de 2019 e referentes às mulheres que têm domicílio na zona rural.

Entre os grupos observados, as mulheres na força de trabalho - aquelas ocupadas ou desempregadas, mas que ainda podem exercer um ofício - tiveram queda de 7,6% entre os dois períodos. Segundo a publicação, a taxa de desocupação das mulheres é sempre maior do que a média, o que reflete a dificuldade feminina em conseguir colocação no mercado de trabalho.

No quarto trimestre de 2022, por exemplo, a taxa de desocupação média para todas as mulheres no país foi de 9,9% e a da população total, de 7,9%. Para a população total da zona rural, o percentual foi de 6,3% e, para os homens, de 4,0%. A taxa de desocupação das mulheres foi muito maior, 8,7%, o que representou 326 mil mulheres em situação de desemprego. 

“Já as mulheres negras vivenciam uma dupla discriminação: por sexo e raça/cor e, para elas, a dificuldade no mercado de trabalho sempre foi maior”, aponta a entidade. 

Do total da população feminina rural desocupada no quarto trimestre de 2022, 65,6% eram negras e 34,4%, não negras. Entre as desempregadas com domicílio rural, essa proporção é ainda maior: 77,6% são negras. 

“Esse resultado chama a atenção quando se constata que a força de trabalho feminina no campo é mais negra: 60,5% das mulheres economicamente ativas - ocupadas ou desempregadas - que residem na zona rural eram negras no período em análise”, diz o texto.

Rendimentos menores

O rendimento médio das mulheres ocupadas que moravam na zona rural no último quadrimestre de 2022 foi de R$ 1.356,40, equivalente a aproximadamente 58,0% do valor de R$ 2.341,50 recebido, em média, por todas as mulheres ocupadas no país. 

As trabalhadoras domésticas do campo tiveram ainda os menores salários. Elas receberam, em média, R$ 760,26, valor menor que um salário mínimo. Já as maiores médias salariais para as mulheres rurais foram registradas nas ocupações ligadas ao grupo de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias e administrativas (R$ 2.053,27); no grupo de administração pública, defesa e seguridade social (R$ 1.969,44); e no grupo de educação, saúde e serviços sociais (R$ 1.937,96). 

Os dados do quarto trimestre de 2022 mostram também que a remuneração média das mulheres com domicílio rural foi em média 20,0% menor do que a dos homens. A maior desigualdade salarial entre homens e mulheres com domicílio agrícola ocorreu na indústria, onde a remuneração das mulheres foi, em média, 35,4% menor do que a dos homens; e no trabalho doméstico, onde as mulheres receberam, em média, 42,2% a menos do que os homens.

Vulnerabilidade

Segundo o Dieese, os resultados do estudo confirmam a maior vulnerabilidade das mulheres no mercado de trabalho e revelam que a situação das mulheres residentes na zona rural é ainda mais adversa - tanto em relação às mulheres das zonas urbanas, como em relação aos homens do campo. 

“Também se pôde observar que a situação das mulheres negras no campo – que são mais de 60% da força de trabalho feminina rural - é ainda mais instável, caracterizando-se por maior dificuldade de inserção, menores rendimentos e ocupações precárias”, avisa a entidade. 

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