As mulheres negras do campo têm maior dificuldade de inserção no trabalho, menores rendimentos e ocupações mais precárias. O apontamento vem de um estudo produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que mostrou que esta população vive em condições ainda mais desiguais que outras mulheres – e principalmente que homens – mesmo sendo mais de 60% da força de trabalho feminina rural.
O boletim do Departamento analisa as informações da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relativas aos quartos trimestres de 2022 e de 2019 e referentes às mulheres que têm domicílio na zona rural.
Entre os grupos observados, as mulheres na força de trabalho – aquelas ocupadas ou desempregadas, mas que ainda podem exercer um ofício – tiveram queda de 7,6% entre os dois períodos. Segundo a publicação, a taxa de desocupação das mulheres é sempre maior do que a média, o que reflete a dificuldade feminina em conseguir colocação no mercado de trabalho.
No quarto trimestre de 2022, por exemplo, a taxa de desocupação média para todas as mulheres no país foi de 9,9% e a da população total, de 7,9%. Para a população total da zona rural, o percentual foi de 6,3% e, para os homens, de 4,0%. A taxa de desocupação das mulheres foi muito maior, 8,7%, o que representou 326 mil mulheres em situação de desemprego.
“Já as mulheres negras vivenciam uma dupla discriminação: por sexo e raça/cor e, para elas, a dificuldade no mercado de trabalho sempre foi maior”, aponta a entidade.
Do total da população feminina rural desocupada no quarto trimestre de 2022, 65,6% eram negras e 34,4%, não negras. Entre as desempregadas com domicílio rural, essa proporção é ainda maior: 77,6% são negras.
“Esse resultado chama a atenção quando se constata que a força de trabalho feminina no campo é mais negra: 60,5% das mulheres economicamente ativas – ocupadas ou desempregadas – que residem na zona rural eram negras no período em análise”, diz o texto.
Rendimentos menores
O rendimento médio das mulheres ocupadas que moravam na zona rural no último quadrimestre de 2022 foi de R$ 1.356,40, equivalente a aproximadamente 58,0% do valor de R$ 2.341,50 recebido, em média, por todas as mulheres ocupadas no país.
As trabalhadoras domésticas do campo tiveram ainda os menores salários. Elas receberam, em média, R$ 760,26, valor menor que um salário mínimo. Já as maiores médias salariais para as mulheres rurais foram registradas nas ocupações ligadas ao grupo de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias e administrativas (R$ 2.053,27); no grupo de administração pública, defesa e seguridade social (R$ 1.969,44); e no grupo de educação, saúde e serviços sociais (R$ 1.937,96).
Os dados do quarto trimestre de 2022 mostram também que a remuneração média das mulheres com domicílio rural foi em média 20,0% menor do que a dos homens. A maior desigualdade salarial entre homens e mulheres com domicílio agrícola ocorreu na indústria, onde a remuneração das mulheres foi, em média, 35,4% menor do que a dos homens; e no trabalho doméstico, onde as mulheres receberam, em média, 42,2% a menos do que os homens.
Vulnerabilidade
Segundo o Dieese, os resultados do estudo confirmam a maior vulnerabilidade das mulheres no mercado de trabalho e revelam que a situação das mulheres residentes na zona rural é ainda mais adversa – tanto em relação às mulheres das zonas urbanas, como em relação aos homens do campo.
“Também se pôde observar que a situação das mulheres negras no campo – que são mais de 60% da força de trabalho feminina rural – é ainda mais instável, caracterizando-se por maior dificuldade de inserção, menores rendimentos e ocupações precárias”, avisa a entidade.