O pânico da população como negócio e política
Natal, RN 20 de abr 2024

O pânico da população como negócio e política

21 de março de 2023
4min
O pânico da população como negócio e política

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Quem acompanha os noticiários lembra bem do 11 de Setembro de 2011 quando os Estados Unidos sofreram o maior ataque da história ao seu território com quatro aviões comerciais americanos sequestrados na costa e dois deles lançados contra as torres gêmeas do World Trade Center. Um outro chocou-se com o Pentágono e o quarto caiu numa área desabitada no Estado da Pensilvânia. Ao todo, 2.977 pessoas foram mortas nos ataques, além dos 19 sequestradores dos aviões.

A tragédia chocou e comoveu o Mundo. Mas também teve outros efeitos. O então presidente dos EUA, o republicano George W. Bush, que sofria desgase e críicas, viu seu índice de aprovação interna atingir 90%, com praticamente todo o país oferecendo seu apoio a futuras medidas de reação aos atentados. Como, por exemplo, as invasões e ocupações do Afeganistão, ainda em 2001, e do Iraque, dois anos mais tarde. Mas Bush e os republicanos foram mais além: aproveitaram o pânico da população que, claro, tinha medo de novos atentados, assinaram a Patriot Act (Lei Patriótica), que facilitou operações de vigilância das autoridades, permitindo o monitoramento de comunicações via telefone e internet. Na prática, invadia a privacidade dos cidadãos. Em um país que apesar do jeitão de fundamentalista, defende com unhas e dentes a liberdade individual, isso só pôde ser obtido através do medo, da sensação coletiva de pânico.

Cortemos para o Rio Grande do Norte, março de 2023. Uma série de atos violentos são deflagrados por bandidos de uma facção chamada Sindicato do Crime em Natal e dezenas de cidades do Rio Grande do Norte, em tese, como protesto por melhores condições nos presídios. Durante mais de uma semana, ônibus e veículos públicos e privados queimados, rajadas de tiros em prédios públicos e outras ações de depredação. No saldo numérico, não houve tragédia como a dos EUA, não se empilhou mortos nas ações (veículos sempre queimados vazios) nem ações explícitas em ruas e espaços. Contudo, assim como no país de Bush e Trump, houve e continua havendo no Rio Grande do Norte um estímulo a gerar pânico na população.

Critiquei duramente esse fato logo no primeiro dia de aentados, após as ações da madrugada anterior, em texto aqui no Saiba Mais. Em horas, dezenas de fake news e áudios apócrifos circularam vitalmente em grupos de zap potiguares dando conta que o terror era bem maior do que realmente se registrou. Não por acaso, nos dias seguintes, comércio, bares, restaurantes, espaços culturais fecharam por puro medo, sem evidências que fosse acontecer algo, inclusive em bairros onde absolutamente nada foi registrado, como especialistas da UFRN apontaram.

Pensei no início se tratar de "trollagem" de jovens desocupados mas rapidamente percebi se tratar de algo mais organizado. Paralelamente aos áudios e fake news vimos políticos potiguares embarcando na linha de pânico na população tentando ganhar evidentes dividendos políticos. Casos dos senadores  Rogério Marinho e Styvenson Valentim, que não se prestaram a ajudar a resolver o problema, repercutiram com força o clima de terror em suas redes sociais e alegando que Fátima não teria condições de conter a onda de violência clamaram pelo exército nas ruas. Nesta segunda, parlamentares da extrema-direita tiraram a máscara e adentraram o uso do pânico como política, pedindo o impeachment de Fátima (sem qualquer embasamento jurídico, evidentemente) por, supostamente, não conseguir controlar o terror no Estado. Um terror que eles ajudaram a amplificar. Inclusive com fake news vergonhosas. Como foi o caso do deputado Coronel Azevedo que divulgou em suas redes sociais e chegou a fazer discurso na ALRN denunciando que o cemitério do município de Nova Cruz foi incendiado por criminosos, prestando solidariedade ao prefeito, inclusive. Acontece que não houve incêndio algum lá nem sequer tentativa. Mas para quê apurar o que aconteceu se o melhor é manter a população assustada e fazer uso político disso, não é mesmo?

Em tempo, como bons jornalistas como Bruno Barreto apontaram, o crescimento de fake news sobre a (in)segurança no Rio Grande do Norte é sinal claro que Fátima está no caminho certo na gestão da crise (sem negociar com as facções, como fizeram no passado envolvendo o próprio Azevedo e trazendo a Natal o ministro da Justiça Flávio Dino). Enfim, as ações criminosas estão diminuindo cada vez mais. A canalhice e uso do pânico feita por políticos de extrema-direita, não.

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