Cícera Alexandre de Oliveira, de 86 anos, sempre viveu no campo, mas boa parte desse tempo esteve a serviço de um patrão. Não tinha sua própria terra e a família passava dificuldades. Com o problema até então crônico de falta de água, precisava carregar baldes na cabeça e prejudicou a coluna. O marido, também agricultor, “trabalhou tanto para esse patrão que adoeceu e não melhorou mais”. Atualmente, o homem vive em cadeira de rodas. Entretanto, hoje, a idosa vê sua vida transformada a partir dos investimentos feitos na agricultura familiar. Moradora do Sítio Alegre, em Bom Jesus, na Grande Natal, ela tem a própria plantação, animais e casa própria, a exemplo dos filhos.
“Eu cheguei e não tinha nada, só os filhos pra trazer. Trabalhando para os outros a gente não arranja nada. Aí trabalhamos 36 anos com patrão. Ele faleceu e foi tudo por água abaixo, acabou tudo”, descreve a idosa.
A situação começou a mudar a partir de um pedaço de terra vendido por um sobrinho do marido. Ainda assim, a família não tinha como construir suas moradias. A virada de chave veio com o Minha Casa, Minha Vida Rural, que permitiu que a ampla família conquistasse sete casas para os diferentes membros.
“Nós custamos a vir pra aqui [terreno] porque não tínhamos condições de fazer casa. Aí foi que saiu o projeto de Lula”, lembra.
Também no governo Lula 1, houve a regulamentação da agricultura familiar como categoria profissional. A lei federal estabeleceu as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, com políticas públicas direcionadas ao campo.
Pacote de entregas

Um evento em Bom Jesus, nesta segunda-feira (6), reuniu o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, para uma série de atividades e anúncios de programas para as famílias do campo. No município, o ministro revelou duas assinaturas de contratos que somam R$ 51,5 milhões em assistência técnica para as famílias rurais.
A primeira assinatura, no valor de R$ 1,5 milhão, será feita nesta terça (7) para beneficiar todo o Estado. A segunda, com assinatura ao decorrer da semana, também trará benefício aos potiguares, mas o foco será na mulher. Serão R$ 50 milhões para assistência técnica às mulheres, na semana que marca o 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
A visita ao Sítio Alegre trouxe também a governadora Fátima Bezerra, o secretário estadual do Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar (Sedraf), Alexandre Lima, e outras autoridades, como representantes do Banco Mundial, Banco do Brasil e parlamentares federais e estaduais.
Em um passeio pelo terreno, o Governo entregou um poço com energia solar fotovoltaica, equipamentos agrícolas e ainda créditos para jovens e mulheres que atuam na agricultura familiar, que somam R$ 70 mil em investimentos.
Carregando o mesmo nome da matriarca, Maria Cícera Franco de Oliveira, de 44 anos, é uma voz ativa no sindicato rural e diz que, só com o poço, com 80 metros de profundidade, levará água de 60 a 80 famílias da sua comunidade.
“O nosso potencial produtivo aqui é gigante se tiver água. Nós chegamos a produzir 68 diversidades de hortaliças. Por falta de água, estamos em seis. Por aí se tira o que representa pra nós em relação à produção, a água pra produzir. Então, essas famílias, eu não tenho dúvida que em menos tempo que a minha família passou pra ter tudo isso, elas vão ter, porque elas vão ter um fator a mais que a nossa não teve, que foi a água”, comemora Maria Cícera.
Para Alexandre Lima, o principal ganho é a segurança hídrica. O projeto deve ter investimento de R$ 7 milhões em 120 poços.
“E além do aspecto da segurança hídrica, tem também o elemento da inovação, que é a utilização de energias renováveis. O governo, só aqui, vai estar beneficiando duas mil famílias com poços instalados, todos com energia solar. Isso é uma inovação porque a comunidade, além de ter água garantida para produção de alimentos saudáveis, não vai pagar energia pelo fato de estar acoplado ao sistema solar”, disse o secretário.

A Emater-RN entregou quatro ensiladeiras para a comunidade. A máquina transforma algumas espécies de plantas em silagem, que serve como alimento para o gado. Paulo Teixeira, do MDA, assim, exaltou a agroindústria.
“Nós queremos mexer no tema da mecanização do campo. Isto é, fazer com que os trabalhadores tenham acesso a máquina mais moderna e fazer máquinas que não tenham no Brasil para diminuir o esforço físico dos trabalhadores. Nós vamos chamar a indústria de de implementos agrícolas e eu quero fazer um seminário para o campo dizer que tipo de máquina que estamos precisando no Brasil para diminuir o esforço físico”, comentou o ministro.
“É verdade que eles já criaram algumas máquinas menores, mas não é suficiente para resolver o tema da agricultura familiar. Nós queremos mecanizar ainda mais e investir em agroindústria. Daqui, dessa produção de maracujá, como é que a gente avança para uma agroindústria de polpa, para agregar valor na produção agrícola?!”, exemplificou.
Maria Cícera também exaltou o benefício trazido pela tecnologia, para evitar problemas físicos como teve sua mãe.
“Nós não vamos passar no futuro pelo que ela está passando hoje, por essa questão desse elemento de ter a máquina portadora de mão de obra”.