Com eleição marcada para 10 e 11 de maio, uma das chapas que concorrem à direção do Sindicato Intermunicipal dos Vigilantes do Rio Grande do Norte (Sindsegur) chama atenção por um fato curioso: ela reúne apoio, ao mesmo tempo, da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), ligada ao PCdoB, além do policial reformado Wendel Lagartixa e do deputado federal Sargento Gonçalves (PL), dois expoentes do bolsonarismo no Estado.
O apoio de diferentes matizes ideológicos parte da chapa 2, intitulada “Luta e Transparência”, que faz oposição a atual gestão. O coordenador geral é Josenilton Claudino. Entre as propostas, o grupo quer “lutar pela extensão do porte de arma dos vigilantes”, como anuncia nas redes sociais.
A logo da CTB é estampada nos materiais de divulgação da chapa, que recebeu vídeos com declarações de apoio de Lagartixa e Gonçalves. Já o Sindsegur possuía filiação à Força Sindical e à Confederação Nacional dos Vigilantes e Prestadores de Serviços (CNTV). O diretor de comunicação da entidade, Josenilson Nascimento, não soube confirmar se a relação com a Força se mantém. No site do Sindsegur, há menção apenas à CNTV.
“É hora da mudança. Se não está satisfeito, não adianta ficar em casa acomodada. É ir no dia 10 e 11 de maio lá na urna depositar seu voto para a mudança”, apregoou o deputado federal Sargento Gonçalves em um vídeo publicado no Instagram da chapa.
Já Lagartixa, impedido de assumir o mandato como deputado estadual por ser inelegível como resultado de uma condenação por crime hediondo, criticou a chapa da situação e disse que ela “uma negação” ao firmar seu apoio à chapa adversária.
“Por isso que eu vou apoiar a chapa 2, para ver se a chapa 2 leva o pleito da categoria para algum deputado federal, para algum senador, e use a tropa, aproveitem o direito que eles têm ao porte de armas. Porte de armas, sim, para não ser mais presos pela PRF, pela Polícia Militar, pela Polícia Civil. Tem muito segurança sendo preso em flagrante quando vai para casa, sai do trabalho, atuado em flagrante porque tá em posse da arma que comprou”, disse.
Já a chapa 1, “Luta e Resistência”, é formada pela atual direção e tem como candidato a coordenador geral Márcio Lucena. Ela tem o apoio público do ex-vereador e ex-deputado estadual Sandro Pimentel (PSOL), que é vigilante da UFRN.
Segundo Sandro, parte dos membros fazem parte tanto do PSOL como da corrente do ex-parlamentar no partido, o Movimento Esquerda Socialista (MES), que dirige a sigla no Rio Grande do Norte.
“É a chapa da atual direção que venho acompanhando e apoiando desde a eleição passada. Esse povo de Lagartixa tem nem noção do que seja o movimento sindical”, criticou Pimentel à agência Saiba Mais.
“A atual direção do Sindsegur tem feito um esforço monumental para garantir conquistas para nossa categoria. Por isso é necessário que essa equipe que está à frente se mantenha em nome de diversas outras conquistas”, declarou.
A agência Saiba Mais procurou o presidente da CTB-RN, Divanilton Pereira, para saber o posicionamento da central. Por mensagem de texto, ele informou que não está acompanhando esse processo em específico. A reportagem pediu indicação de outro dirigente da CTB, mas não recebemos resposta até o fechamento desta matéria.
Vigilantes em queda
O número de profissionais da segurança privada no Brasil sofreu uma queda no último ano, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Segundo a publicação, em março de 2021 eram 526.108 vigilantes empregados nas empresas especializadas de segurança privada e nas empresas orgânicas (aquelas que não tem como atividade fim a segurança privada, mas optam por realizarem o próprio serviço de segurança ao cumprir todas as regras estabelecidas pela Polícia Federal). No mesmo mês deste ano, o número chegou a 495.989, uma perda de 30.119 postos de trabalho (- 5,72%).
O perfil ainda é majoritariamente masculino. De acordo com o Anuário, os profissionais do sexo masculino são 89,8% dos trabalhadores ativos, ante 10,2% de mulheres. Cerca de 77% dos vigilantes possuem ao menos o ensino médio completo: ensino médio (73%), superior completo (3%) e superior incompleto (1%). Apenas 23% têm ensino médio incompleto.
No RN, o Sindsegur não sabe precisar o número de filiados que compõem a categoria. Segundo o diretor de comunicação do sindicato, Josenilson Nascimento, há uma alta rotatividade tanto no mercado de trabalho quanto na base da categoria.
“Quase que diariamente são demitidos e contratados vigilantes, vigilantes se aposentam, outros vem a falecer fora a situação do vigilante intermitente que estamos tentando reverter essa situação junto às autoridades, pois é desumano que um trabalhador tenha várias fardas pois atua em várias empresas nos dias e horário designados por essas empresas”, afirma.
Além disso, de acordo com Nascimento, outros filiados deixam o sindicato por descontentamento, por não serem suficientemente politizados para entender o papel da entidade ou por não acompanharem o Sindsegur.
“Por causa dessa rotatividade de entra e sai desses vigilantes de uma forma ou de outra fica difícil precisar um número certo”, diz Josenilson.