Um grupo de profissionais da comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), no Ceará, montaram um abaixo-assinado conjunto em apoio às pesquisadoras que denunciaram terem sido vítimas de assédio sexual e moral cometido pelo intelectual e sociólogo português Boaventura de Sousa Santos.
No abaixo-assinado, que já conta com mais de 160 assinaturas, os membros das duas universidades no RN e CE pedem que a comunidade acadêmica questione o uso dos textos de Boaventura como referência bibliográfica em futuras pesquisas e incentivem o estudo dos autores do Sul Global, termo utilizado nos estudos pós-coloniais para se referir aos países considerados em desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, o grupo defende a discussão do tema assédio sexual e moral em sala de aula e colegiados, como forma de garantir uma melhor gestão de políticas e ambiente saudável tanto dentro, quanto fora das universidades.
O caso
Boaventura de Sousa Santos, que tem 82 anos, foi acusado de assédio por, pelo menos, cinco mulheres, sendo quatro ex-alunas. Uma das vítimas é a brasileira Bella Gonçalves, que atualmente exerce o cargo de deputada estadual pelo Psol de Minas Gerais. Inicialmente, ela fez a denúncia de maneira anônima, mas depois da repercussão do caso, se identificou como uma das autoras.
Boaventura foi suspenso, no último dia 14 deste mês, da direção do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Ele disse que o afastamento foi uma decisão que partiu dele. O sociólogo também nega as denúncias e diz estar sendo alvo de “cancelamento”.
Além de Boaventura, Bruno Sena Martins, de 45 anos, que é investigador do mesmo Centro, também foi afastado da instituição por denúncia de assédio.
Publicação de prestígio

As denúncias contra Boaventura e Martins foram publicadas no artigo “The walls spoke when no one else would”, escrito pela belga Lieselotte Viaene, pela portuguesa Catarina Laranjeiro e pela norte-americana Myie Nadya Tom, ex-alunas do sociólogo português.
O texto, que em tradução livre pode ser lido como “As paredes falam quando ninguém mais pode”, foi publicado numa das editoras de maior prestígio acadêmico, a britânica Routledge, e faz parte do livro “Sexual Misconduct in Academia – Informing an Ethics of Care in the University”, que em português pode ser lido como “Má conduta sexual na academia – para uma ética de cuidado na universidade”, também em tradução nossa.