Com cerca de 25 mil famílias organizadas em seu entorno, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promete um “abril vermelho” com novas ocupações no Rio Grande do Norte para reivindicar a reforma agrária.
As ações fazem parte da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, que busca fazer denúncias e enfrentamento ao agronegócio que, segundo o movimento, “domina a lista suja do trabalho escravo e não produz alimentos para a mesa do povo brasileiro.”
Erica Rodrigues, da direção estadual do movimento, confirmou as ações de ocupações de terras ainda em abril no Rio Grande do Norte, mas disse não saber quantas e quando exatamente começarão.
“São áreas pré-analisadas, estudadas. São latifúndios, áreas improdutivas que não produzem nada. O MST na sua história nunca ocupou pedaço de terra, porque as vezes as pessoas têm medo, tem receio disso, mas o MST ocupa latifúndios, grandes quantidades de terras que estão ali sem produtividade e sem cumprir a função social”, explica.
A própria desapropriação faz parte da Constituição Federal de 1988, defende.
“A Constituição diz que a terra que não cumpra a função social tem que ser destinada para reforma agrária. A terra que pratica trabalho escravo tem que ser destinada para reforma agrária, e daí pode ser terra pública, da União, do Estado, pode ser terra privada, pode ser de empresa de especulação imobiliária”, aponta.
25 mil famílias
Segundo Rodrigues, a organização possui 25 mil famílias no RN, divididas em dois grupos: a maior parte (22 mil) estão em assentamentos, e outras três mil ainda em barracos de lona.
“Os assentamentos já têm a casa, o lote dividido, mas são famílias que nos últimos quatro anos ficaram desassistidas com relação às outras coisas, porque reforma agrária não é só a terra e a casa, são políticas públicas, crédito, financiamento para produção”, defende ela, que critica a postura do governo Bolsonaro frente aos camponeses.
Já entre as famílias acampadas, existem três mil em todo o Estado.
“São aquelas que vivem ainda na situação de barracos de lona. A gente tem no Estado 50 acampamentos, divididos na região oeste, Assú, Baixo Assú, Mato Grande, Trairi, Seridó, essa região de Canguaretama, Montanhas, Potengi”, descreve.
Agronegócio
A dirigente espera que com o governo Lula voltem também as medidas de fortalecimento da agricultura familiar, em contraponto à gestão passada. Nesta segunda (17), cerca de 300 pessoas do movimento fizeram uma marcha da calçada do shopping Midway Mall até a sede do Incra, no bairro de Lagoa Nova, em Natal, para pedir a aceleração dos processos de assentamento.
“Bolsonaro foi eleito em 2018 e em 2019 lançou um memorando cancelando e suspendendo todas as desapropriações de terras destinadas para reforma agrária no Brasil. Todas. Então desde 2019 que não existe nenhuma política, nenhum assentamento destinado para agricultura familiar e para reforma agrária no país e isso é muito sério”, diz ela, que vê uma “contradição” no Brasil.
“Como é que o agronegócio alega que está produzindo, que tem emprego, que o campo tá se desenvolvendo, se a gente voltou para o Mapa da Fome e tem gente desempregada?”, questiona.
“[O agronegócio] é um modelo que não gera emprego porque ele só precisa de máquinas, de veneno, de tecnologia, ele não precisa de gente. Ele precisa da terra para explorar, então não tem como o agronegócio dar emprego porque ele não precisa de gente”.
Produção
Em 2017, o MST se tornou o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Foram 27 mil toneladas produzidas em 22 assentamentos diferentes e envolvendo 616 famílias do Rio Grande do Norte. Nacionalmente, o movimento ainda é referência na produção de leite, uva, suco de uva e até chocolate orgânico, que é exportado para China, França e outros países, de acordo com Erica.
No RN, a produção varia entre mandioca, farinha de mandioca, macaxeira, feijão verde, melão, melancia e outras frutas.