Tradicional encerramento dos finais de semana no Parque das Dunas, em Natal, o projeto Som da Mata é um importante palco da música instrumental potiguar, ao mesmo tempo em que democratiza o acesso a ela. A Agência Saiba Mais conversou com o produtor Marcos Sá sobre a iniciativa que já apresentou cerca de 350 grupos locais ao longo de quase 17 anos.
A primeira edição foi em 2 de julho de 2006. A temporada 2023 começa no próximo domingo (30), com apresentação do grupo Nem Choro Nem Vela, a partir das 16h30. O repertório vai da valsa ao baião, passando por samba e choro.
A iniciativa ocorre com renúncia fiscal municipal graças à Lei Djalma Maranhão e tem aporte financeiro da Unimed Natal, além do apoio da Padaria Hora do Pão e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), administrador do Bosque dos Namorados – setor de uso público do parque.
A entrada para o Bosque, que dá direito a assistir aos shows, custa apenas R$ 1.
O projeto musical nasceu com um convite do então diretor do Idema, Eugênio Cunha, a Marcos Sá, em 2006. A ideia era promover eventos no Anfiteatro Pau Brasil, inaugurado em 2004. Veterano em produção cultural, Sá organiza ainda o Bosque Encena, com atrações infantis, e o Concertos Potiguares, no Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, com a mesma ideia: criar espaço para talentos que não são vistos pela maioria das pessoas.
Confira bate-papo com Marcos Sá:
Agência Saiba Mais: Como surgiu o Som da Mata? Contou com outros produtores?
Marcos Sá: Quando eu voltei dos Estados Unidos para Natal, Eugênio Cunha era diretor geral do Idema e me chamou. Ele sabia do meu envolvimento com produção cultural no Rio, São Paulo, Espanha, em Sevilla, contratado pelo Itamaraty, essas coisas. Fui pros Estados Unidos, fiquei dois anos e meio lá em Miami trabalhando com eventos brasileiros, shows, trabalhei um ano na produção do Brazilian Film Festival de Miami.
E aí Eugênio me convidou, porque o Idema estava promovendo várias atividades e uma delas era o Parque das Dunas que eles criaram o Anfiteatro Pau Brasil. Foi criado o ProEco pra justamente fazer essas ações, Barco Escola, Chama a Maré, a Poética da Terra, que era uma exposição que viajou o estado, nas Casas de Cultura levando fotos dos ecossistemas do Rio Grande do Norte. Foi uma época que aconteceu muita coisa, nessa administração.
Dissemos: vamos ocupar o palco, com o quê? Lógico, a princípio era com música. E eu comecei a sugerir fazer uma coisa diferenciada, com música instrumental. Porque não existia nenhum espaço dedicado à música instrumental na cidade. Em qualquer barzinho tem o pessoal cantando. O pessoal se chateava porque eu dizia ‘os canários têm onde cantar’, mas o instrumentista o pessoal da Escola de Música não.
Nós começamos. Teve gente que dizia que a gente era louco, que não ia dar certo. Como é que dia de domingo final da tarde, quem é que ia sair duma praia ou outro lugar pra ir ouvir música instrumental? Bem, esse ano estamos fazendo dezessete anos. O primeiro show foi de Manoca Barreto, que já nos deixou. E nesses anos, sempre tem uns períodos de recesso.
ASM: Qual a principal marca do Som da Mata?
MS: A principal marca do Som da Mata é ser um espaço para a música instrumental. Nesses dezessete anos a gente nunca abriu mão disso, por mais que várias outras pessoas, artistas locais, quisessem tocar no Som da Mata. Mas se não é música instrumental, não toca. E não importa o ritmo. Já tocou de tudo, de rock a chorinho, samba, pop.
ASM: Diria que é o seu principal projeto atualmente?
MS: O Som da Mata é meu projeto de criação. Eu gosto muito da marca, do nome. Mas eu faço também lá no Parque das Dunas, que vai estrear na próxima semana, o Bosque Encena que é voltado para o público infanto-juvenil. Faz um sucesso enorme, mais do que o Som da Mata. Atrai mais gente. E eu tenho outro projeto, que a gente conseguiu fazer no ano passado com o apoio do Hospital do Coração, que é o Concerto Potiguares, também de música instrumental lá no Parque da Cidade, aquele que tem monumento do Niemeyer. Só que lá é diferente. Lá é mais de câmara. É ar-condicionado, poltronas e tudo. E a gente buscou muito dentro da universidade, os quintetos, quartetos de corda, de violino, de sopro. Esse tipo de coisa em que as pessoas são talentosíssimas e não têm onde se apresentar. Então a gente já está também encaminhando, já foi aprovado na lei. O Hospital do Coração mostrou interessado, já assinou, falta só a burocracia da tributação.
ASM: Teve alguma pausa mais prolongada, por um ano, por exemplo? Como foi na pandemia?
MS: Não. Durante esse tempo nunca passamos um ano sem ter. Na pandemia, a gente conseguiu os apoios, os patrocínios e gravamos. Está lá no YouTube. Não paramos. A única diferença é que não tinha público, mas nós gravamos, editamos e publicamos tudo. A gente gravava nas segundas-feiras, um dia que praticamente o Anfiteatro ou o Parque das Dunas é fechado pro público.
ASM: Quais regras o projeto precisa seguir para montagem do som?
MS: O show começa às 16h30 em ponto. Durante todo esse tempo, a gente foi adaptando porque a princípio seria às 16h, mas aí o sol essa hora está descendo, ficava na cara dos músicos. Às 17h30 acaba, porque às 18h não é pra estar mais ninguém lá no parque. A gente faz a passagem de som a partir de 13h30, com a equipe de som pra montar o palco que varia muito de acordo com o grupo. Quando tem bateria, percussão, essas coisas são coisas mais complicadas, mas às vezes quando é mais sopro e violinos, cordas, é mais simples. Temos o camarim. Eles adoram o camarim. A gente tem apoio da Hora do Pão, que dá um break, tem salada de fruta, tem patês, tem pães, coisas assim. A gente trata bem os músicos.
ASM: Qual a estimativa de público atingido?
MS: A média de público, confortavelmente, sentados, acho que são trezentas pessoas. Lógico que nem sempre fica lotado. Para ter o público de cada ano, eu multiplicaria uns 200 por 30, que é a quantidade de edições por ano, em média.
ASM: Quantas atrações já passaram pelo projeto?
MS: Essa é difícil de responder, porque muitas se repetem. Em média, 350 grupos locais. Alguns já fizeram duas, três vezes. Agora, divulgando a volta, o telefone não para de gente querendo fazer. É um espaço bem legal, democrático. Acho que o grande valor dele é abrir espaço pra esses artistas talentosíssimos. Eu sou mais ligado a essas coisas porque eu tenho uma formação clássica. Com 12 anos de idade eu dei um concerto de piano na Escola de Música. Minha professora era Luísa Maria. Eu não vou gostar de qualquer coisa. Muita coisa que tá fazendo sucesso aí no momento, eu realmente, não consigo entender. Mas cada um gosta do que gostar. O projeto é esse e espero que a gente consiga mantê-lo por muito tempo.