Deterioração da estrutura da rede de ensino, banheiros sem portas, salas de informática sem computadores e problemas no abastecimento de água foram alguns pontos levantados por Rayane Valentim, professora da rede municipal de Ensino de Natal e Alessandro Azevedo, professor do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), durante o Balbúrdia deste terça (11).
Os dois professores também avaliaram a atual política voltada para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Natal. Segundo reportagem publicada pela Agência Saiba Mais, desde 2007 a modalidade tem registrado queda constante nas matrículas, passando de pouco mais de 9 mil para 4.613 em 2021.
“O caos da política para a Educação em Natal começa pela desvalorização do professor. Nós estamos na ponta desse iceberg e encontramos várias situações de desmotivação não só do profissional, mas também do aluno. É a questão da merenda, da desvalorização salarial, da falta de reconhecimento do esforça acadêmico, da falta de estrutura. Na escola onde trabalho, o banheiro passou oito anos sem porta, não tivemos a dignidade de voltar depois da pandemia por problemas na caixa d’água, foram quase seis meses pra Secretaria de Educação resolver isso, tem sala de informática sem computador. Enfim, é quase um planejamento para que se deixe a educação”, critica a professora Rayane Valentim, que faz parte da rede municipal de Educação de Natal.
O professor e pesquisador da UFRN, Alessandro Azevedo, também revelou que identificou em suas pesquisas que problemas semelhantes são enfrentados no sistema de ensino na rede pública do estado e município.
“Na EJA do ensino médio não há uma queda tão acentuada quanto na EJA do ensino fundamental, mas é mais uma demanda espontânea do que resultado de ações. Um jovem, um adulto que queira retomar seus estudos, não é chamado pra isso. Você não vai encontrar um governador ou governadora, um prefeito ou prefeita, uma vez por ano um spot [anúncio] de trinta segundos dizendo ‘ei, venham para a escola que nós estamos aqui e queremos receber vocês’. O que vamos encontrar são grupos de professores mais ou menos comprometidos com a modalidade, interessados em atrair matrículas, abrindo uma faixa na frente da escola, pagando um carro de som para circular no bairro, fazendo uma arte para soltar nas redes sociais. Não é uma política pública, é um improviso”, avalia o pesquisador que apontou, ainda, o fato de nenhuma secretaria de Educação disponibilizar em seus sites informações sobre onde encontrar esse tipo de serviço.
A professora da rede municipal de ensino de Natal ainda fez o alerta do que pode resultar do desmonte de políticas educacionais.
“Toda a educação no município de Natal está ameaçada pela gestão de Álvaro Dias [prefeito de Natal], infelizmente estamos vivendo tempos muito sombrios em relação a diversos pontos. Mas, a EJA, ela clama porque é uma modalidade muito delicada, Alessandro já colocou, são alunos que têm uma estima baixa, que têm vergonha de procurar a escola. Além do desmonte por parte da gestão, a gente encara também a falta de compromisso de gestores do município de Natal com a modalidade EJA. A gente precisa de educadores e gestores mobilizados em continuar essa modalidade. Álvaro Dias acaba produzindo mais alunos pra modalidade diante do quadro de negação na qualidade e acesso para essas pessoas”, aponta a professora Rayane Valentim.
Confira o programa na íntegra: