O Ministério da Educação (MEC) anunciou na terça-feira (4) a suspensão do cronograma nacional de implementação do Novo Ensino Médio no Rio Grande do Norte. Apesar disso, a Secretaria de Educação do Estado (Seec) informou que por hora manterá a “normalidade das atividades curriculares”.
No RN, são 33 disciplinas com títulos que vão desde “A gota serena” até “CSI Escolar: Desvendando mistérios”.
De acordo com a Seec, no primeiro ano os alunos têm aulas de Projeto de Vida e mais duas disciplinas eletivas. No segundo e terceiro ano, entram novamente Projeto de Vida, uma eletiva e uma das Trilhas de Aprofundamento.
Essas trilhas são compostas por um conjunto de seis unidades curriculares com carga horária de duas aulas semanais, podendo envolver uma ou duas áreas de conhecimento. Das 33 trilhas, 12 são de áreas exclusivas e 21 de áreas integradas.
“A gota serena”, por exemplo, está na trilha de Ciências Humanas. O objetivo geral é “aprofundar os estudos e pesquisas associadas ao aproveitamento dos recursos hídricos, bem como o desenvolvimento de meios de enfrentamento e convivência com a seca relacionada às perspectivas socioambientais, políticas e socioculturais.”
Dentro dela, estão as seis unidades curriculares correspondentes a diferentes matérias. Relativa à geografia está “A relação sociedade x natureza: o impacto da seca no mundo do trabalho”. Para história, a “Filmologia das secas”. Em filosofia, se vê “O poder da água enquanto moeda de troca”. A formação em sociologia está relacionada à “Construção das identidades do jovem potiguar”. Um professor com formação em filosofia ou sociologia ensina “Processos hídricos: Trabalho, desenvolvimento e desigualdades”. Por fim, outro docente que pode ser da geografia ou história assume “O sertanejo e o caminho das águas”.
Ao lado de “A gota serena”, há ainda outras disciplinas como “O Corpo Humano como Espaço Político”, “Homo Politicus: Empoderamento Juvenil” e “O preço do progresso”.
Já o “CSI Escolar” busca, como objetivo geral, compreender as técnicas de análise forense. Para isso, as unidades curriculares estudam toxicologia, acidentes de trânsito e “digitais de um crime”, dentre outras.
A professora da UFRN e coordenadora do Fórum Estadual de Educação, Rute Regis, critica o que chama de “concepção vinculada ao mercado” presente nos itinerários formativos.
“Por questões de infraestrutura, por questão da própria quantidade de professores contratados, não são todas as escolas que oferecem os itinerários formativos. Então a escolha do aluno é uma falácia porque, por exemplo, um município que só tem uma escola e lá só oferece um itinerário formativo, o aluno obrigatoriamente vai ter que cursar ele. Não tem escolha. Há uma série de questionamentos que nós fazemos, porque a reforma exclui o estudante e não inclui”, afirma.
Docente do Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação, Regis defende a revogação da reforma. A medida, entretanto, foi refutada pelo presidente Lula nesta quinta (5).
“Não vamos revogar. Suspendemos e vamos discutir com todas as entidades interessadas em discutir como aperfeiçoar o Ensino Médio desse país”, disse.
RN não suspenderá Novo Ensino Médio
Segundo a Seec, a pasta aguarda orientações do MEC em relação à avaliação e reestruturação da política nacional do novo ensino médio.
“Por hora, manteremos a normalidade das atividades curriculares nas 307 escolas de ensino médio da rede estadual de educação, que estão organizadas com o atual modelo de ensino médio”, disse a secretaria.
De acordo com o anúncio do governo federal, estariam suspensos os prazos de implementação nos estabelecimentos de ensino que ofertam o ensino médio dos novos currículos, alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e aos itinerários formativos; o cronograma referente aos materiais e recursos didáticos para o Novo Ensino Médio, via Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); o alinhamento das matrizes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para a etapa, e a atualização da matriz de avaliação do Novo Enem.
A suspensão do cronograma nacional, de acordo com o Ministério, vai durar 60 dias, contados a partir do término da consulta pública promovida pelo MEC para a avaliação e a reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio, instituída em 8 de março.
“O que estamos suspendendo é qualquer avanço na implementação, até que essa comissão defina, avalie, ouvindo a todos, quais serão as modificações, mudanças ou correções que nós faremos no ensino médio”, afirmou o ministro Camilo Santana.
