CULTURA

O Livro dos Sonhos reúne contos e ilustrações do subconsciente de Carlos Peixoto

O diário dos sonhos geralmente é adotado como ferramenta de autoconhecimento, treino cognitivo ou até por misticismo. O jornalista e escritor Carlos Peixoto fez desse hábito um exercício criativo, que pode ser conferido nos contos e nas ilustrações d’O Livro dos Sonhos, à venda na Cooperativa Cultural da UFRN e na Banca Atheneu, em Petrópolis.

O autor antecipa que outros locais, como sebos e a Livraria Manimbu, da Fundação José Augusto, em breve também receberão exemplares. A obra foi recém-publicada pela Ciropédia em parceria com a Offsete Editora, de Ivan Jr, a quem Peixoto agradece pelo carinho pessoal e zelo profissional com edição e impressão.

Sem lançamento festivo, o escritor explica que passa a maior parte do tempo vagando pelas praias do litoral norte, não considera que o livro mereça tanto e afirma não ter mais élan para eventos públicos.

O cenário frequentado aparece em seu novo trabalho: “Há muito das marés, do ambiente marinho que sempre me atraiu nos sonhos e nos desenhos. Mas há sonhos que estão comigo há muito tempo, antes dessa fase perto do mar. Sonhos que foram recorrentes por algum tempo e dos quais ainda me lembro nitidamente.”

Inspirado, talvez, no mistério do sono, não conta sobre outros temas presentes na obra, diz que o próprio leitor vai ter que descobrir sozinho do que tratam os seus sonhos:

“Eles estão em formato de contos curtos, narrativas de sonhos sonhados e anotados nos últimos anos. Sonhos são coisas bem pessoais né? A primeira impressão é que eles só dizem respeito e falam a quem os sonha, mas quando mostrei os textos desse livro a dois ou três amigos, me surpreendi com as leituras feitas e os significados que tiraram deles. Neste sentido, o posfácio da escritora Carmen Vasconcelos, uma das leitoras dos originais, é bem esclarecedor.”

Peixoto descreve a importância dos sonhos, como “as chaves e as portas para conhecermos a nós mesmos” e cita um verso do espanhol Federico García Lorca, com o qual encerra o livro: “virão as iguanas vivas morder os homens que não sonham”.

“Não que eu considere, como os antigos consideravam, que sonhos são sinais proféticos, premonitórios. São, de certa forma, o ‘lado oculto’, no sentido do que não é percebido, não racionalizado, na realidade que nos cerca.”, argumenta.

“In Through The Door Of Perception”, por Carlos Peixoto

Além das 30 narrativas selecionadas, a obra também é composta por desenhos. “São ‘rabiscos de outros sonhos’, como gosto de chamá-los, nada com apuro técnico, em grafite, carvão, aquarela… são rascunhos de imagens, desejos, anseios, lembranças. Desenhar e escrever são duas ocupações que insisto em manter”, diz, ao confessar que conseguiu se dedicar à literatura depois de se aposentar do Jornalismo.

É desse momento que surge a observação mais atenta aos sonhos, assim como o livro.

“Não escreveria este ou outro livro enquanto trabalhava ou se ainda estivesse em redação de jornal. O trabalho jornalístico, como minha geração entendia e praticava, absorvia toda a nossa energia e atenção”, diz, deixando claro que não é impossível a um jornalista que atua na área fazer literatura. “Muitos, melhores, conseguiram escrever. Eu sei que não conseguiria.”

Outro fator foi decisivo nessa intimidade com o subconsciente, a leitura do livro “Oráculo da Noite”, do neurocientista Sidarta Ribeiro. Passou a registrar frequentemente o que vê dormindo.
Antes, anotava esporadicamente fragmentos que considerava interessantes para aproveitar em exercícios de poesia ou prosa. “Muita coisa se perdeu e mais ainda fica, até agora, sem anotações. Tem muito sonho besta que a gente deixa para lá”, confessa.

Também foi deixado em um canto, um romance histórico que Peixoto escreve há mais de vinte anos. A história é ambientada no século XVII, tempo do Rio Grande do Norte holandês, e pode ser o próximo lançamento do autor, que mais uma vez lembra da dificuldade que tinha para tirar da mente os acontecimentos diários, enquanto jornalista, para dedicar-se à produção literária. “Veja como não conseguia conciliar o dia a dia de jornal com literatura. Esse texto está pronto. Consegui terminar este ano. Mas não será lançado, por enquanto.”

Peixoto publicou também “História de Parnamirim” (2003/primeira edição – 2009/segunda edição), o livro de hai-kais “Desejo de ser inútil” (2018) e o romance “Lendas da Revolução”(2021).

Serviço | “O Livro dos Sonhos”
Pontos de venda:
Cooperativa Cultural da UFRN (Centro de Convivência – Av. Sen. Salgado Filho, s/n)
Banca Atheneu (Av. Campos Sales, 393 – Petrópolis)
Preço: R$ 35

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Isabela Santos é jornalista e repórter da agência Saiba Mais