Obra imortal: Prefeito de Natal autorizou reforma na Academia de Letras do RN duas semanas após receber título de honra

A Prefeitura de Natal, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), destinou R$ 200 mil a Academia Norte-riograndense de Letras (ANRL) duas semanas após o prefeito da capital, Álvaro Dias (Republicanos), ser escolhido como sócio de honra da entidade, em julho de 2022. Na última terça (9), Dias foi eleito membro da Academia.

A publicação que comprova o dinheiro destinado à ANRL está no Diário Oficial do Município (DOM) de 20 de julho. O termo de fomento aponta que a parceria foi firmada visando reparos, consertos e aquisição de equipamentos para a Academia. A vigência esteve válida por quase quatro meses, de 21 de julho até 17 de novembro de 2022 mas, segundo a SME, o reparo ainda não foi concluído e se encontra na fase de exame e fiscalização da Comissão de Acompanhamento constituída pela pasta.

De acordo com a secretaria, a contrapartida dada pelo município foi que a Academia abrirá seus espaços para realização de eventos socioeducacionais e culturais destinados aos alunos da rede municipal de ensino de Natal.

Pouco menos de duas semanas antes da Prefeitura dar a verba a ANRL, Álvaro Dias havia recebido a distinção de sócio de honra da entidade em 6 de julho. O documento foi entregue pelo presidente da Academia, Diógenes da Cunha Lima, e outros integrantes da ANRL, no Palácio Felipe Camarão.  

A decisão, segundo informou o site da Prefeitura, havia sido tomada em Assembleia Geral na Academia em 28 de junho e justificada “em razão dos relevantes serviços prestados ao Estado do Rio Grande do Norte e ao Brasil, notadamente, à cultura potiguar''. O reitor da UFRN José Daniel Diniz também foi homenageado com a comenda.

Já em 16 de novembro, um dia antes da data oficial de fim de contrato da Prefeitura, houve uma solenidade de comemoração dos 86 anos da instituição cultural. Lá foi o local em que Álvaro recebeu, oficialmente, a medalha de sócio de honra, a maior honraria da ANRL dada aos não acadêmicos.

Na ocasião, o prefeito fez um discurso e comemorou. 

“É representativo para mim ser agraciado com o título de Sócio de Honra desta instituição quase centenária. Firmes no sentido de cumprir suas funções cultural e social, sem perder de vista sua vocação para a inovação, nem tampouco sua conexão com o mundo e com os propósitos de nossa sociedade nos dias de hoje”.

A data também foi escolhida para que o chefe do Executivo anunciasse a preparação do seu segundo livro, lançado este ano sob o título “A Guerra dos Tamoios e a História não contada do Brasil”.

A obra, disse, foi fruto de uma pesquisa pessoal sobre os povos indígenas que contribuíram com a construção da nação, “mas cuja história permanece invisível à maioria das pessoas”, sentencia o site da prefeitura. 

“Tenho me dedicado ao estudo histórico dos nossos povos indígenas e à relação analítica deles com a nossa sociedade atual”, comentou Dias. 

Já o presidente da Academia de Letras, Diógenes da Cunha Lima, explicou a escolha das homenagens e a contribuição da gestão municipal.

“Elegemos este momento significativo de aniversário da instituição fundada por Luís da Câmara Cascudo para valorizar as figuras singulares pela atenção à cultura. Hoje estamos lembrando essas pessoas de grande valor que honram o estado”, disse.  

“Já temos a confirmação para iniciar a obra de implantação do salão multiuso, um espaço que vai abrigar apresentações de dança, música, teatro, cinema e palestras”, continuou.

Segundo a Secretaria de Educação, a solicitação para a obra teria sido feita pela Academia em 2021, e portanto não teria relação com as homenagens feitas ao prefeito.

Imortal

Na última terça-feira (9), o prefeito foi eleito como acadêmico da entidade, ocupando a cadeira de número 6 que era de João Batista Cabral, falecido em fevereiro. Ele derrotou o poeta e advogado Horácio Paiva por 29 x 9. 

Paiva, de 77 anos, publicou o primeiro poema aos 16 anos, se formou em Direito na UFRN, foi presidente do Sindicato dos Bancários do Estado, ajudou a formar outras entidades sindicais em pleno fervor da ditadura e lutou contra o regime militar.

Tem três livros solo: “Navio entre espadas”, publicado em 2002; “A torre azul”, lançado em 2012, e “Caderno do Imaginário”, de 2017. Figura ainda como um dos autores do livro de crítica cinematográfica “Clarões da tela – O cinema dentro de nós”, publicado em 2006.

Tem ainda em preparo, também de poesias, os livros “Sou de Deus  –  33 poemas de inspiração religiosa” e “Navio azul imaginário – Poemas selecionados”, além de ”Encontro com a poesia” (uma antologia da poesia universal, com notas críticas, segundo define) e “Gamboa das barcas – Retratos da memória”. Há, ainda, uma dezena de inclusão de textos em outras publicações, desde livros de antologias a publicações em jornais e revistas do RN, do Brasil e até do exterior.

Já Álvaro Dias possui duas publicações. Além da obra sobre a Guerra dos Tamoios lançada em março, é autor de "O Que Tenho a Dizer", coletânea lançada no ano passado com alguns dos seus discursos proferidos ao longo de sua trajetória política.

Buscamos o presidente da Academia, Diógenes da Cunha Lima, que não atendeu nem retornou nossas ligações e mensagens.

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