Racismo: “Só não me matei porque fui criado nas ruas”, desabafa fotógrafo preto que teve foto divulgada como bandido em Natal
Natal, RN 20 de abr 2024

Racismo: “Só não me matei porque fui criado nas ruas”, desabafa fotógrafo preto que teve foto divulgada como bandido em Natal

23 de maio de 2023
Racismo: “Só não me matei porque fui criado nas ruas”, desabafa fotógrafo preto que teve foto divulgada como bandido em Natal

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Se o caso de racismo contra o jogador de futebol Vini Jr, brasileiro que atua pelo Real Madrid, mobilizou a indignação de muita gente, entre autoridades e celebridades, o mesmo não aconteceu com o fotógrafo natalense Diogo Mãozinha, que em dezembro de 2020 descobriu que sua imagem, captada por câmeras de segurança no bairro de Petrópolis, área de classe média alta da capital potiguar, estava circulando em grupos de whatsApp nos quais ele era apontado como suspeito de tentar assaltos na região.

Como homem preto e morador de uma área considerada periférica de Natal (RN), o bairro de Mãe Luíza, o medo foi de ser confundido pela polícia como assaltante. O caso teve repercussão nacional. Mesmo assim, Mãozinha continua aguardando, até hoje, o julgamento do processo ao qual deu entrada na Justiça.

Fico triste e ao mesmo tempo revoltado com a falta de resposta. Estou cansado de tantas notas. Imagine que isso aconteceu com ele, que é forte. Meu caso nem audiência teve. Ainda tenho medo de locais com câmera e muita gente. Também não consigo ver documentários de conteúdo racial que começo a chorar”, lamenta.

Print de vídeo postado por Vini Jr contra o racismo
Print de vídeo postado por Vini Jr contra o racismo

Além de lutar contra o racismo, em decorrência desse episódio, Mãozinha segue lidando com uma série de traumas que resultaram num bloqueio criativo. Desde então, ele tem feito apenas trabalhos como segundo fotógrafo, sem conseguir fazer ensaios de sua autoria.

Nesse período também passei por uma separação conturbada porque acabei criando uma dependência emocional devido ao fato e isso me destruiu. Vi pessoas dizendo que a culpa era minha, que eu só queria dinheiro, fama... só não me matei porque fui criado nas ruas. Mano, eu rodei a Europa dançando ballet, já estive em alguns dos maiores festivais e nunca sequer postei”, desabafa Mãozinha.

O caso Vini Jr

Diogo Mãozinha I Foto: reprodução
Diogo Mãozinha I Foto: reprodução

A pressão é muito maior no caso dele, que recebe muitos bombardeios. Mas, não acredito q a Liga vá fazer nada pelo fato de que parte do público é racista, consciente ou inconscientemente. No meu caso tentaram minimizar, disseram que não era para tanto. Sempre tem uma justificativa para o racismo, seja aqui ou na Europa, por isso acho que não vai acabar. Haverá algumas notas, alguns presos, mas quem realmente fortalece o racismo não será punido”, avalia o fotógrafo potiguar.

Relembre a história...

Além de fotógrafo, Mãozinha é cinegrafista, editor de vídeos publicitários e bailarino. Ele tinha acabado de voltar de uma viagem de trabalho na Suíça quando foi trocar dinheiro numa casa de câmbio por volta das 12h do dia 08 de dezembro de 2020.

Como teve dificuldade para encontrar o estabelecimento, ao longo do caminho, Mãozinha entrou numa clínica e numa ótica para pedir informação. Foi só ao voltar para casa no bairro de Mãe Luíza, à noite, que ele descobriu que sua imagem, captada por câmeras de segurança dos estabelecimentos nos quais entrou, estava circulando como suspeito de tentar assaltos no bairro de Petrópolis.

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