Viver bem: Lideranças da América Latina se reúnem em Natal para debater feminismo e democracia
Natal, RN 23 de abr 2024

Viver bem: Lideranças da América Latina se reúnem em Natal para debater feminismo e democracia

25 de maio de 2023
Viver bem: Lideranças da América Latina se reúnem em Natal para debater feminismo e democracia

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“Feminismo é território anti-racista”, “Feminismo é território de luta”, “Feminismo é território de vida”, “Feminismo é território de conquista”! Com esses lemas, mulheres do Rio Grande do Norte e de várias partes do Brasil foram recebidas na noite de quarta-feira, dia 24 de maio, no La Luna, espaço de resistência LGBTQIA+ localizado na Praça da Guerreira, no bairro de Neópolis, em Natal.

Esse público diverso foi chegando e se reunindo em roda para escutar atentamente lideranças feministas de vários países da América Latina que vieram a capital potiguar debater o contexto atual do feminismo latino-americano e os desafios democráticos que a região vive.

O diálogo “Feminismo e Democracia na América Latina: nossa luta em comum” foi aberto ao público e contou com a participação de feministas do Paraguai, Chile, Colômbia, Peru, Argentina, México e Brasil. O evento foi a atividade de abertura do Seminário “Travessias feministas destes tempos: a história, a práxis no presente e as utopias”, organizado pela ONG brasileira SOS Corpo — Instituto Feminista pela Democracia e a paraguaia Centro de Documentación y Estudios (CDE).

O encontro também foi o espaço de lançamento da campanha “Feminismo: território de vida”, encabeçada pelas mesmas organizações, cujo objetivo é difundir os valores positivos da luta feminista, suas conquistas para toda a sociedade e sua relação com o viver bem. 

“O feminismo nos salvou e nos salva. A luta nos dá otimismo, alegria, nos valoriza em nossas vidas individuais e coletivas”

Paraguaia Myrian González, do CDE, ao apresentar a iniciativa.

A roda de conversa foi um momento de troca de experiências, de esperanças, mas também de “desassossegos” sobre a região, como afirmou Analba Brazão, da SOS Corpo. As mulheres compartilharam um cenário comum de crise política e social, de polarização, de avanço da direita neofascista, de golpes de estado, de violências de gênero, e de uma esquerda também patriarcal, que rifa os direitos das mulheres e impede o avanço de uma agenda feminista.

Foto: Debora Guaraná / SOS Corpo

Em sua fala, a paraguaia Clyde Soto, do CDE, afirmou que o feminismo está no centro das lutas históricas pela democracia em todo o mundo.

“Nossos países já nasceram excludentes para as mulheres. Surgiram como Repúblicas sem que as mulheres pudessem votar”, afirmou a feminista, que destacou a presença das mulheres nas lutas sufragistas e também na defesa da democracia durante as ditaduras presentes nos países latino-americanos.

 Segundo ela, a democracia nasceu na América Latina cheia de vazios, de ignorâncias e exclusões.

“A democracia que existe não é aquela que sonharam e sonham as feministas”.

Paraguaia Clyde Soto, do CDE

Ela concluiu apresentando que é papel do movimento feminista defender a democracia, mas outra democracia, mais inclusiva. “Nós feministas devemos apresentar alternativas de aprofundamento da democracia”, disse a paraguaia.

Pela 1ª vez no Chile, mulheres participam da elaboração da Constituinte

Foto: Lilian Souto/CDE

Sobre essas ausências citadas por Clyde, a chilena Maria Francisca Pérez Prado, do La Morada, relatou que o processo de constituinte do Chile em 2021 marcou a primeira vez em que mulheres puderam participar do processo de escrita da Constituição do país. Já Liz Ivett Melíndez López, do Flora Tristã, afirmou que o Peru tem atualmente sua primeira presidenta, mas que isso não representa avanço social, pois a governante chegou ao poder via golpe e está associada à extrema-direita. A peruana discute que não basta ser mulher, é preciso estar atrelada à luta das mulheres e à defesa da democracia.

Sobre os avanços no sistema democrático, a mexicana Liydia Daptnhe Cuevas Ortiz, do Equidad de género, ciudadanía, trabajo y família, relatou que, fruto da luta das mulheres, há paridade no Congresso do México.

Em seu momento de fala, a argentina Mariana Soledad Pérez, da organização Ciscsa: Ciudades Feministas, trouxe a descrença da democracia pela juventude e reforçou ser preciso “imaginar outros mundos possíveis, outros sistemas democráticos, que sejam mais interessantes e mais igualitários”.

A colombiana Beatriz Quintero Garcia defendeu a necessidade de falarmos em feminismos, no plural:

“Há os feminismos de nossas ancestrais e também os feminismos das mais jovens, que precisamos entender. Somos muitas, mulheres negras, indígenas, campesinas, trans e tantas outras”.

Ao falar do cenário do seu país, que vive historicamente conflito entre guerrilhas com forte presença do narcotráfico, Beatriz afirmou que “o feminismo é essencial para construção da paz, pois queremos uma paz comprometida com a igualdade e a liberdade”. Ela conclui que essa paz também só é possível com uma democracia verdadeira, radical.

Não há democracia sem direito ao aborto, diz feminista brasileira

Um debate corrente durante a noite foi sobre os direitos reprodutivos. Elisa Aníbal, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), defendeu que “não há democracia sem o direito ao aborto, sem o respeito à autonomia dos corpos e da vida das mulheres”. Nesse sentido a colombiana Beatriz Quintero Garcia destacou a conquista recente do país de descriminalizar o aborto até a 24ª semana de gestação no ano passado.

Conquista também mencionada pela argentina Mariana Soledad Pérez. O país legalizou o aborto em 2020 e permite a interrupção voluntária da gravidez até a 14ª semana de gestação. Mariana falou sobre como o acesso a esse direito foi fruto do convencimento da sociedade sobre a importância das mulheres decidirem sobre suas vidas.

A brasileira Elisa Aníbal reiterou que as feministas querem uma democracia “que não abandone nenhum segmento” e que “não há democracia sem feminismo, porque sem feminismo não há transformação social”. As mulheres gritaram em coro “A América Latina vai ser toda feminista”, em resposta uma disse em alto e bom-tom: “Já é!”.

Para quem estava na roda, "o evento foi potente demais. Conhecer a realidade dos países vizinhos nos mostra o quanto precisamos nos unir”. A afirmação parte de Gilliard Laurentino, do Cedeca Casa Renascer, um dos poucos homens presentes no local.

Patrícia Carvalho, do movimento potiguar Amélias — Mulheres do Projeto Popular, disse que o evento fortalece as mulheres, pois “percebemos que estamos juntas e na mesma luta com um leque de pautas que envolve nosso cotidiano. Lutar pela nossa liberdade é também um ato prazeroso, como disse uma companheira durante a noite!”.

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