Uma das medidas aguardadas pelo Governo Lula é a reativação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, desmantelada na gestão Bolsonaro. A retomada da Comissão estava no discurso de posse do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida. No entanto, até agora a iniciativa não saiu do papel.
“A resposta que o ministro nos deu em 28 de março foi de que o decreto já está pronto e o presidente Lula aguarda uma oportunidade política”, revelou Leo Alves Vieira, entrevistado do Balbúrdia desta quarta (28).
Leo é neto de Mário Alves de Souza Vieira, desaparecido político desde 1970, depois de ser preso e torturado nas dependências do DOI-CODI do Rio de Janeiro.
“A sociedade não aguenta mais esperar, são pessoas que estão com a idade avançada, são gerações que estão partindo. Minha mãe, por exemplo, já está com 75 anos de idade e até hoje busca o corpo do meu avô e, por consequência, eu sigo buscando o corpo dele. Gostaria muito que minha mãe pudesse ver justiça em vida em relação ao pai dela, o Mário Alves de Souza Vieira. Para quem não conhece, é desaparecido político desde 1970, foi preso, torturado e desapareceu no DOI-CODI do Rio de Janeiro”, apela.
Durante o programa, ele também comentou sobre a fragilidade da democracia brasileira, tutelada pelas Forças Armadas, o que se reflete na demora para a retomada da Comissão.
“Essa oportunidade política que o governo espera para reinstalar a Comissão parece esbarrar num problema central no Brasil neste momento, e desses últimos anos, que é a tutela militar. Fica evidente que essa oportunidade política trata-se de um cuidado ou receio do governo de mexer com os interesses dos militares de alguma forma”, avalia.
A falta de memória e de consciência política da sociedade, de uma maneira geral, também se reflete no Brasil de hoje, marcado por um falso patriotismo.
“Óbvio que nunca foi de interesse das forças armadas brasileiras abrir arquivo dos mortos políticos, presos e torturados da ditadura militar. Nunca foi de interesses reconhecer esse passado violento do Exército e das Forças Armadas brasileiras porque, simplesmente, não dão satisfação para a sociedade”, critica Leo Alves Vieira.
Alternativas?
Quando questionado sobre possíveis ações e medidas alternativas para lidar com a questão da falta de memória sobre a ditadura militar no Brasil, Leo Alves sugeriu algumas iniciativas e a observação do que aconteceu com países que passaram pelo mesmo processo.
“Campanhas institucionais é uma obrigação de qualquer governo, mas a sociedade também precisa ter iniciativa. Podemos ver, como inspiração, o que ocorre em outros países. Na Argentina, por exemplo, a sociedade tomou para si essa pauta, não é só dos familiares e do governo. Há vários movimentos da sociedade civil que levantam esse debate, as Avós da Praça de Maio, as Mães da Praça de Maio, os Hijos… Todo mundo sabe o que aconteceu na ditadura Argentina, não só familiares!”, relata Leo, que ainda citou ações dos governos Kirchner, além da condenação de mais de 300 torturadores como exemplo de ações efetivas.
Confira a entrevista:
(102) Combate à tortura e ao passado autoritário: entrevista com Leo Alves Vieira – YouTube