O Hospital Municipal Pediátrico Nivaldo Júnior, inaugurado em outubro de 2020, encerrou as atividades na segunda-feira (12). A unidade, localizada na Avenida Jaguarari, Candelária, ocupava o lugar do antigo Hospital de Urgência Pediátrica Dra. Sandra Celeste.
Inaugurado com 41 leitos, o hospital estava com 36 leitos, sendo alguns de neonatal e outros leitos clínicos de pediatria para internamento e tratamentos especializados, contando com atendimento infanto-juvenil de saúde mental. A unidade homenageava Nivaldo Junior, pediatra, ex-presidente da Sociedade Potiguar de Pediatria (Sopern) e ex-diretor do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed RN), vítima da covid-19 em 1º de julho de 2020.
“A gente entende que a gestão Álvaro Dias é uma gestão assassina. É um descaso com a saúde, com a população.”, declarou a presidente do Conselho Municipal de Saúde de Natal, Ana Maria Evangelista.
Em novembro de 2021, os servidores já denunciavam que o prefeito Álvaro Dias (PSDB) tinha intenção de acabar com o serviço. A Secretaria Municipal de Saúde negou, mas admitiu que a intenção da Prefeitura é remanejar o atendimento, fazendo um grande complexo hospitalar no Hotel Parque das Costeira enquanto o novo Hospital Municipal de Natal é construído, sem data para a mudança.
De acordo com informações repassadas ao Sindicato dos Servidores da Saúde do Rio Grande do Norte (Sindsaude/RN), 35 leitos serão remanejados para a Maternidade Araken, que além dos atendimentos obstétricos abriga também uma UTI Adulto, atendimento clínico e setor ortopédico. Pacientes internados foram transferidos nesta terça-feira (13) e outros receberam alta pra serem tratados em casa.
“Agora será sobrecarregada, mais uma vez, com a demanda oriunda de um serviço fechado de maneira irresponsável pela Prefeitura de Natal.”, apontou a entidade dos trabalhadores, em nota.
“Vale ressaltar, que Álvaro Dias segue praticando sua política de desmonte e sucateamento dos serviços públicos de saúde de Natal. Além do fechamento do hospital pediátrico, a gestão do prefeito também é responsável pelo fechamento arbitrário do Hospital Municipal de Natal, Unidade Mista do Satélite e tantos outros serviços essenciais que foram retirados da população natalense na surdina.”, alertou o Sindicato.
O vereador de Natal Daniel Valença (PT) esteve no local na manhã desta terça e acompanhou a retirada dos equipamentos. “Nós representamos ao Ministério Público da Saúde, também à Promotoria da Infância e da Juventude e vamos sim lutar até o fim na defesa dos direitos dessas crianças e adolescentes e dos profissionais de saúde que atuam no hospital”, avisou o parlamentar.
Em vídeo divulgado pelo mandato, o assistente social e vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde, Marlon Gutemberg, disse que os servidores foram avisados na segunda sobre o fechamento para “reforma”.
“Ao perguntar pra representante da Secretaria se retornariam os pacientes depois da reforma, foi informado que não. A reforma está sendo realizada para a devolução do prédio. Enquanto isso, os pacientes que estão sendo tratados aqui serão admitidos na Maternidade Araken, que se tornará uma materno-infantil. Irão misturar crianças com doenças respiratórias, pneumonia, bronquiolite, junto com recém nascido em uma estrutura hospitalar que já é conhecida pela sua precariedade”, denunciou o assistente social, lembrando que há problemas nos elevadores e partos já ocorreram em escadas.
“Está sendo desmontado um serviço de saúde e essas vagas não serão mais disponibilizadas no Regula. O prefeito Álvaro Dias está desmontando a saúde pública de Natal possivelmente pra que justifique a sua privatização”, completou Marlon.
Na próxima quinta-feira (15), às 15h, haverá uma reunião do Conselho Municipal de Saúde para debater, dentre outras pautas, o fechamento do hospital infantil e da Unidade de Saúde da Família, no Planalto. Os dois equipamentos foram fechados em menos de um mês. A reunião é aberta ao público e será realizada no Sindicato dos Servidores Municipais de Natal (Sinsenat).
A presidente do Conselho Municipal de Saúde de Natal, Ana Maria Evangelista, lembra que ao fecharem o Hospital Municipal de Natal foi dada a justificativa que seria aberta a unidade infantil de referência, que agora não existe mais.
“O pior disso é que as coisas acontecem na surdina e de forma recorrente. É a segunda unidade que fecha da mesma forma, a exemplo da USF do Planalto. Não notificou o Conselho e desassistiu mais de 10.700 usuários”, denunciou.
“Os trabalhadores em saúde e a população em geral estão doentes, com o psicológico abalado. Hoje eu estive presente em cenas de mães agarrando seus filhos sem saber pra onde iriam porque sabem que na Araken não tem lugar. Quando adoece o psicológico o resto do corpo vem junto. Isso dói. Não doer em uma pessoa que está na gestão e é um médico, não consigo entender. É difícil você ver isso e não se emocionar, não sentir o que aquelas mães e profissionais estavam sentindo.”, lamentou Ana Maria.
A Secretaria Municipal de Saúde de Natal não respondeu aos questionamentos da Agência Saiba Mais.