Passados cinco meses e meio desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu um novo mandato na Presidência, parte dos cargos federais no Rio Grande do Norte seguem vagos. Um dos motivos é a negociação do governo com o União Brasil, com implicações para o RN.
Para tentar consolidar a governabilidade, uma das táticas é a distribuição dos cargos federais nos Estados aos aliados. No RN, o União Brasil deixou seu nome para a superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf): o do ex-prefeito de Assú e ex-secretário Ivan Jr.
No ano passado, Ivan foi candidato a vice-governador na chapa oposicionista encabeçada por Fábio Dantas (Solidariedade), que contou com o apoio do ex-ministro e senador eleito Rogério Marinho (PL).
A sua indicação para a Codevasf também causou tensão por declarações públicas do ex-prefeito em que relacionou Lula à corrupção.
“O governo de Lula [foi um] desastre de governo, foi um desastre o governo de Dilma”, já afirmou em uma entrevista de 2022.
“O governo continua tentando atrair pessoas e uma razão a gente sabe: o União Brasil é um dos motivos dessas tensões que a gente têm tido com as indicações que a gente tenta fazer sobre a criterização dos indicados”, afirmou o presidente estadual do PT, Júnior Souto.
Como são feitas as indicações
Até chegar ao estágio final da nomeação, todas as indicações para os cargos federais nascem nos seus próprios Estados. No Rio Grande do Norte, foi formada uma comissão composta pelo PT, pelas representações dos mandatos federais (de Fernando Mineiro e Natália Bonavides) e do Governo.
Esse grupo foi o responsável por conversar com os aliados e reunir todos os indicados em uma planilha que foi submetida depois para apreciação do governo federal. Mesmo com o desgaste de Ivan Júnior, o presidente estadual do União, José Agripino, esticou a corda e manteve a indicação do assuense.
De acordo com Júnior Souto, a demora para as nomeações tem ido além do esperado.
“O que assusta a gente é que nós estamos navegando no mês de junho em um processo de nomeação que a gente imaginava que no máximo ia ser resolvido em 30 dias. O processo de negociação da Mesa Nacional tem atrasado porque as concessões estão sendo feitas pensando de modo muito obstinado, focado, na busca da maioria na Câmara e no Senado”, afirmou.
Até mesmo a comissão estadual não tem se reunido há mais de um mês, já que todos os nomes foram levados para Brasília e as negociações têm sido tocadas diretamente pelo Planalto.
“A comissão não tem se reunido porque não cabe à gente sentar para liberar. A gente já fez o mapa a meses e meses, mandou para lá e a lentidão às vezes nos incomoda fortemente”, lamentou o líder petista.
União
Hoje, o União Brasil é comandado no Estado pelo ex-senador José Agripino e possui três ministérios em Brasília: o da Integração e Desenvolvimento Regional, com Waldez Góes; do Turismo, com Daniela do Waguinho, e das Comunicações, com Juscelino Filho.
Góes, oficialmente, ainda é filiado ao PDT, mas há um acordo para que se filie ao União e por isso entrou na cota do partido. O caso mais delicado, atualmente, é o de Daniela do Waguinho. A ministra acumulou desgaste desde o início da gestão por denúncias de ligação com milicianos e atualmente tem costurado a ida para o Republicanos.
A saída do União, portanto, tem levado a direção nacional da legenda a requerer a exoneração de Daniela e a entrada de outro nome do partido. Segundo Tales Faria, colunista do UOL, quem deve assumir a pasta é o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA).
Na busca de Lula pela construção de uma maioria no Congresso, o União é visto como legenda importante. Hoje, a sigla tem nove dos 81 senadores. Na Câmara, possui a terceira maior bancada com 59 deputados, atrás apenas do PL e PT.