Algumas escolas têm optado por contratar plataformas digitais para trabalhar literatura com seus alunos. As empresas disponibilizam, entre outras coisas, acesso a milhares de obras literárias a baixo custo.
Ocorre que os valores irrisórios pagos às editoras que enviam seus livros inviabilizam essa parceria. Para se ter ideia da questão, um contrato avaliado por esta escritora estipula que, para cada 100 acessos de leitores, a plataforma paga à editora o equivalente a 50% do valor de capa de um único livro.
Se o autor só ganha 10% desse valor (percentual que a editora repassa ao escritor como direito autoral), imagine quanto o profissional que deu vida àquela ótima história receberá por isso. Para grandes editoras, que representam escritores conhecidos no mundo inteiro, esse contrato é rentável, mas para as pequenas editoras brasileiras, não.
Em um tempo cada vez mais tecnológico precisamos defender gente de carne e osso. Uma pequena editora contrata pessoas (escritores, ilustradores, revisores, diagramadores etc.) e imprime seus livros em gráficas que contratam outros trabalhadores. Muitas fecharam as portas na pandemia, mas as que resistiram continuam a enfrentar um cenário desafiador, em parte relacionado à entrada nas escolas de empresas que oferecem livros como quem faz uma pechincha.
O fato de o livro ser digital parece uma vantagem em relação à preservação ambiental e atrai pais e educadores bem-intencionados que consideram a tela dos chamados e-readers muito melhor para quem se preocupa com o meio ambiente. Será? Leia esse trecho da matéria publicada pela ECOA UOL em 2021:
“No Brasil a produção de papel não causa a destruição de florestas, uma vez que produtos de celulose e papel são fabricados exclusivamente com madeira de reflorestamento….”.
“Um relatório da Green Press Initiative (GPI), organização não governamental que analisa o impacto ambiental da indústria editorial, aponta que os benefícios do e-reader se tornam maiores de acordo com o número de livros baixados pelo usuário. Se o leitor, por exemplo, consumir até 30 livros impressos ao longo de um ano, haveria menor impacto, o que desestimularia o uso do livro digital. Já se houvesse a leitura de 60 a 90 títulos por ano, os e-books apresentariam maior vantagem em termos de sustentabilidade”.
“…É preciso ter em vista que, assim como a indústria gráfica, a produção de e-readers também demanda recursos como água e energia elétrica, além de emitir gases do efeito estufa na atmosfera.
“Ainda segundo a Green Press Initiative, enquanto a produção de um livro emite cerca de 4 kg de gases nocivos à atmosfera, um e-reader como o Kindle, da Amazon, emite 168 kg desses gases ao longo de seu ciclo de vida. “Tudo isso precisa ser levado em conta. No caso do livro digital, alguns estudos estimam ainda que a vida útil de um aparelho seria pouco mais de 4 anos”, destaca a gerente de Comunicação do Instituto Akatu, Bruna Tiussu”.
“No caso do livro impresso, a vida útil do produto poderia se estendida com o compartilhamento ou a doação do item a bibliotecas, por exemplo. Embora possam ser reciclados, nem sempre os produtos eletrônicos chegam a ter componentes reaproveitados. “Em 2019, apenas 3% de 2 milhões de toneladas desses resíduos foram recicladas”, estima a gerente de comunicação do Instituto Akatu, que acredita que essa baixa adesão se deve ao desconhecimento da população sobre a destinação final desses produtos”.
Um escritor é uma pessoa. Ele tem uma vida e dedica grande parte dela à criação de histórias que emocionam, ensinam e enriquecem seus leitores. Se é verdade que amamos os livros, precisamos cuidar dos autores com o mesmo carinho. Lembre-se disso quando a escola em que seu filho estuda ou onde você trabalha planejar seu ano literário. Participe desse debate e lute por nós.
Ana Cláudia Trigueiro: natalense, psicóloga e escritora profissional há 15 anos. Publicou 11 livros, a maioria voltada para o público jovem. Tem prêmios literários no currículo, obras adotadas em instituições de ensino do estado e participação em eventos sobre literatura realizados por instituições voltadas à promoção da leitura e à formação de novos leitores. Suas obras podem ser encontradas nos sites da Amazon, da Editora CJA e da M3 Editora. Você também pode comprar os livros diretamente com ela pelo Instagram: @anaclaudiatrigueiro