Na tarde desta segunda (28) foi realizada uma audiência que foi considerada pelos organizadores de eventos de hip hop a primeira resposta a um caso de agressão policial contra o movimento. Diante da repercussão negativa causada pela agressão de um policial militar a um jovem que participava de uma batalha de hip hop de Mc’s no Conjunto Gramoré, na Zona Norte de Natal, nesse último sábado (26), o Governo do Estado reuniu o alto escalão de diferentes secretarias para viabilizar uma resposta rápida e eficiente para o caso.
“Reunimos os comandos de policiamento, inclusive, o comando do próprio Batalhão responsável pelos policiais envolvidos no caso. Sem dúvida [o caso] será apurado. A Secretaria de Segurança Pública não tolera desvio de conduta dos policiais, que devem trabalhar e atender aos cidadãos. Quando ele está numa atividade cultural, ele não está fazendo uma ação contrária ao policial, então, estamos aqui para dirimir todas as dúvidas e fazer a apuração”, adiantou o Secretário de Segurança Pública, o Cel. Francisco Araújo.
Além da Secretaria das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (Semjidh), Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) e da Corregedoria e Ouvidoria da PM, também estiveram presentes na audiência realizada na tarde desta segunda (28) a Secretaria Extraordinária de Cultura, representantes da Cooperativa de Batalhas, os mandatos da vereadora Brisa Bracchi (PT) e da deputada federal Natália Bonavides (PT), além de alguns coronéis, dentre eles, o comandante do 4º Batalhão, responsável pela área do Gramoré, onde ocorreu a agressão.
“É um marco na vitória do hip hop do Rio Grande do Norte. Essa é a primeira vez que temos um caso relatado publicamente que vai ser apurado. Foi uma coisa grande, nos reunimos com o secretário geral de Segurança e tivemos apoio de muita agente, além de outros movimentos. Danço break desde 2007 e já sofríamos esse tipo de violência, que é decorrente de outras manifestações culturais. As batalhas trazem esse histórico de repressão e violência policial. Nunca tinha ocorrido uma mobilização desse tipo, inclusive a nível nacional”, avalia Aleson da Cruz, produtor Batalha Clandestina.
Durante o encontro foram acertados três pontos:
1º: a celeridade na apuração e punição dos agentes que exerceram abuso de autoridade na Batalha Clandestina, garantindo a segurança das vítimas e testemunhas;
2º: formulação coletiva de uma Nota Técnica que influenciará nos procedimentos da PM-RN em relação às batalhas, garantindo os direitos humanos;
3º: e a publicação de uma cartilha para orientar os policiais durante as abordagens.
“A celeridade é importante poque algumas testemunhas foram ameaçadas, tiveram fotos divulgadas em grupos, os policiais sabem o endereço de algumas pessoas e foi pedida medida protetiva nesses casos. Elas começarão a ser ouvidas nos próximos dias. A nota técnica é importante para dar garantias de segurança durante as batalhas, sem abuso, repressão ou censura, para que os policiais entendam aquilo como uma roda cultural, não de vagabundos ou, como alguns costumam dizer, de pessoas que não têm o que fazer”, aponta Aleson.

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Durante a reunião também ficou acertado que a Secretaria Extraordinária de Cultura vai incluir as batalhas de hip hop na Lei Paulo Gustavo, para que elas sejam incluídas no circuito cultural da cidade.
“Outras coisas acertadas porque esse também foi um encontro político. A secretária se prontificou a ver a inserção na lei Paulo Gustavo. É um ganho não só social, mas também cultural e político. Vamos ser inseridos nesse circuito da elite cultural da cidade e, com isso, vamos ter mais visibilidade. Os mandatos se comprometeram a inserir batalhas nas pastas da Câmara Municipal na tentativa de facilitar o acesso a patrocínio”, comemora Aleson, que era o mestre de cerimônia da Batalha Clandestina desse último fim de semana, interrompida pelos policiais.
O evento era uma das 16 seletivas que serão realizadas em 11 municípios do Rio Grande do Norte para a final nacional que será realizada em novembro, em Minas Gerais. Até agora já ocorreram cinco batalhas, nas cidades de São Gonçalo do Amarante, Caicó e Natal. A sexta está programada para esta terça (29), na Praça Muriaé, no bairro Pajuçara. Será a primeira vez que a disputa voltará a acontecer depois da agressão desse final de semana.
“A final terá 16 classificados, de onde sairá o MC que representará o RN em novembro em Minas Gerais. O vencedor disputará sul-americano, que vai disputar o mundial. Também teremos o 1º Congresso Estadual de Batalhas do país no RN. Fechamos parceria com a Secretaria Extraordinária de Cultura”, detalha Aleson.
O jovem que foi vítima da agressão policial, assim como os integrantes do movimento hip hop do Rio Grande do Norte, recebeu apoio de rappers conhecidos nacionalmente, como MV Bill. O grupo Batalha Clandestina, organizador das seletivas no RN para a final nacional da batalha de Mc’s também lançou uma nota de repúdio, além da hashtag #EsseTapaFoiEmMim.
“Mais uma né? Sabe o que eu aprendo com isso? Aprendo muito mais do que ser MC. É questão de humanidade, de se colocar no lugar. Não é mais sobre ser livre, mas sobre livrar. Não é sobre estar seguro, mas sobre assegurar. Entre tantas situações, é fácil para você que não estava lá fala: eles só estavam fazendo seu trabalho… A gente precisa, realmente, deixar de sobreviver e passar a viver. O hip hop grita isso”, improvisou Aleson na saída do encontro de hoje.
Confira a nota de repúdio:
Está acontecendo o Duelo Nacional de Mc’s, maior competição de freestyle do Brasil que envolve sonhos de milhares de artistas. Aqui no RN, estamos vivendo esse processo e ontem (26/08/2023), na 4ª pré-seletiva do estado sediada pela Batalha Clandestina (Zona Norte de Natal), o evento foi interrompido por violência policial.
Com uma programação diversa de muito Hip Hop, um público que continha jovens, crianças e mulheres – inclusive grávidas, o evento estava sendo transmitido ao vivo do começo ao fim nas redes sociais. Mas foi interrompido pela abordagem da polícia militar, que não se conteve em fazer seu trabalho e partiu, de forma totalmente arbitrária e autoritária, para agressão contra um companheiro artista que, nessa noite, se apresentou com um pocket show de Rap.
A polícia chegou às 22h30 no local revistando quem estava presente quando estava acontecendo a 2ª fase da batalha. A organização parou o evento pois eles queriam saber a quem pertencia uma mochila e ninguém sabia, o policial totalmente autoritário passou a perguntar uma jovem que estava no local para saber sobre a mochila e o artista em questão que aparece no vídeo, diz apenas um “Oxe” e foi o suficiente para eles agredirem o artista com um tapa na cara. Após a agressão ao artista, um policial tentou dialogar e ao ver o DJ gravando mandou parar, puxaram o DJ para um canto afastado, fora do foco da Live e ameaçou o DJ, tirou fotos e fez perguntas abusivas ao mesmo.
Infelizmente essa é uma realidade corriqueira nas batalhas de Mc’s do RN. Há muito tempo as batalhas sofrem com abuso de autoridade e violência policial. Fora dos nossos “palcos”, a agressão é ainda maior e já não é mais novidade toda a violência e extermínio da juventude preta e periférica que acontece “da ponte pra cá.”
Sabemos que essa luta não começa aqui, nem se encerra hoje. Sobre esse caso, todas as medidas cabíveis já estão sendo tomadas e vamos lutar até o fim para que o policial em questão seja punido pelo crime que cometeu.
CHEGA! # EsseTapaFoiEmMim