CIDADANIA

“Enquanto não conhecermos nossa verdadeira história, seremos um povo pobre e escravizado”, critica Vanilson Torres

Vanilson Torres, do Movimento Nacional de População de Rua I Imagem: reprodução

Estar em situação de rua, sem um teto seguro sob o qual se possa dormir e procurar abrigo, é uma realidade para 2.202 pessoas no Rio Grande do Norte, segundo o censo da população em situação de rua realizado pela Secretaria de Estado de Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas).

O mapeamento contou com o acompanhamento e colaboração do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR).

Íamos aos locais, pegávamos as informações de quantas pessoas tinham no local e passávamos para os recenseadores, que depois iam até o local fazer esse censo. Para nós foi muito importante porque, se formos avaliar, no Rio Grande do Norte só temos serviços socioassistenciais ou de consultório na rua em três municípios: Natal, onde só temos um abrigo 24 horas com 50 vagas, um albergue com 50 vagas noturno e um Centro Pop, porém funcionam em uma única zona e estão aquém das nossas necessidades; temos em Parnamirim um albergue com 25 vagas e um Centro Pop também com 25 vagas; e em Mossoró, um abrigo temporário pela pandemia com sete vagas. Natal tem três equipes de consultório na rua e Natal e Parnamirim uma equipe”, relata Vanilson Torres, que faz parte do MNPR e participou do Balbúrdia desta quinta (3).

Uma das críticas feitas pelo movimento é em relação à falta de políticas públicas para o setor nas diferentes esferas, o que poderá ser melhorado a partir do mapeamento.

Não é só da assistência social ou saúde que a população em situação de rua precisa. Não somos da assistência ou da saúde, somos população brasileira que por alguma situação está nas ruas. Questão, inclusive, de escravização de povos livres. Precisamos de moradia, trabalho, emprego e renda, de acesso à educação, ao lazer. O censo vai trazer possibilidades reais de termos serviços regionalizados, mas também políticas públicas estruturantes”, avalia Vanilson Torres.

No caso de Mossoró, o censo apresentou a existência de 70 pessoas vivendo em situação de rua, no entanto, como o levantamento foi realizado durante o período de veraneio, quando parte da população vai para o litoral, para municípios como Tibau, a estimativa é que haja 300 pessoas em situação de rua na cidade.

Morador de rua I Foto: Sethas
Morador de rua I Foto: Sethas

Por faixa etária

O levantamento feito através do censo permitiu identificar diferentes aspectos da identidade dessas pessoas, como a idade:

De 0 a 4 anos: 109 pessoas

De 5 a 9 anos: 59 pessoas

De 10 a 14 anos: 74 pessoas

De 15 a 17 anos: 55 pessoas

De 18 a 25 anos: 228 pessoas

De 25 a 35 anos: 496 pessoas

De 36 a 45 anos: 564 pessoas

Gênero e Raça

O censo, entre outras coisas, também traz dados sobre raça e gênero dessas pessoas. Foram identificadas 419 mulheres cis vivendo em situação de rua, 1.146 homens cis, 11 mulheres trans, 1 homem trans e 1 travesti. Cis é a pessoa que se identifica com o gênero de nascimento.

O mapeamento também aponta que das pessoas em situação de rua, 415 são pretas, 991 pardas, 412 brancas, 10 são amarelas e 13 indígenas.

Como o IBGE traz que pardos e pretos caracterizam uma população só, temos cerca de 76% dessa população negra nas ruas. Isso diz muito sobre o porquê de estarmos nas ruas, resulta da escravização de povos livres. Quando dizem ‘ah, a princesa Isabel num ato de bondade’… não foi bondade, não houve libertação ainda do povo negro porque fomos jogados na rua do Império, sem direitos nenhum. Hoje, essa escravização se perpetua na classe política quando temos um salário de R$ 1.300, quando temos pessoas negras recebendo menos do que pessoas brancas, quando não há oportunidades iguais nas universidades… Não há libertação real sem a garantia de direitos. A assinatura da Lei Áurea foi uma jogada política porque o Brasil foi o último país a abolir a escravidão, ou a escravatura, e fomos jogados na rua do império sem direito a casa, terra ou sequer alimentação… enquanto não conhecermos nossa verdadeira história seremos um povo pobre e escravizado pela mídia, pelas classes dominantes”, critica Torres.

Para assistir a entrevista completa, CLIQUE AQUI!

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