OPINIÃO

Lula, Toffoli e o Brasil como um museu de grandes novidades

A semana do 7 de setembro, data que foi ideologicamente sequestrada durante quatro anos pelo bolsonarismo, poderia – ou deveria – ser marcada pela defesa da democracia e das instituições, após quatro longos anos de corrosão delas, mas está sendo marcada pela sequência de problemas envolvendo o Governo Lula. Pequenas crises em curto espaço de tempo, como a saída de Ana Moser do Ministério dos Esportes para dar espaço ao Centrão, a pressão pela indicação de uma mulher negra para o STF e a fala de Lula de que os votos dos ministros do mesmo Supremo deveriam ser secretos. Haja barulho (e não por nada, diga-se) em poucos dias, que antecederam a data simbólica.

E Lula não apenas evitou que um projeto fascista tivesse mais quatro anos de vida, mas em oito meses realizou um leque invejável de ações:  Salário mínimo acima da inflação, novo Bolsa Família, novo Mais Médicos, programa Desenrola, desmatamento em queda, desemprego em queda, vacinação infantil em alta, 4⁰ maior crescimento do mundo, aumento de isenção do IR e muito mais. Para a mídia tradicional, nada disso importa. Ela se dedica a procurar cabelo em ovo para atacar Lula e forjar supostas crises internas para desgastar o governo.

Eis então que na véspera do 7 de Setembro, em meio à má vontade da mídia contra Lula e a necessidade de se acomodar Lira e o Centrão desgastando o governo mesmo entre os militantes, um plot twist: o ministro do STF Dias Toffoli anulou todas as provas obtidas por meio do acordo de leniência da construtora Odebrecht e dos sistemas de propina da empresa. Esses elementos serviram de base para diversas acusações e processos na operação Lava Jato. Em sua decisão, Toffoli também manda órgãos como a Advocacia-Geral da União, Procuradoria-Geral da República e Conselho Nacional de Justiça apurarem a responsabilidade de agentes públicos envolvidos na celebração do acordo de leniência.

Em sua decisão, Toffoli considera que as tratativas resultaram em “gravíssimas consequências” para o Estado brasileiro e para “centenas de réus e pessoas jurídicas em ações penais, ações de improbidade administrativa, ações eleitorais e ações civis espalhadas por todo o país e também no exterior”.

Toffoli considerou que o contexto dessas ações possibilita concluir que a prisão do presidente Lula foi, além de “um dos maiores erros judiciários da história do país”, uma “armação”. “Digo sem medo de errar, foi o verdadeiro ovo da serpente dos ataques à democracia e às instituições que já se prenunciava em ações e vozes desses agentes contra as instituições e ao próprio STF”, declarou.

Na prática, Toffoli enterrou de vez a Lava Jato e abriu caminho completo para a cassação de Moro. Sim, o mesmo Toffoli que negou que Lula, preso, fosse ao enterro do irmão e que bajulava Bolsonaro, entre um descanso e outro na casa de Fábio Farias, então ministro, no litoral potiguar. O mundo dá voltas.

Ou como cantava Cazuza: “Eu vejo o futuro repetir o passado/Eu vejo um museu de grandes novidades/O tempo não para”.

Lula, portanto, chega maior ainda neste 7 de setembro sem o bolsonarismo confiscando a data para sua pauta alucinada de costumes (e sua formação de quadrilha). Não que nos acostumemos novamente a usar verde e amarelo sem algum incômodo. Mas será bom ver a democracia sendo celebrada na data, e não um vago e fascista “patriotismo”. Como é bom ver os chefes das forças armadas prestando continência ao seu comandante-em-chefe, o ex-metalúrgico, ex-sindicalista e primeiro brasileiro a ser presidente da República por três vezes, Luís Inácio Lula da Silva.

Neste museu de grandes novidades chamado Brasil, comemoramos o 7 de setembro com alívio em muitos anos. Vamos sobrevivendo, embora com alguns arranhões.

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