Clama aos céus indiferentes o desamparo da direita na pré-temporada eleitoral de Natalópolis. Feito um salmo herético, que nenhum ouvido piedoso recolhe, a desvalia desvanece o brilho da foto em que seis pré-candidatos se banqueteiam com o senador Rogério Marinho: General Girão (PL), Sargento Gonçalves (PL), Capitão Styvenson (Podemos), Breno Queiroga (SD), Paulinho Freire (União Brasil) e Bruno Giovanni (PSDB). Dali, dizem cronistas de copa e cozinha dos comensais, saiu o pacto laqueado pelos chefes do bolsonarismo e afins: quem ostentar melhor posição nas pesquisas em novembro receberá o selo de candidato da direita à Prefeitura de Natal. Tem quem goste.
A foto pende sob um desejo e um problema comum a todos: querem ser prefeito, mas não têm os votos necessários. Nem parece que virão a ter. Na última pesquisa conhecida, nenhum deles chegou sequer a cinco por cento das intenções de voto – metade do que já têm Natália e um ‘candidato de Álvaro Dias’ e um sexto do que ostenta o líder Carlos Eduardo Alves (PSD).
Álvaro (Republicanos) não foi nem mandou representante à casa do ex-melhor amigo e atual desafeto. José Agripino (União Brasil) e Ezequiel Ferreira (PSDB) não foram, mas enviaram os crias Paulinho Freire e Bruno Giovani para compor a imagem difundida pelos suspeitos de sempre como evidência de que a direita estará forte e unida em 2024. As lacunas na foto e outros fatos desmentem os dois pressupostos.
A ausência de líderes arranhados pela derrota do bolsonarismo ensina que não havia à mesa ninguém capaz de arrebanhar todas as variações da direita, gerando e gestando uma pré-candidatura competitiva. A performance pífia nas pesquisas acrescenta que o pacto não passará do que é, de fato: photo op em reação ao movimento do prefeito Álvaro Dias, que anunciou aliança com Rafael Motta e, assim, reduziu o campo de manobras da direita e o potencial de crescimento de qualquer um dos signatários do conchavo. E ao propalado conversê de Freire com Alves, antes da comilança, em busca de convergência eleitoral facilitada pela anemia de Paulinho nas pesquisas.
No vão entre a imagem ilusória e os números crus, emerge a verdade sobre a desvalia da direita e a verdadeira falta que grita na foto: o policial Wendel Lagartixa (PL), a principal liderança de direita, gerada espontaneamente pelos bolsonaristas potiguares que foram às urnas em 2022. Ele amealhou 88.265 votos, a maior soma já recolhida por um candidato a deputado estadual no RN – 32.924 só em Natal. Nem mesmo Álvaro Dias, Robinson Faria, Ricardo Motta e Ezequiel Ferreira – aboletados em sucessivos mandatos de presidente da Assembleia Legislativa – chegaram a tal patamar nas eleições em que foram campeões. O mais votado, Ricardo Motta, teve 80.249 votos em 2014 – ou 8 mil a menos que Lagartixa.
Sem Wendell Lagartixa, tornado inelegível por condenação transitada em julgado, a direita potiguar segue como uma caricatura em busca de face menos risível. Preserva a carolice, o atraso, o conservadorismo, a demofobia, o militarismo, mas perde o bônus que, enquanto o bolsonarismo esteve no poder, vinha junto com os sintomas da moléstia: os votos. Sem eles, a foto do convescote terá servido apenas à malícia verbal de quem, sendo direitista, não esteve no almoço, mas transformou em meme a bola erguida pelo sexteto: a direita natalense já teve cardápio um pouquinho melhor.