Por quem os sinos dobram?​
Natal, RN 30 de nov 2023

Por quem os sinos dobram?​

25 de outubro de 2023
3min
Por quem os sinos dobram?​
AP Photo / Hatem Moussa

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"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio​".

Esse é o célebre trecho conhecido como "Nenhum homem é uma ilha​", na verdade a Medi​tação ​1​7​, das "Meditações", d​o poeta ​inglês John Donne. O conceito humanista desse poema em prosa (que deu origem e nome a um dos meus romances preferidos, "Por quem os sinos dobram", de Hemingway) cai bem nos dias atuais de globalização, onde pelas redes sociais e alta ​tecnologia sabemos sobre o sofrimento humano em qualquer lugar, mesmo do outro lado do Mundo, em tempo real.

​Contudo, Donne não poderia prever que em pleno século 21 muitas pessoas se tornaram, sim, ilhas, isoladas nelas mesmas no conforto da internet, verdades fáceis, opiniões radicais e fala de empatia. É o que vemos hoje, de forma chocante, na percepção de muita gente no conflito entre Israel e Hamas que tem como consequência maior e mais visível um extermínio do povo palestino.

Já escrevi aqui neste espaço, e é algo possível de se ler, pesquisar, sobre a complexidade dos conflitos entre judeus/israelenses e palestinos ao longo de milênios, dois povos que têm o mesmo espaço de chão como terra prometida e que estão ligados e separados por questões geopolíticas, econômicas e sociais. Uma complexidade que passa por uma diáspora, um holocausto da II Guerra Mundial, tensão religiosa e que não cabe na nossa política emocional de "torcedor" por um lado ou por outro.

Porém, não se trata de uma guerra, como muita gente já analisou. Guerra é quando são duas nações cujos exércitos se enfrentam. No caso do Oriente Médio, Israel é uma nação com um exército, a Palestina não, tampouco o Hamas, um grupo terrorista, diga-se, representa o povo palesino. Que não pode pagar, como vem acontecendo, pela violência da organização. A retaliação de Israel em Gaza é desproporcional e fere odos os códigos de guerra, como a própria ONU já registrou e como a mídia sempre pró-Israel parece, enfim, estar descobrindo.

A cada dia temos notícias de mais palestinos mortos em ataques. Muitas vítimas civis, muitas crianças. Impossível não se ter empatia com essa tragédia humanitária que vitima um povo que luta para existir (e ser uma nação) já em número pequeno.

Não se trata de ser anti-Israel e sim de desejar que o país pare de matar inocentes. Espanta-me a "torcida" por Israel nas redes como se fosse um jogo. Para muita gente talvez até seja, como era o Rússia x Ucrânia, onde muita gente escolheu um lado, seja ideológico, político ou humano, para "torcer".

Minha torcida (repetindo que Israel agride o povo palestino de maneira irracional e desproporcional) é pelo fim das mortes por bombardeios. Voltando, para fechar esse texto, com a poesia de John Donne:

"A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".

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