Prefeitura asfalta trecho “exclusivo” para pedestres da João Pessoa

Não são poucas as pessoas que dizem que o centro de Natal já não é mais o mesmo. A grande quantidade de lojas fechadas e os vários anúncios de aluguel nas portas pichadas passam uma impressão de abandono.
“Tenho salas fechadas há mais de um ano. Antigamente, tinha fila de pessoas esperando imóveis desocupar e agora, infelizmente, estou com imóvel fechado há mais de um ano e só tendo despesa”, lamenta a simpática Miriam Gomes, que tinha encerrado mais um dia de expediente no Edifício Sisal, onde trabalha como corretora de imóveis.
Par recuperar o vigor do comércio na região, que resguarda em sua arquitetura a história da cidade, a Prefeitura do Natal anunciou um projeto de “requalificação do Centro Histórico de Natal, com obras em diferentes trechos do bairro da Cidade Alta.
Em maio, o trecho do Calçadão da rua João Pessoa que fica entre a avenida Rio Branco e a rua Princesa Isabel foi fechado para o trânsito de veículos. A proposta era criar uma via “instagrámavel”, com arborização e áreas de convivência para pedestres e turistas, como forma de atrair as pessoas de volta à região.
Mas, passados alguns meses e retirados os tapumes, a única mudança foi a renovação da camada de asfalto da via que, pelo projeto apresentado pela Prefeitura do Natal à imprensa, seria fechado para uso “exclusivo” de pedestres.

“Recebi no WhatsApp o projeto daqui que, por sinal, é belíssimo. Fiquei super empolgada sonhado com um Centro maravilhoso! Mas, infelizmente, agora com a obra desse jeito... parada, o sonho foi por água abaixo. Há mais de 15 anos trabalho no centro da cidade e conheço muita coisa aqui. Pra gente, quando vimos o projeto, pensamos ‘caramba, vai ficar top, vamos ter público’. Mas, agora, vendo tudo parado, bateu o desânimo de novo. Não temos informação nenhuma, se vai concluir, se vai ficar como está, o que teremos”, desabafa Miriam Gomes, corretora de imóveis.
“Disseram que seria uma coisa incrível, que iriam colocar uma coisa bem chamativa no meio, bancos, uma coisa mais arbórea... fiquei esperando essa coisa, mas não teve. Quando abriu pensei ‘tá, só ajeitaram o asfalto’, lamenta Elaine Cristina Venâncio, moradora da Cidade Alta.
O projeto da obra de “requalificação” da rua João Pessoa foi elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) e é executado pela Secretaria de Mobilidade Urbana (STTU).

A Agência Saiba Mais entrou em contato com a STTU para que fosse explicado por que o trecho do Calçadão da João Pessoa que seria exclusivo para passagem de pedestres havia recebido uma nova camada de asfalto. O diretor de Planejamento da STTU, Newton Filho, deu a seguinte resposta:
“O trecho exclusivo para pedestres, 100%, é entre a Rio Branco e a Princesa Isabel. O restante vamos reduzir o tamanho da via, para priorizar o pedestre, mas será permitido o tráfego de veículos. No entanto, como a via será desenhada para o pedestre, a qualquer momento que precisar ser fechada para fazer uma intervenção, a via será fechada e o trânsito fica assegurado aos pedestres”.
Uma publicação no site da própria Prefeitura também cita o trecho entre a Rio Branco e Princesa Isabel como exclusiva para pedestres. Até a publicação desta matéria, os demais trechos da rua João Pessoa, no sentido Catedral Nova, também haviam recebido nova camada de asfalto, mas sem mudanças na largura da pista e das calçadas.

A pouca mudança desde o início da obra decepcionou quem trabalha no comércio da região. Apesar da passagem de pedestres nunca ter sido interrompida, o uso de tapumes causava a impressão de comércio fechado e aumentava a sensação de insegurança.
“Atrapalhou e não trouxe melhorias. Ficamos na mão e só saímos perdendo. A cada dia é loja fechando, menos investimento na rua e menos gente na cidade, que é um comércio tradicional. Fecharam, depois disseram que iam fazer uma licitação para uma nova fase e ficou sem a gente saber o que é verdade, o que não é. É aquela coisa, uma obra ao invés de ajudar, mata o comércio mais uma vez. Todo mundo tá chamando aqui de ‘a nova Ribeira’. Como é comércio, deveria ser uma obra de urgência, rápida. Mas, foi o contrário, só atrasou e não terminou”, avalia Leandro Abreu, que trabalha em um quiosque de conserto de celular.

SEGURANÇA
Além da queda no movimento, uma outra preocupação de quem trabalha e mora na área do centro de Natal é a insegurança. Por causa dos furtos e assaltos frequentes, os comerciantes que mantinham as lojas abertas até às 20h, passaram a fechar às 18h.


“Quando estava com os tapumes dava a sensação de insegurança, infelizmente. Como já está já muito abandonado aqui, por causa da queda do movimento de pessoas, com os tapumes ficou bem pior. O que a gente quer é que a obra termine. Agora está parado de vez e a gente não sabe como é que vai ficar. Já ouvi comentários que só no próximo ano”, comentou Miriam, a corretora de imóveis que trabalha no Edifício Sisal.
“Temos um pet e a coisa está bem séria. Estamos até pensando em nos mudar daqui. Eu moro aqui há quatro anos, mas meu marido está há bem mais tempo, já tem uns 15 anos. Temos um pet e a coisa está bem séria. Estamos até pensando em nos mudar daqui”, revela Elaine Cristina, que passeava com o filho na calçada da João Pessoa.


ALUGUEL NAS ALTURAS
Os comerciantes também reclamam do alto valor dos aluguéis cobrados na região, que não condizem com a realidade do lugar.
“O aluguel aqui é muito alto, é uma das coisas que mais prejudica. Quando você contrata funcionário e tem aluguel alto, o empresário não vai querer investir, porque o movimento é pouco”, acrescenta Leandro, do quiosque de reparo de célula.
A questão já havia sido denunciada pela Associação Viva o Centro de Natal que tenta, junto à Prefeitura de Natal, a concessão de descontos no ISS (Imposto Sobre Serviços) para empresas de prestação de serviços que se instalarem na Cidade Alta e descontos no IPTU para aquelas que recuperarem a fachada histórica do prédio onde estão instaladas.



MAIS UMA LOJA FECHADA
Grandes lojas, de atuação nacional, vêm encerrando suas atividades no tradicional centro de Natal desde o ano passado, quando a C&A e a Renner fecharam as portas. Em maio de 2023 foi a vez da Marisa e, em setembro, das Lojas Americanas, que anunciou mudança para outra loja na mesma Avenida Rio Branco.
Nesta terça (24), a nova loja das Americanas no nº 680 também estava de portas fechadas. No local, havia apenas uma folha colada informando que para melhor atender ao público, as atividades agora estavam concentradas na unidade da rua João Pessoa, nº 240.


ENTREGA ADIADA
Segundo a Prefeitura do Natal, o investimento no bairro da Cidade Alta é de, aproximadamente, R$ 25 milhões.
O serviço foi dividido em três etapas, sendo o 1º a escavação da via para colocação de dutos para fiação subterrânea para substituir a atual fiação aérea. A 2ª etapa iria até a calçada da rua Felipe Camarão, com previsão para realização dos serviços nos meses de junho e julho. Já a 3ª, e última etapa, seria até a calçada da avenida Deodoro da Fonseca, de julho até agosto.
O prazo inicial para a conclusão dos trabalhos era outubro deste ano, mas a data foi alterada para agosto de 2024.

