Representatividade é a palavra de ordem da coluna dessa semana. E para falar desse tema, tenho que citar Erika Hilton, deputada federal pelo PSOL/SP que usa seu discurso não somente como instrumento de visibilidade, empoderamento e ocupação, mas também como arma de defesa e de enfrentamento aos nefastos discursos da extrema-direita, sobretudo aqueles contra as mulheres Trans/Travestis.
Em um embate com uma deputada bolsonarenta numa dessas sessões televisionadas pelo canal do Congresso, Erika rebateu um desses discursos metralhando:
"A sociedade ainda nos enxerga como menos mulher. E, ao nos enxergar como menos mulher, também nos enxerga como menos cidadãs, que não merecem proteção, que não podem estar nos esportes, que não podem receber, como a deputada falou, ser consagradas em agremiações e em festivais. Nós temos que estar aonde? Nas esquinas de prostituição? Nos cárceres? No drogadicídio? Aonde que é nosso lugar se também não é aqui discutindo uma agenda de direitos a todas as mulheres? A luta das mulheres Transexuais e Travestis desse país nunca excluiu nenhum tipo de mulher. Por que a luta de outras mulheres precisa excluir a nossa existência?"
A presença de Erika Hilton naquele espaço incomoda mais gente que se imagina. Afinal, é uma “menos mulher”, é uma cidadã de segunda classe, como Buchi Emecheta, escritora nigeriana, intitulou um de seus livros, que está ali, levantando sua voz na plenária.
É um ser menos humano que deveria estar no cárcere, na sarjeta, consumindo drogas e se vendendo barato, muito barato, afinal, “... a carne mais barata do mercado é a carne negra”, sobretudo da Travesti negra. Sim, deveria viver sem direito de defesa, sem direito de voz, sem direito de vez.
E a presença de Erika põe por terra esse sonho da extrema-direita de invisibilidade e exclusão das nossas existências, das nossas corpas, das nossas lutas e resistências nos espaços de referência, nos espaços de sucesso, nos espaços de oportunização, nos espaços que, segundo eles, não deveriam ser ocupados por nenhuma de nós, mulheres Trans e Travestis.
Ainda, nesse que é mais um dos seus emblemáticos, potentes e arrebatadores discursos, Erika disse:
“As mulheres ‘de verdade’, nas palavras da deputada, estão perdendo espaços para mulheres Trans. Que espaços são esses? Porque onde nós estamos? - é a pergunta que não se calará. Quantas deputadas Transsexuais nós temos nessa casa? Quantas médicas Travestis temos nesse país? Quantas juízas, advogadas? Queremos espaços dignos na sociedade, direito à cidadania”.
Por fim, a parlamentar reforça que “meu mandato tem o “propósito” de “defender a vida de todas as mulheres sem deixar que nenhuma mulher – negra, indígena, com deficiência, do campo, quilombola – seja esquecida, pisada, açoitada. Para que as mulheres avancem, todas nós teremos que avançar.”
Então, o que tenho pra dizer é: SALVE ERIKA. Por mais mulheres Trans e Travestis parlamentares, médicas, advogadas, juízas, diretoras, enfermeiras, CEOs, jornalistas... E, quiçá, presidentAS!