Pelo menos 50,97% das crianças com idade entre 1 e 4 anos 11 meses e 29 dias não estão vacinadas contra poliomielite no Rio Grande do Norte e correm risco de contrair paralisia infantil, segundo a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), que tem a meta de vacinar 95% desse público.
O esquema vacinal prevê a aplicação de três doses para que a cobertura seja considerada completa, o que a Sesap e o Ministério da Saúde chamam de vacina VIP. Pelo esquema vacinal, a 1ª dose deve ser aplicada aos 2 meses de vida, a 2ª dose aos 4 meses e a 3ª dose aos 6 meses, todas injetáveis. Apenas depois dessa fase, são aplicadas as doses de reforço (VOP), sendo a 1ª entre os 15 e 18 meses e a 2ª entre os 4 e 5 anos, podendo ambas ser por meio da vacina oral.
No RN, a média de vacinação contra pólio está ligeiramente acima da média nacional, que estacionou nos 49,21%. Além da baixa procura para as primeiras doses, os pais e responsáveis também não têm dado continuidade ao esquema vacinal, já que da população de 186.330 crianças com idade entre 1 a 4 anos 11 meses e 29 dias no Rio Grande do Norte, apenas 27.984 receberam a dose de reforço (VOP) contra a pólio. O quantitativo representa somente 15,02% das crianças que deveriam ser imunizadas com a dose de reforço, ou seja, 85% delas continuam com o esquema vacinal incompleto, de acordo com os dados retirados da plataforma RN + Vacina.
A baixa procura preocupa a Secretaria Estadual de Saúde. Na avaliação de Laiane Graziela, Coordenadora de Imunização da Sesap, o problema é atribuído a alguns fatores.
“Podemos atribuir a baixa procura à dificuldade de adaptação dos digitadores das salas de vacina com a mudança do sistema de informação; ao registro no sistema de informação incorreta ou não realizada em tempo oportuno; ao aumento no número de vacinas ofertadas o que exige da população ir mais vezes ao posto de vacinação; à falsa sensação de segurança por não ocorrência de algumas doenças; também temos as notícias falsas sobre as vacinas e disseminação dessas notícias através de redes sociais; além da pandemia do Covid-19, que prejudicou a procura e a ida aos postos de saúde para as vacinas de rotina, e esse atraso impacta nas baixas coberturas vacinais“, aponta.
A campanha de vacinação contra a Poliomielite segue até o dia 09 de setembro em todo o país. Depois dessa data, a vacina permanece na rotina para crianças não vacinadas ou que necessitam completar o esquema vacinal, com limite de idade de 4 anos, 11 meses e 29 dias. Após essa idade, a criança perde a oportunidade de ser vacinada.
O último caso da pólio no Rio Grande do Norte ocorreu em 1989, no município de São José do Seridó. No Brasil, o último caso de poliomielite também foi registrado em 1989, na cidade de Souza, na Paraíba. Porém, o baixo índice de vacinação em todo o país coloca em risco o esforço realizado até aqui para erradicar a doença, que provoca paralisia infantil.
A pólio é considerada oficialmente eliminada do território nacional desde 1994, quando foi emitido o certificado da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), segundo a Fiocruz. Mas, desde 2015, o Brasil não atinge a meta de 95% de vacinação do público-alvo, cobertura necessária para que a população seja considerada protegida.
Conheça o esquema vacinal contra a pólio:
- 1ª dose: aos 2 meses de vida com a VIP –injetável ;
- 2ª dose: aos 4 meses de vida com a VIP –injetável;
- 3ª dose: aos 6 meses de vida com a VIP –injetável;
- 1º reforço: entre os 15 e 18 meses, que pode ser por meio da vacina oral (VOP);
- 2º reforço: entre os 4 e 5 anos, que pode ser por meio da vacina oral (VOP).
Campanha no Brasil
No Brasil, a vacinação em massa começou em 1961, com a adoção da vacina Sabin, mas sem continuidade. Na década de 1970, o Ministério da Saúde tentou utilizar outras estratégias, como a vacinação de rotina em vez da realização de campanhas, porém, sem sucesso. Já em 1980, a partir de iniciativas internacionais de controle e erradicação, foi estabelecida a primeira estratégia de campanha nacional de imunização contra a pólio.
O ‘Dia Nacional de Vacinação’ tinha o objetivo de vacinar todas as crianças de até 5 anos de idade em todo território nacional em único dia. Em três anos de campanha, a incidência da pólio se aproximou de zero. Desde então, a média de vacinação vinha se mantendo estável, até começar a cair em 2015. Entre os anos de1968 e 1989, o Brasil havia contabilizado mais de 26 mil casos de infecção por poliomielite, de acordo com o Ministério da Saúde.

Transmissão
A poliomielite pode infectar tanto crianças quanto adultos por meio do contato direto com fezes ou secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas e provocar ou não paralisia.
O contato pode ocorrer de maneira direta de uma pessoa pra outra, por objetos, alimentos e água contaminada com fezes de doentes ou portadores ou por meio de gotículas de secreções da orofaringe (ao falar, tossir ou espirrar).
Sintomas
Febre, mal-estar, dor de cabeça, de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, constipação (prisão de ventre), espasmos, rigidez na nuca e até mesmo meningite, são os sintomas mais comuns entre os pacientes. Nas formas mais graves há a ocorrência de flacidez muscular, que afeta um dos membros inferiores.
Tratamento
Não há tratamento para a poliomielite. Os pacientes recebem apenas medidas paliativas para os sintomas, de acordo com o quadro clínico de cada pessoa. É o caso da fisioterapia, para que os exercícios ajudem a desenvolver a força dos músculos afetados, além de ajudar na postura, melhorando assim a qualidade de vida e diminuindo os efeitos das sequelas. Além disso, pode ser indicado o uso de medicamentos para aliviar as dores musculares e das articulações.
Sequelas:
- problemas e dores nas articulações;
- pé torto, conhecido como pé equino, em que a pessoa não consegue andar porque o calcanhar não encosta no chão;
- crescimento diferente das pernas, o que faz com que a pessoa manque e incline-se para um lado, causando escoliose;
- osteoporose;
- paralisia de uma das pernas;
- paralisia dos músculos da fala e da deglutição, o que provoca acúmulo de secreções na boca e na garganta;
- dificuldade de falar;
- atrofia muscular;
- hipersensibilidade ao toque.
Quem deve se vacinar?
Todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser vacinadas, seguindo o esquema de vacinação previsto na campanha nacional anual. O esquema vacinal contra a poliomielite é de três doses da vacina injetável – VIP (aos 2, 4 e 6 meses) e mais duas doses de reforço com a vacina oral bivalente – VOP (gotinha). As vacinas estão disponíveis nos postos de saúde dos municípios.