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Debate sobre ética no jornalismo sem regulação das redes sociais não resolve os problemas, defende professora de comunicação da UFRN
8 de abril de 2023
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Em uma semana com mais um ataque criminoso em uma unidade escolar no Brasil, veículos de imprensa anunciaram mudanças na política de divulgação sobre cobertura de massacres. O Grupo Globo, por exemplo, comunicou que o nome e a imagem de autores de ataques não serão mais publicados, assim como vídeos das ações. O objetivo seria impedir que a disseminação de informações inspirem outras pessoas a cometerem atos semelhantes. O assunto foi tema de entrevista no Balbúrdia desta sexta (7). Para a professora do Departamento de Comunicação Social da UFRN, Kênia Maia, a ação é necessária, mas está além do jornalismo.
“Cada um de nós hoje pode ser um produtor e um veiculador de conteúdos. Se a gente fica só nessa discussão da ética jornalística, passa a ser uma discussão muito século passado, quando éramos todos dependentes dos meios de comunicação para receber as notícias. É uma decisão acertada que foi tomada [pelos veículos de imprensa], mas isso roda numa velocidade estonteante pelas redes sociais. Eu preciso discutir ética jornalística também com a regulação de conteúdos nas redes sociais. Um sem o outro não resolverá questões”, defendeu.
Maia também ampliou o debate e falou sobre a precarização na área. Pesquisadora de teorias do jornalismo, ela comentou sobre a responsabilidade das empresas sobre como e o quê é veiculado.
“Quando eu falo de ética, parece que eu estou jogando toda responsabilidade sobre os ombros de uma pessoa individual que é aquele profissional. Não. O jornalismo é uma atividade coletiva. Existe, na maioria dos casos, uma empresa jornalística por cima”, afirmou.
A docente ainda criticou o jornalismo declaratório - quando se repercute a fala de alguém somente atribuindo as aspas, como um possível fator de desinformação. Assim, citou como exemplo o cercadinho do Palácio do Planalto em que o ex-presidente Jair Bolsonaro notabilizou ao dar entrevistas para a imprensa e conversar com apoiadores quando estava no cargo.
Em outro ponto, a professora defendeu o trabalho jornalístico mesmo com o avanço das inteligências artificiais. Para ela, a checagem das informações segue essencial e vai além do que um robô pode oferecer.
“Os alunos que estão chegando agora [na faculdade] têm uma outra noção da tecnologia, e cabe à universidade sempre dizer que a vida não é só o que está nas redes sociais, que o jornalismo é muito mais do que isso e apontar esses debates”, frisou.
Confira a entrevista completa: