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Garibaldi explica porque não aceitou candidatura ao Senado e celebra aliança com PT: "Lula tem uma situação privilegiada em termos eleitorais”
23 de maio de 2022
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Aos 75 anos de idade, Garibaldi Alves Filho (MDB) tem um currículo político como poucos no Rio Grande do Norte e mesmo no país. Já foi deputado estadual (entre 1970 e 1982), prefeito de Natal eleito em 1985, sendo eleito senador cinco anos depois e, logo em seguida, governador, cargo que ocupou entre 1995 e 2002, quando foi novamente reeleito senador.
Sofreu sua primeira derrota nas urnas em 2006, quando perdeu para Wilma de Faria para o Governo do RN. Em 2007, após escândalo envolvendo o então presidente do Senado Renan Calheiros, tornou-se presidente da Casa. Foi reeleito senador em 2010 e no começo de 2011 empossado ministro da Previdência Social pela então presidenta Dilma Rousseff. Em 2018, tentou eleger-se senador, mas perdeu a vaga para Zenaide Maia e Styvenson Valentim, em eleição que viu seu filho Walter Alves ser reeleito deputado federal e que marcaria o início do rompimento com o primo Henrique Eduardo Alves.
Em 2022, Garibaldi retorna às manchetes políticas como articulador, junto ao ex-presidente e pré-candidato Lula, da aliança entre MDB e PT no Estado, com a composição de Walter como companheiro de chapa de Fátima Bezerra (PT) na tentativa desta de reeleição.
Para falar sobre este e muitos outros assuntos políticos, Garibaldi recebeu a reportagem da Agência Saiba Mais para entrevista.
Confira:
Agência Saiba Mais: Após longo tempo de diálogos, vimos a definição da aliança no Estado entre MDB e PT, sendo decidida a indicação do deputado federal Walter Alves, seu filho, como candidato a vice-governador na chapa de Lula em acordo costurado pelo senhor e por Lula. Como foi essa processo e qual a sua expectativa em relação à chapa?
Garibaldi Alves Filho: Realmente o ex-presidente Lula a princípio fez um convite para eu que eu integrasse a chapa como candidato a senador, mas eu falei ao ex-presidente que não prendia mais disputar o Senado. Ficamos de conversar posteriormente como seria a nossa aliança, pois queríamos esse acordo, e cujo resultado agora já é conhecido, porque Walter foi oficializado como pré-candidato a vice de Fátima. A nossa expectativa é que tenhamos uma grande vitória, porque confiamos no prestígio da governadora, do presidente Lula então nem se fala, e temos grandes chances de ganhar. Por outro lado, quero dizer que o MDB tem uma estrutura de 39 prefeitos no Rio Grande do Norte e um número muito grande de vereadores em muitos municípios. Então acho que as condições criadas ao longo desse tempo pelo PT e pelo MDB me levam a confiar em uma vitória nas eleições.
O ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo, também está na chapa, como pré-candidato ao Senado. Como o senhor vê uma chapa com dois Alves, fato que vem sendo criticado por parte da militância de esquerda?
Falar de Carlos provoca uma certa celeuma, porque Carlos Eduardo durante algum tempo se desligou do MDB, foi para o PDT, como se sabe, e trilhou caminhos políticos diferentes. Mas quero falar que ele foi um grande gestor tendo sido prefeito de Natal quatro vezes e deixou um acervo de obras importantes. Acho natural ele estar na chapa.
Em entrevistas recentes percebemos falas duras suas em relação a seu primo e ex-aliado Henrique Eduardo Alves, que saiu do MDB e se filiou ao PSB, e vai disputar, assim como o senhor, uma vaga na Câmara Federal. O senhor mantém uma mágoa política em relação a Henrique?
Se eu disser que não tenho mágoas não estaria falando a verdade. Mas pediria a você para que não prolongássemos nossa conversa chamando a atenção para esse fato. Gostaria de superar esse assunto, se não se incomodar. Não deixa de me provocar um certo constrangimento. Mas eu sei que está exercendo o seu papel de jornalista em perguntar.
O MDB tem uma pré-candidata à Presidência, a senadora Simone Tebet, mas percebemos que emedebistas no Nordeste têm preferência por Lula e estão compondo com o PT em vários estados, como foi o caso do Rio Grande do Norte. Como fica essa situação, se o senhor tiver que optar por votar entre a senadora e Lula?
Vejo que o MDB lamentavelmente não pode mais ostentar a candidatura de Simone Tebet. Fui colega dela no Senado, sei que ela teria totais condições de disputar a Presidência da República, mas o que acontece é que ela, a exemplo de outros pré-candidatos, não está dentro de uma pontuação mínima nas pesquisas de intenção de votos realizadas, não tem uma pontuação necessária para uma campanha. Entrar para uma eleição no Estado sem uma candidatura de repercussão nacional, sem que o candidato a nível nacional possa ajudar a vitória no Estado é muito, muito difícil. Então, essa é a situação do MDB nos estados do Nordeste, que realmente estão dialogando e compondo com Lula. Sabemos que Lula tem uma situação privilegiada em termos eleitorais na região, não poderíamos deixar de ser sensíveis a esta situação, não vejo como o MDB pode ignorar esse fato.
Como interlocutor privilegiado dentro do MDB, comenta-se no partido a aliança entre Tebet e o pré-candidato do PSDB, João Dória, com este sendo vice da senadora?
Não estou sabendo muito, porque não estou participando das conversas da executiva nacional do MDB. O que estou vendo e lamentando é que dois candidatos, o ex-governador de São Paulo e a senadora Simone Tebet não conseguem uma situação política-eleitoral, como mostram as pesquisas, que levem seus correligionários, como nós, a pensarmos em uma vitória. Não temos condições de disputar eleição, as pesquisas mostram isso, indicam essa direção.
Quando senador, o senhor chegou a ser presidente da Casa, após afastamento de Renan Calheiros. Quais suas lembranças desta época e como avalia a qualidade da atual legislatura no Senado?
É delicado falar sobre isso, pois se eu falar muito, vão dizer que estou mostrando ressentimento porque não alcancei a vitória em 2018. Mas a imprensa está aí para dizer justamente isso, ela vem acompanhando e vem dando esse feedback, esse depoimento, que o nível do Senado não é o mesmo das legislaturas anteriores. Tivemos um Senado que abrigava ex-governadores, políticos experientes. Agora não vemos mais tanto isso acontecer. A situação se oferece agora nessa eleição para que não se estabeleça essa coisa medíocre de se dizer "a velha política" em relação a essa chamada "nova política", com o eleitor tratando a velha política como algo depreciativo, quando antes, a experiência era elogiada para ocupar cargos. É complicado.
Como vê essa chamada "não política", inclusive, onde se colocam políticos como Dória, Bolsonaro, que insistem em dizer ao eleitor que não são políticos?
Vejo como algo muito complicado. Você vai exercer um cargo político dizendo que não é político, é uma contradição enorme. O eleitor às vezes cai nessa armadilha, ele acha na cabeça dele que o novo é necessariamente melhor, a história da esperança, que venham dias melhores. Isso tem uma certa fundamentação, claro, mas o eleitor tem que tomar cuidado com isso.
Como avalia a sua pré-candidatura a deputado federal e quais as suas expectativas?
São muito boas. Já temos no MDB bons nomes na nominata. Posso citar para você, um nome de expressão no Oeste, Pio Fernandes; Kaline Amorim, esposa do deputado Dr. Bernardo; Eliane, mãe de Isaac, o vereador mais votado de Mossoró; Hiron Júnior, de Jardim do Seridó e vamos compor com mais duas mulheres, no nosso caso Marina, militância região Central, Mara, ex-prefeita. Com essa nominata queremos chegar com uma votação que possa eleger pelo menos um com possibilidade de até dois parlamentares.
Tradicionalmente o MDB é dos partidos que mais recebe votos de legenda, o que sempre favorece a sigla nas eleições proporcionais. Está confiante que esse processo se repita?
Acredito que sim, que o MDB ainda tenha votos de legenda. Mas, temos que confessar que ao longo do tempo os partidos estão perdendo substância, consequentemente voto de legenda. Muita gente hoje fala preferido votar em nomes não nos partidos o que ao meu ver é uma desvalorização da atividade política e ainda compõe o quadro da não-política, que é algo que preocupa. A política é algo que se faz com partido e as pessoas querem uma política sem políticos e sem partidos, isso me preocupa muito, é ruim para a democracia.
A eleição de 2018 foi marcada por uma intensa polarização, com muita fake news e discursos de ódio. Teme que na eleição deste ano isso se repita?
Eu lhe digo com sinceridade que talvez esse fator tenha contribuído para eu não querer disputar o Senado, como propôs Lula, e não disputar mais uma eleição majoritária. Numa eleição para presidente, governador, senador, você não escapa dessa polarização. Se você disputar, como eu vou, uma eleição proporcional, aí sim, pode ser até se escape disso tudo.
Por falar em escapar, Carlos Eduardo, pré-candidato da chapa, está sendo atacado por parte da imprensa e a campanha nem começou...
Eu não sei... às vezes tenho pena de Carlos. A imprensa potiguar é muito dura, muito renitente com ele. Realmente se você me pedir para explicar porque é assim, eu confesso que não sei. Só perguntando a ele, que talvez também não saiba explicar ou fique constrangido com o assunto. Realmente não sei.
Fátima vem liderando as pesquisas e Walter será o vice dela. Uma vez Fátima reeleita, existe a possibilidade de ser candidata ao Senado em 2026, como é de praxe com governadores reeleitos e bem avaliados. O MDB já pensa nessa possibilidade, de ter Walter Alves governador em 2026?
Dentro da franqueza que vem pautando essa entrevista, acho melhor eu não falar disso. Já basta uma eleição como a deste ano, com toda a sua complexidade. Se eu for falar de uma eleição futura com todas as suas consequências e implicações, fica complicado. Mas seria uma falta de sinceridade imperdoável dizer que não passa pela nossa cabeça e você não me perdoaria. Mas ficar alimentando isso, pode criar um problema maior para a gente antes mesmo da eleição deste ano.