Guerra permanente, assalto das elites e taxação de grandes fortunas foram discutidas no 1º dia do Congresso de Policiais Antifascistas no RN
Natal, RN 18 de abr 2024

Guerra permanente, assalto das elites e taxação de grandes fortunas foram discutidas no 1º dia do Congresso de Policiais Antifascistas no RN

24 de março de 2022
8min
Guerra permanente, assalto das elites e taxação de grandes fortunas foram discutidas no 1º dia do Congresso de Policiais Antifascistas no RN

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Nesta quarta (23), primeiro dia do 3º Congresso Nacional de Policiais Antifascismo, realizado em Natal, no auditório do Cemure, em Natal, figuras como o economista Edurado Moreira, o do sociólogo potiguar Jessé Souza e da juíza federal Claudia Maria Dadico, falaram sobre as origens do pensamento fascistas e das desigualdades sociais e econômicas.

O encontro foi uma aula sobre o Brasil de hoje e os possíveis caminhos para a mudança necessária para evitar um aprofundamento da crise, que é não apenas econômica. Para Claudia Maria Dadico, juíza federal, o bolsonarismo é resultado da frustração das classes médias e têm muitas características em comum com o fascismo: como a recusa à crítica; o apelo ao nacionalismo; a noção de guerra permanente, como as que têm sido noticiadas diariamente no Brasil; a criação de um inimigo; a linguagem chula; o racismo; o culto ao heroísmo e à morte; o machismo e a homofobia.

Como dá muito trabalho ficar fazendo guerra toda hora, para sustentar o culto ao heroísmo, é mais fácil colocar a vontade de poder de um fascista na sexualidade alheia”, pontuou Claudia Maria Dadico durante o evento.

Mas, apesar das inúmeras semelhanças, na avaliação da juíza, o bolsonarismo ainda não é o fascismo, mas sua antessala, diante da atual fase do capitalismo, mais voltado para a especulação financeira e mais distante da produção de bens de consumo.

O que nos reserva se esse projeto não for detido? Queremos um país com um projeto de desenvolvimento, com sua soberania recuperada, sua pujança econômica, seu parque industrial que foi destruído pela operação Lava jato. O que queremos nos orgulhar da condição de brasileiro e num país com essa vocação, que efetivamente as polícias tenham um papel protagonista num novo papel na segurança pública orientado para a cidadania e Direitos Humanos e não um projeto de guerra permanente contra setores da população que sabemos quais são, aqueles vulneráveis e marginalizados”, arrematou a juíza federal.

Na sequência, o economista Eduardo Moreira falou sobre a necessidade de mudanças estruturais e não apenas estéticas. Uma delas, seria o tão falado imposto sobre as grandes fortunas, que não tocaria na questão essencial da exacerbada taxas de juros cobradas pelas operadoras de cartões de crédito no Brasil.

A armadilha que existe para a esquerda hoje é não aceitar as mudanças estéticas como as únicas possíveis. A estética é aquela que coloca uma irmã preta ou indígena na bancada de um jornal, mas a pauta continua sendo branca. A taxação de grandes fortunas é uma armadilha na qual caímos muitas vezes. É claro que tem que ter! Eles dizem ‘Meio por cento para quem tem 20 milhões é um absurdo, é saquear o patrimônio da pessoa. Quando cobraram esse imposto na França, muita gente fugiu’. A taxa de juro na França é próximo a zero, no Brasil é 12% ao ano! Você cobrar 0,5% do sujeito, significa que ele vai ganhar 11,5% ao ano ainda! Ele sabe disso e estica a corda, aí quando a mesa vai virar ele diz ‘tá bom, eu dou 0,5%, a esquerda conseguiu o que queria’. Conseguiu nada! Porque vai continuar tudo como antes se só tivermos imposto sobre grandes fortunas!”, criticou o economista que em pouco tempo der uma aula sobre o sistema financeiro.

Moreira também comentou sobre o desejo dos policiais de integrarem uma polícia mais cidadã e que isso é resultado de todo um sistema social que precisa ser construído no Brasil.

O sociólogo, escritor e professor universitário, Jessé Souza, fechou a noite explicando o pensamento que tem movido a sociedade brasileira no caminho do fascismo.

“Tem muita gente que diz: ‘estou cansado desses debates, eu quero é ir pra rua!’. Isso é extremamente ingênuo. Todas as mudanças e processos de aprendizado pelos quais todas as sociedades passaram durante a história inteira nesse planeta tiveram a ver com mudança de ideias! Quando a gente muda a consciência, já muda o comportamento na hora! Já não é mais aquela pessoa e já não vai mais perceber a sociedade da mesma maneira!”, incentivou Jessé nos momentos iniciais.

 Origem das elites

Jessé de Souza

“Duas classes mandam no Brasil. Temos uma pequena elite rural, a mais canalha, historicamente de ladrões e assassinos que montou sua riqueza com roubo de terras de posseiros, de famílias que estavam trabalhando produtivamente nesta terra. Depois vão legitimar essa propriedade, é claro, você sempre vai sempre encontrar um juiz, como um Moro, às vezes até mesmo na família desse dono de terras. Essa é a origem da riqueza econômica de um país.

Depois tem a outra elite, a parasitária que não faz nada, não produz nada, ela assalta o estado para cobrar a dívida pública, que ninguém sabe como funciona, mas que leva 50% do orçamento público, que não vai mais para o pobre, educação ou saúde, mas para o bolso da elite bancária.

É importante pra essa elite, que parasita o estado, legitimar o fato de só ela ter acesso ao estado para roubar a população. Você não pode dizer na cara dela ‘vocês são um bando de imbecis que só servem para ser humilhados e cuspidos em cima’. Nenhuma população admitiria isso. Todos os nossos intelectuais mais importantes vão dizer que o povo brasileiro - pobre, nordestino, mestiço e negro - tem uma herança criminosa de Portugal que vem desde a Idade Média! Isso é ensinado nas universidades e escolas todos os dias! Por que isso? Para que essa pequena elite e seus prepostos (defensores), serão quem vai cuidar das empresas, falar na televisão, nos jornais, ser articulista, político, juiz, quase todos brancos e reacionários. A imprensa vai ser a grande culpada por espalhar a mentira monumental de que a pobreza da população brasileira é do próprio povo! Você criminaliza a população porque a classe média branca que serve a essa elite não se vê como povo, mas como europeia!”, criticou Jessé.

Perseguição

Durante o encontro, Pedro Tchê, que é policial civil e membro dos Policiais Antifascistas no RN (Antifas/ RN), também falou sobre a perseguição que alguns membros do grupo de policiais antifascismo sofreram no Rio Grande do Norte por um membro do Ministério Público do RN.

“As pessoas talvez não façam ideia de quão forte foi essa perseguição, mas alguns dias ia dormir pensando que minha casa seria invadida na madrugada”, relatou.

familiares dos policiais homenageados

A terceira edição do Congresso Nacional de Policiais Antifascismo vai de 23 a 25 de março, no auditório do Cemure, tem como tema: “Por uma Segurança Pública Democrática, Antifascista e Antirracista”. Durante o evento, policiais federais, civis e militares que perderam suas vidas também foram homenageados. Dentre eles, o cabo da PM João Maria Figueiredo, assassinado em dezembro de 2018, aos 36 anos. Ele foi um dos idealizadores do grupo de Policiais Antifascismo.

Confira a programação desta quinta (24):

DIA 02 (24/03 - 18:30)

Local: Auditório do Cemure – Cidade da Esperança

Tema: A Segurança Pública no Brasil e a necessidade de reformulação estrutural e de relacionamento com a sociedade.

Convidados:
Anisio Marinho Neto
Páris Barbosa
Pedro Stédille
Tânia Oliveira

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