O que pensa a principal liderança feminina indígena do RN sobre a ida de Sonia Guajajara para o Ministério dos Povos Originários
Natal, RN 18 de abr 2024

O que pensa a principal liderança feminina indígena do RN sobre a ida de Sonia Guajajara para o Ministério dos Povos Originários

31 de dezembro de 2022
5min
O que pensa a principal liderança feminina indígena do RN sobre a ida de Sonia Guajajara para o Ministério dos Povos Originários

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, nessa semana, os 16 ministros que faltavam para completar a lista de 37 ministérios que vão compor o seu terceiro mandato à frente da Presidência do Brasil. Entre eles, 11 mulheres - um recorde até então - e a indicação histórica da primeira mulher indígena a ocupar um posto de ministra da República. Sonia Guajajara alcança o primeiro escalão do governo para comandar o também inédito Ministério dos Povos Originários.

Deputada federal eleita com quase 157 mil votos pelo PSOL de São Paulo, Sonia Guajajara é uma liderança indígena do Maranhão, da Terra Indígena Araribóia. Foi eleita uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela Revista Time e é reconhecida internacionalmente, em organismos como a ONU, o Parlamento Europeu e as Conferências Mundiais do Clima (COP), por sua luta incansável em defesa da causa indígena e por sempre denunciar violações de direitos contra povos originários no Brasil.

Lula anuncia Sonia Guajajara como ministra dos Povos Originários. Foto: José Cruz/Agência Brasil

"Mais do que uma conquista pessoal, esta é uma conquista coletiva dos povos indígenas, um marco na nossa história de luta e resistência. A criação do Ministério dos Povos Indígenas é a confirmação do compromisso que o presidente Lula assume conosco, garantindo a nós autonomia e espaço para tomar decisões sobre nossos territórios, nossos corpos e nossos modos de viver", disse a futura ministra em suas redes sociais, após a confirmação da sua indicação para o ministério.

Na ocasião, o presidente Lula anunciou, ainda, que a presidência da Funai e a direção da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) ficariam também com lideranças indígenas. Parte da informação se confirmou nesta sexta-feira (30), quando a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) - única indígena atualmente no Congresso Nacional - confirmou que aceitou o convite do presidente e deve assumir a Funai no próximo ano.

A participação indígena no parlamento é, aliás, um dos pontos sensíveis sobre a ida de Sonia Guajajara para o Ministério, segundo avalia Francisca Bezerra, da alideia Tapará, primeira liderança feminina indígena do Rio Grande do Norte, pertencente ao território dos tapuias-tarariús. Para ela, apesar de estar torcendo para que Sonia fosse a indicada, por outro lado, a "bancada do cocar" acaba perdendo um assento importante na Câmara dos Deputados.

Nas Eleições de 2022, além de Guajajara, foi eleita a deputada federal Célia Xakriabá, também pelo PSOL, mas de Minas Gerais. No entanto, com a ida de Sonia para o Ministério dos Povos Originários, assume o deputado Ivan Valente, que está na Câmara desde 1995, primeiro pelo Partido dos Trabalhadores e agora pelo PSOL - partido que também presidiu.

"Em 2022, nós fizemos uma campanha histórica pela bancada do cocar e conseguimos eleger duas deputadas. Então, se por um lado eu estava torcendo e fico muito feliz com a indicação de Soninha (sic) para o Ministério, por outro sinto que a nossa comunidade acabou perdendo uma liderança importante no Congresso".

Francisca Bezerra, liderança indígena da aldeia Tapará (RN)

Quase 3 mil indígenas vivem hoje no território tapuia-tarariú, entre os municípios de Macaíba e São Gonçalo do Amarante. Para Francisca de Tapará (uma das três aldeias que compõem o território) as principais demandas dos povos indígenas do Rio Grande do Norte são: demarcação das terras indígenas e atenção à saúde, além de educação e preservação da cultura e dos legados ancestrais dessas populações.

Francisca de Tapará durante o Acampamento Terra Livre, em abril deste ano. | Foto: Rafael Duarte

Outro nome cotado para o Ministério dos Povos Originários era o de Weibe Tapeba, liderança indígena cearense que coordena a Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince) e é vereador pelo PT no município de Caucaia. Francisca acredita que ele deverá assumir uma secretaria no Ministério e, nesse sentido, comemora que a ministra seja sua representante duplamente - por ser mulher e indígena.

"Estou muito feliz porque as mulheres precisam avançar. Por muitos anos, fomos silenciadas e tudo foi à base de muita luta, muito esforço, principalmente dentro da política. Pela primeira vez, o nosso povo vai ter autonomia, um espaço, ser ouvido dentro do Poder. Eu sei que ainda falta muito o que a gente conseguir, mas vamos seguir lutando para que os nossos direitos sejam ainda mais fortalecidos", disse a liderança indígena potiguar.

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