CIDADANIA

UFRN recruta pacientes resistentes a tratamentos tradicionais de depressão para pesquisa com medicação alternativa

Pelo menos 30% dos pacientes que fazem tratamento para depressão, apresentam resistência aos medicamentos. Mas, pesquisas que já vêm sendo desenvolvidas há alguns anos no Brasil e em outros países, apontam que desses 30% de pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais, pelo menos 70% consegue um bom resultado com a cetamina, uma droga usada como anestésico, mas que em doses pequenas, chamadas pelos pesquisadores de sub-anestésicas, possui uma rápida ação antidepressiva.

Pesquisadores do Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que vêm desenvolvendo um estudo com uso da cetaminha como alternativa para esses pacientes com depressão resistente a medicamentos tradicionais, estão recrutando voluntários. Para se cadastrar como voluntário o paciente precisar estar sendo acompanhado por um médico, que deve fazer o encaminhamento. Para se candidatar a voluntário, CLIQUE AQUI E PREENCHA O FORMULÁRIO.

O uso de cetamina já foi liberado nos Estados Unidos pela FDA (Food and Drug Administration) e no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas apenas no formato de spray, que tem um elevado custo e é inacessível à maioria da população, com preços que variam em torno de US$ 2,36 mil a US$ 3,54 mil. Pelo tratamento desenvolvido pelos pesquisadores do HUOL, a aplicação é feita de maneira subcutânea, o que barateia o tratamento.

Patrícia Cavalcanti, psiquiatra do HUOL

A cetamina já é usada há muito tempo como anestésico e pesquisas para sua utilização como alternativa ao tratamento da depressão são desenvolvidas desde a década de 90, tanto por via intranasal [spray], quanto endovenosa [dentro do vaso] e subcutânea [embaixo da pele], que é a que encontramos nos hospitais e tem baixo custo. Como na aplicação subcutânea o paciente não precisa estar no centro cirúrgico, em comparação com a endovenosa, os custos são mais baixos. Mas, a droga precisa ser administrada em um ambiente controlado, com médico, equipe e equipamentos, por exemplo. A pessoa não pode comprar uma ampola, que custaria cerca de R$ 10, para aplicar em casa, há os custos da aplicação”, explica a psiquiatra do HUOL Patrícia Cavalcanti, que também faz parte do grupo de pesquisa.

O tratamento com cetamina subcutânea é feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Huol desde 2016, mas apenas em fase de estudo. Sua aplicação subcutânea ainda não foi liberada pela Anvisa e nenhum hospital ou clínica da rede particular de saúde em Natal possui esse tratamento.

O estudo é realizado no Ambulatório de Psiquiatria do Huol há dois meses e atendeu cinco pacientes. O tratamento é gratuito, dura oito semanas e a administração da cetamina é semanal. Cada sessão semanal tem um tempo médio de duas a três horas. Além da administração da cetamina, são coletados dados clínicos e realizados exames de sangue a fim de investigar as alterações de moléculas relacionadas à depressão, por exemplo, os fatores de inflamação e os relacionados à resposta ao estresse. A equipe de pesquisadores é formada pelos professores Dráulio de Araújo e Fernanda Palhano-Fontes (ICe/UFRN), Nicole Galvão-Coelho (DFS/CB/UFRN), e Patrícia Cavalcanti e Emerson Arcoverde, do Departamento de Psiquiatria do Huol.

Resposta mais rápida

Para que um paciente seja considerado resistente aos tratamentos convencionais para depressão, ele precisa ter feito mais de dois tratamentos sem resposta, dentro do tempo e dosagem adequada.

Dos 70% dos pacientes que vão responder à cetamina, dentre aqueles 30% que são resistentes ao tratamento, a maioria vai apresentar respostas rápidas. A pessoa já sente diferença na primeira sessão, enquanto as outras medicações orais convencionais demoram, em média, três semanas para apresentar os primeiros resultados. Por isso, é uma medicação muito boa para pacientes com ideação suicida [pensamentos suicidas], porque a pessoa não precisa esperar de duas a três semanas”, detalha Patrícia Cavalcanti.

Múltiplas causas

Hoje em dia, os pesquisadores já sabem que os fatores que desencadeiam a depressão são múltiplos e que as medicações não conseguem abarcar todas as causas simultaneamente, por isso, há a resistência de muitos pacientes aos tratamentos.

Ao longo do tempo, foi-se vendo que o mecanismo que faz com que uma pessoa tenha depressão é o que chamamos de multimodal. São muitos fatores que as medicações convencionais nem sempre vão conseguir abarcar, são muitas alterações que ocorrem no organismo da pessoa”, esclarece a pesquisadora do HUOL.

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