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Parece inusitado, mas é isto mesmo: o Brasil alcança as quartas de finais da Copa da Rússia, ou seja, está entre os oito melhores, sem conseguir jogar de uma maneira que torne marcante, e inesquecível, o time de Tite.
Para contextualizar e ficar nas duas últimas conquistas: a de 1994 foi à história como a seleção engessada, dura na defesa, sem criatividade, sem jogar o fino, mas com dois atacantes que resolviam, Bebeto e Romário.
A de 2002 tinha um eixo habilidoso e criativo, com Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno. Todos em grande fase, compensavam as distorções que aqui e ali surgiam no escrete de Felipão.
Antes deles, a de 1970, a terceira das cinco conquistas, é incomparável: não bastasse Pelé no auge, tinha ainda, só, Rivelino, Tostão, Jairzinho, Gerson, para ficar da meiúca prá frente.
E essa seleção de Tite, caso conquiste algo, como ficará conhecida? Passados quatro dos sete jogos até a final, ainda não dá para cravar com que roupa a seleção pretende ir pro samba do hexa.
De fato, será hoje contra a Bélgica que o time terá de dar a cara à tapa e mostrar se merece mesmo o panteão que almeja - porque dos adversários anteriores não dá para dizer que rivalizam à altura ou que, em condições normais de temperatura, pudessem oferecer algum risco. Mas todos ofereceram, em maior ou menor grau.
A partida de hoje, então, pode definir a cara de um time campeão ou só mais um que tentou.
Pelos talentos que têm, se esperava bem mais do Brasil. Pelo conhecimento que o professor demonstra, e pelo currículo que detém, também se esperava mais.
O fato é que o Brasil vem alcançando seus objetivos, jogo a jogo, e talvez esteja aí o ‘diferencial Tite’: pragmatismo à toda prova. Jogar para vencer, ainda que não seja o fino.
Se for campeão, terá dado não um tapa de luva de pelica, mas um soco nos que duvidavam de sua estratégia - e entrará para a história.
Do contrário, terá fracassado embora dispusesse dos jogadores mais talentosos desde aqueles campeões em 2002, ou mesmo desde o fracasso de 2006.
Entre todos até agora, a Bélgica é o adversário mais perigoso. Tem jogadores habilidosos, destaques em seus clubes na Europa, tem conjunto, tem experiência, tem esquema tático e tem poder de fogo.
Mostrou tudo isso de uma vez só na partida contra os japoneses, quando sofreu um susto mas foi fria e forte o suficiente para botar a bola no chão e buscar a virada.
Tanto quanto qualquer outros, este é um jogo em que tudo pode acontecer. Mas como nenhum anterior, é o que mais põe em risco os sonhos de Tite.
A Bélgica tem grandes jogadores nos três setores, como Courtois no gol, De Bruyne no meio e Hazard e Lukaku na frente. Não perde há 23 jogos, desde setembro de 2016, tem 100% de aproveitamento nesta Copa, ou seja, venceu todos os jogos, e é o melhor ataque do mundial com doze gols.
O Brasil tem os destaques que todos conhecemos. Têm de justificar a fama. E o mundo pede Firmino no lugar de Jesus.
De certo, sai desse jogo um grande candidato a finalista. Acho que sai o campeão.
Continuo torcendo para o Brasil, enfim, deslanchar - e mais do que nunca repito o placar do jogo anterior, com 3 a 2 para os canarinhos e mais um teste para cardíaco.