Comenda Câmara Cascudo celebra povo brasileiro no Senado
Natal, RN 24 de abr 2024

Comenda Câmara Cascudo celebra povo brasileiro no Senado

10 de dezembro de 2018
Comenda Câmara Cascudo celebra povo brasileiro no Senado

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O cordelista potiguar Antônio Francisco e o rabequeiro alagoano Nelson da Rabeca foram os primeiros artistas do país a receber, no plenário do Senado Federal, a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo. A lista de agraciados foi maior, mas Antônio e Nelson representam a raiz do prêmio idealizado pela senadora Fátima Bezerra (PT) e concedido pelo Senado nesta segunda-feira (10).

A partir de agora, a comenda será entregue anualmente a personalidades da cultura brasileira. Os premiados de cada ano serão definidos por uma comissão de senadores.

Em 2018, primeiro ano da premiação, também receberam a comenda o ex-presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine) Nilson Rodrigues da Fonseca, o ator Pedro Baião, além de duas instituições: Câmara Brasileira do Livro e o Museu da Gente Sergipana. Também foram homenageados, in memorian, o baiano Romualdo Rosário da Costa (Mô do Katendê), o gaúcho João Carlos D’ Ávila Paixão Côrtes e o folclorista potiguar Deífilo Gurgel, cujo filho Carlos Gurgel agradeceu lembrando a trajetória do pai.

A entrega da comenda foi marcada por manifestações de protesto contra a já anunciada extinção do Ministério da Cultura. Uma do senador Paulo Paim (PT/RS), que citou o historiador Luiz Antônio Simas e destacou que o MinC é do povo brasileiro, e outra do ex-presidente da Ancine Nilson Rodrigues da Fonseca, que comparou a situação do MinC no futuro governo Bolsonaro com a extinção da Embrafilme, no governo Collor :

- Cascudo foi um dos primeiros historiadores do país a descobrir a diversidade da nossa cultura. E existe uma preocupação com a extrema gravidade da extinção do MinC. Não há país desenvolvido sem política pública que compreenda a riqueza do seu país. Lembremos quando o MinC foi extinto a última vez, em 1990, e só foi retomado quando o então presidente Itamar Franco viu como foi grave destruir suas instituições que fomentam e apoiam a cultura. Isso é muito grave. Que os senhores senadores aqui lutem contra a extinção do MinC porque a cultura mede o grau de civilidade de uma nação.

O cordelista potiguar Antônio Francisco agradeceu a homenagem em versos

Luís da Câmara Cascudo foi representado pela neta Daliana Cascudo, diretora do Instituto Ludovicus, entidade que concentra o maior acervo de Câmara Cascudo no Brasil. Ela contou histórias sobre a tentativa do avô de entrar para a política e ressaltou o legado dele, uma das maiores referências do país na área da cultura:

- “Essa comenda simboliza com fidedignidade seu objetivo. Nas palavras de Cascudo, cultura popular é básica, de uma sabedoria infinita. É uma mistura de constatações no tempo e no espaço. Todas as outras culturas são acessórias, a cultura popular é a principal. O Brasil sempre foi sua paixão e seu maior foco de estudo. Cascudo encantou-se há 32 anos, mas sua obra permanece viva. E a iniciativa da senadora Fátima Bezerra contribui de forma inequívoca para eternizar o nome de Luís da Câmara Cascudo”, disse.

O cordelista Antônio Francisco e o rabequeiro Nelson da Rabeca agradeceram a homenagem recitando poesia e tocando no púlpito do Senado. O alagoano, inclusive, lembrou que aprendeu a tocar aos 54 anos de idade, e hoje, aos 76 anos, fabrica o próprio instrumento:

- “Hoje eu vendo a rabeca para o mundo todo. Toquei muito Luiz Gonzaga. Aos poucos fui deixando as músicas dos outros e passei a tocar minhas próprias músicas”, contou.

O ator Pedro Baião, que tem síndrome de down e foi indicado a receber o prêmio pelo senador Romário (Solidariedade/RJ), agradeceu a homenagem e reivindicou mais acesso à cultura no país:

- “Estou muito feliz de estar aqui. Se você tem um sonho, lute por ele. Sem cultura nós não vamos a lugar nenhum. É com cultura que temos que enfrentar essa batalha. Temos que ter mais cinema, mais livros, incentivar a população a ler e a pensar mais. Nossa situação é grave sim, mas temos que dar a volta por cima. Temos que lutar para viver e aprender como a vida é “, afirmou.

Povo brasileiro

Idealizadora da Comenda, a senadora Fátima Bezerra presidiu a sessão e destacou a importância de Luís da Câmara Cascudo para o país.

- A matéria-prima do trabalho de Cascudo era o povo brasileiro. Ele estudava o homem a partir de sua história, das diferentes origens, dos romances, das poesias e, principalmente, do folclore. Não poderia deixar de registrar o imenso orgulho que tenho, na condição de representante do povo potiguar, de ter sido a autora do projeto de resolução que instituiu essa comenda no âmbito do Senado Federal, essa comenda que de maneira muito simbólica tem o nome de Luís da Câmara Cascudo.

Fátima Bezerra, que deixa o senado em 31 de dezembro para assumir a partir de janeiro o Governo do Estado, encerrou a premiação criticando o movimento Escola Sem Partido:

- Esse projeto Escola Sem Partido, no fundo, é a escola com mordaça. São ideias esquisitas de pessoas que querem restringir a liberdade de ensinar e de aprender, que querem interditar o debate que deve ser realizado. É um projeto que quer criminalizar o papel dos professores. Então, diante desses tempos, é muito bom falar de Cascudo. Por isso é muito bom ter aqui todas e todos vocês que merecidamente estão recebendo hoje que é a comenda Luís da Câmara Cascudo.

Cascudo

Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) nasceu em Natal (RN) e dedicou a vida aos estudos da história, da cultura e do folclore brasileiros. Como escritor, publicou mais de 200 livros, entre elas "Antologia do Folclore Brasileiro" (1943); "Geografia dos Mitos Brasileiros" (1947); "História do Rio Grande do Norte" (1955); "Jangadas: Uma Pesquisa Etnográfica" (1957); "Rede de Dormir" (1959); ''Nomes da Terra", (1968); "A Vaquejada Nordestina e Suas Origens" (1974); e "Antologia da Alimentação no Brasil" (1977).

 Para os especialistas em Câmara Cascudo, o grande mérito da pesquisa do historiador foi o de fazer um vasto trabalho de documentação de micro realidades ao longo de décadas de ação. Um trabalho que resultou em vasta contribuição para a reflexão de muitos pensadores brasileiros.

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