Casos e internamentos estão caindo, para onde vai a pandemia?
Natal, RN 25 de abr 2024

Casos e internamentos estão caindo, para onde vai a pandemia?

10 de fevereiro de 2022
6min
Casos e internamentos estão caindo, para onde vai a pandemia?

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Os casos e os internamentos por Covid no RN começaram a declinar. Desde o último dia 21 de janeiro os casos, e desde o último dia 28 de janeiro os internamentos. Esses dados podem ser pesquisados no Observatório da Covid do LAIS (covid.lais.ufrn.br) e no Regula RN que monitora os internamentos. Veja aqui

Do ponto de vista do balanço desse período, que ainda não está encerrado, pois há ainda dezenas de pacientes na fila de leitos de UTI, podemos dizer que desde o dia 17 de janeiro quando os casos de Covid ultrapassaram os de gripe, fato que possivelmente identifique também a maior prevalência da variante Omicron no RN, tivemos, pelo menos 202 óbitos, dos quais 80 em fila e 37.939 casos confirmados, números que falam por si só.

A partir da média móvel de idosos e não idosos internados podemos também estimar que foram internados em leitos críticos número superior a 250 idosos no período, dado muito importante porque os idosos voltaram a ocupar cerca de 70% dos leitos hospitalares. Diante desses presumíveis 250 internamentos propomos nos parágrafos abaixo um exercício para entender onde estamos.

Um exercício de proporções

Desses idosos internados em leitos críticos, estatisticamente falando, conforme a distribuição da freqüência entre vacinados com duas e com três doses, 193 teriam tomado duas doses de vacina e cerca de 57 teriam tomado três doses. Vamos nos lembrar que quem tomou três doses pode adoecer pelo fato de que as vacinas não protegem 100% dos casos mas número variando entre 94 e 97% para as formas graves segundo a vacina.

Para que 193 idosos com duas doses tenham sido internados em leitos críticos, terá sido necessário que um número próximo a oito mil idosos com duas doses tenham contraído Covid no período. Entretanto, os idosos com duas doses representam número total em torno de 110.000 no RN, ou 25% do total. Sobram ainda, portanto, um número próximo a 100.000 idosos que só tomaram duas doses e que (ainda?) não adoeceram. Teoricamente eles continuam susceptíveis de adoecer por Covid e de produzir proporcional número de internados (dez vezes mais). Isso significa que a pandemia por Omicron poderia ainda crescer nesse grupo nessa magnitude.

Por sua vez, para termos tido cerca de 57 idosos internados tendo tomado três doses de vacina, teríamos que ter tido algo como 23.000 idosos com três doses tendo adoecido por Covid no período. No entanto eles somam hoje total de cerca 330.000, pois em torno de 75% dos idosos já tomaram a terceira dose. Novamente vemos aí o potencial de crescimento que a pandemia ainda teria nesse grupo.

Essa "disponibilidade" latente de pessoas para o adoecimento tem que ser levada em consideração se pretendemos antecipar alguma tendência para a pandemia no RN. A pergunta que temos que fazer diante disso é: (a) Mesmo com um potencial de crescimento ainda imenso, a curva de casos, internamentos e óbitos pode diminuir de forma sustentada no RN e se sim, por que? e (b) Por que ,podendo crescer muito mais, a pandemia declinaria?

Portanto, antes de nos aventurar na análise de tendências, temos que considerar, em primeiro lugar, que continuamos num momento de elevadíssimo risco para a continuidade de expansão da Covid no Brasil em geral e no RN, em particular.

Ao mesmo tempo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem sinalizando que passada essa onda na Europa e "com a aproximação do verão do hemisfério Norte" poderíamos estar nos aproximando de uma longa trégua por lá. Isso significa que, oficialmente a instituição passou a trabalhar a Covid como doença sazonal. Esse é um dos elementos sistematicamente presentes nas falas do grupo de epidemiologistas seniores da instituição.

Atentemos ao fato de que no hemisfério Sul, ao contrário, nos aproximamos do inverno o que acentua o risco de piora do quadro epidêmico, como ocorrido em 2020 e 2021 quando os meses de junho e julho foram os de maior número de casos, internamentos e óbitos. É desses meses que nós nos aproximamos.

Temos portanto, dois componentes importantes de risco que devemos manter no radar: (a) a disponibilidade de susceptíveis e (b) uma sazonalidade de risco que se aproxima.

O que fazer?

A proporção de internamentos e óbitos na população vacinada é muito menor do que na população não vacinada e a diferença não é pequena. Para se internar um idoso vacinado com três doses num leito crítico é necessário que cerca de 400 tenham adoecido, no caso dos que estão sem cobertura vacinal, ou com vacinação atrasada essa proporção cai para 40.

Portugal, por exemplo, com seus mais de 90% da população vacinada completamente, resistiu aos picos da variante Ômicron de maneira menos dramática do que a França que só alcançou seus hoje quase 80% de vacinados no curso e em razão da explosão de casos, internamentos e óbitos decorrentes da variante Ômicron. Portugal ocupou substancialmente menos leitos que a França, embora o numero de doentes, lá também tenha sido (e esteja sendo) muito alto.

Isso significa que a estratégia de vacinar maciçamente os que não foram vacinados e os que ainda não completaram o esquema vacinal é extremamente vantajosa se realmente queremos reduzir os casos graves e os internamentos antes do nosso encontro cronológico com os meses de junho e julho. Isso inclui a todos, em especial as crianças, contingente mais numeroso em que podemos avançar e os idosos, contingente com maior potencial de adoecimento grave. Vacinar significa diminuir ainda mais a proporção entre os que adoecem e os que se internam e morrem.

As demais medidas continuam atuais o que inclui os cuidados do uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento e a obrigatoriedade do passaporte vacinal.

Quanto à vacinação devemos dar velocidade à cobertura do maior número possível de pessoas para que com isso consigamos, por meio de uma imunidade coletiva robusta, atravessar a estação de maior risco (junho e julho) de forma menos inquietante do que as dos anos de 2020 e 2021.

Se fizermos isso, teremos, no segundo semestre desse ano ou talvez antes a condição de ter começado a deixar esse pesadelo para trás.

Por hora devemos olhar a presente acalmia com o justificado alívio, mas também com redobrada atenção e desconfiança.

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