Seremos os protagonistas da reconstrução do país ou pautados pela direita? 
Natal, RN 19 de abr 2024

Seremos os protagonistas da reconstrução do país ou pautados pela direita? 

8 de fevereiro de 2022
6min
Seremos os protagonistas da reconstrução do país ou pautados pela direita? 

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“é necessário agregar e somar para vencer uma eleição, mas, na hora de governar, tem que fazê-lo (sic!) ao lado daqueles nos quais confia do ponto de vista ideológico, ético e pessoal.”

A qual ator político o/a prezado leitor/a atribuiria essa frase? Três chances para acertar. Agora que pensou nas suas alternativas, em que lado do espectro político ele estaria? Na direita? No centro? Na esquerda?

Inicio este artigo com essa frase, porque ela é a melhor ilustração para o momento em que vivemos, quando, em meio ao caos bolsonarista, o país afunda, ao mesmo tempo em que se discutem alianças, composições de chapa e etc. por todos os lados.

Se você apostou em alguém alinhado à esquerda, sobrou!, como diria minha mãe.

A frase é de um dos ícones da direita potiguar, reproduzida por um dos seus herdeiros políticos. Isso mesmo. Atribuindo-a a Dinarte Mariz, José Agripino se vangloriou de ter sido esse seu grande aprendizado com ele, em uma homenagem que o Senado Federal lhe prestara, em 2003, que é possível conferir aqui

Emblemática, a declaração nos diz bem porque a direita se mantém no poder desde sempre na nossa história. Ela tem clareza de seu projeto político, do seu lado, do que quer alcançar. Usa até os termos “democracia”, “diálogo”, mas governa com os seus, os ideologicamente alinhados, os apaniguados das relações de compadrio, sem pudor nenhum, para se manter no poder. Até se alia ao adversário, conforme a conveniência, mas nunca muda de lado, não perde o foco de conduzir a ferro seu projeto de dominação até o momento em que um golpe de estado lhe seja favorável para seu intento. Sim, na “democracia burguesa”, a democracia é mero detalhe. E embora a história nos mostre diariamente a realidade dessa posição, boa parcela da esquerda brasileira parece fazer questão de não entender. Essa direita, inclusive, pauta os temas, as alianças, por meio de seus veículos midiáticos e nós, empedernidos em não ficar com a pecha de “fechados ao diálogo”, “antidemocráticos”, absorvemos a pauta deles sem enxergar as estratégias de distração e de criação de falsos problemas (para lembrar o velho e necessário Chomsky) para evitar o aprofundamento do debate com a radicalidade que a conjuntura e a situação do povo brasileiro exigem. E isso, antidemocráticos, realmente, não somos! Ao menos, lutamos diariamente para que as relações democráticas prevaleçam sempre.

No entanto, em períodos eleitorais, parcela significativa da esquerda cai no clichê liberal de “dialogar com todo mundo” (coisa que a direita não faz, porque ela dialoga com os seus e põe no cabresto os adversários), sem colocar, antes, na mesa de mediação desse diálogo, o que é inegociável: as políticas de emancipação das populações mais vulneráveis, de garantias de direitos da classe trabalhadora, de superação das desigualdades. Essa é a chave que deve abrir as portas para quem quer agregar. Se nosso norte é uma sociedade igual e justa, os caminhos que pavimentam esse horizonte têm que ser percorridos no aqui e agora. Por isso, em um governo de esquerda ou progressista (para não ferir os conciliadores mais sensíveis), também é impensável compor com aqueles que sabotam, de todas as formas, na administração e fora dela, esses caminhos que levam a esse processo de superação das desigualdades e de emancipação do povo. Como sempre gostava de lembrar D. Pedro Casaldáliga, “na dúvida, fique do lado dos pobres”.

No jogo duro de uma pseudodemocracia como a que vivemos, em uma sociedade desigual como a nossa, com histórico mais de rupturas do que de vivências democráticas, não é possível que os grupos que pretendem pautar as necessidades da maior parcela da população caminhem com a ilusão de que adversários ideológicos, alinhados com a direita, com as oligarquias fazem autocrítica sincera.

Não nos esqueçamos de que, “com STF, com tudo”, e articulado por um vice, uma Presidenta da República teve o mandato surrupiado, um juiz ladrão atuou para retirar do caminho o líder das intenções de voto nas eleições de 2018, prendeu por mais de 500 dias um ex-presidente da República e, hoje, a sociedade brasileira amarga o recrudescimento da política neoliberal, aliada ao fascismo, e suas consequências: fome, mortes de mais de 600 pessoas por um vírus letal, desemprego, retirada de direitos, aprofundamento da violência contra as populações marginalizadas, empobrecimento da população, enfraquecimento dos mecanismos que garantem a democracia.

Neste cenário, ou a esquerda brasileira e seu maior instrumento de luta, que é o Partido dos Trabalhadores, dá uma resposta clara à população – que é o que ela espera – sobre de que lado caminha, com quem caminha – especialmente! – e por quê, ou amargaremos, em pouco tempo, mais uma sabotagem, que não atingirá apenas um partido, mas toda a população pobre e trabalhadora, como acontece agora.

O momento exige de nós coragem. Que não percamos o horizonte ao olhar apenas para o imediatismo dos cargos e das conformações de poder. Se, em 2018, neste pequeno elefante, por exemplo, ganhamos uma eleição contra todas as oligarquias, articuladas em um campo só, com o bolsonarismo em ascensão e com elas o defendendo, inclusive o adversário de quem ganhamos, o que mudou agora, após um mandato que, enfrentando todas as dificuldades – estado aos frangalhos, com dívidas vultosas com servidores e fornecedores e uma pandemia – mantém-se na liderança das preferências do povo para ter continuidade? O que mudou agora, com todo esse cenário escabroso para o povo e, mesmo após o achincalhe midiático sofrido e a prisão, o ex-presidente e líder das intenções de voto em 2018 continue sendo a principal liderança nas intenções de voto para este 2022, sem qualquer vice ligado à direita neoliberal?

Que se leia o recado que o povo deu e continua dando. Que tenhamos a coragem do posicionamento firme, de não abrir mão do nosso projeto político e de construir coletivamente os caminhos que nosso povo quer trilhar. E esse caminho não se trilha, no âmbito da institucionalidade, fazendo alianças de ocasião, mas construindo as bases sociais e políticas que garantirão uma bancada minimamente progressista cuja atuação será imprescindível para sedimentar a justiça, a equidade, a democracia e a soberania nacional. A história, inclusive a mais recente, nos mostra que essa agenda de desenvolvimento não cabe no projeto político da direita, assim como mostra que não se tem governabilidade com ela.

Como dizia Malcolm X, “o futuro pertence àqueles que se preparam hoje para ele”. Que nos preparemos, pois, e caminhemos também com Che: “se o presente é de luta, o futuro nos pertence!”

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