“Sou profissional, meu país me respeita”, diz médico cubano em Natal
Natal, RN 23 de abr 2024

“Sou profissional, meu país me respeita”, diz médico cubano em Natal

22 de novembro de 2018
“Sou profissional, meu país me respeita”, diz médico cubano em Natal

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Quando perguntado sobre a posição de Jair Bolsonaro em relação às condições de trabalho dos cubanos no Mais Médicos, José Miguel Rivaflecha, de 53 anos de idade, diz: “lógico que sou contrário. Sou cubano”.  Miguel Rivaflecha cumpriu os três anos do contrato para prestar serviço no município de Caicó, Rio Grande do Norte, entre 2013 e 2016, e, para ele,são absurdas as declarações do presidente eleito sobre serem escravos os profissionais vindos da ilha.

“Acho um absurdo! Temos um contrato, com termos que lemos e aceitamos. Nunca me considerei um escravo, sou profissional, meu país me respeita”, advertiu o médico, informando que sua remuneração incluía salário e auxílio-moradia, além de motorista para levá-lo ao trabalho.

Com quase 30 anos de Medicina, José Miguel mora hoje em Natal. Voltou para o Brasil em setembro de 2017 para casar com a caicoense Dorineide.

“Eu a conheci logo que cheguei e me apaixonei perdidamente. Esse foi o motivo que me trouxe de volta pra esse país maravilhoso”, explicou o médico, que pretende passar pelo teste Revalida e exercer novamente a profissão no Brasil, talvez novamente pelo Mais Médicos, que também contrata profissionais de outras nacionalidades que passe pelo exame.

Essa foi a terceira missão de Miguel fora do seu país de origem. Antes, esteve em dois países de língua inglesa: Seychelles, na África (de 2001 a 2003), e em São Vicente das Granadinas, na região do Caribe (de 2009 a 2013).

“Tenho muito respeito pelo programa, acredito que seja um programa sério que tem como objetivo principal ajudar a população carente. Minha experiência foi de muito aprendizado, pois sempre que vamos para um país compartilhamos nossas experiências em Cuba com a do país em que atuamos”, contou, ressaltando que é também com respeito que avalia o governo de seu país.

Miguel quer continuar vivendo no Brasil, apesar de mostrar em sua fala bastante patriotismo e amor à terra natal.

É meu país, meu povo, que passa por muitas dificuldades, mas sempre busca o melhor para nós. Ainda temos muito por fazer para que nosso povo tenha uma vida melhor, mas somos uma pátria unida, amamos até a morte”.

De acordo com o médico, o desligamento de Cuba do programa do governo brasileiro não surpreendeu os colegas, que estavam atentos à política brasileira. “Já era esperado, tendo em vista as declarações que o presidente eleito vinha dando durante a campanha”, revelou.

O Rio Grande do Norte vai perder 142 médicos cubanos após a decisão de Cuba em deixar o programa em razão das agressões e ameaças de Jair Bolsonaro, que anunciou que pretendia mudar regras do acordo entre os dois países a partir do próximo ano.

A estimativa é de que 500 mil potiguares sejam afetados de alguma forma pela ausência dos médicos cubanos. No Brasil, são aproximadamente 8.500 cubanos e cerca de 24 milhões de brasileiros atingidos.

O Ministério da Saúde lançou um edital esta semana para recompor o quadro de médicos do programa.

Saiba Mais: Sem Cuba no Mais Médicos quase 500 mil potiguares ficarão sem cobertura

Revalida

O Exame Nacional de Revalidação de Diplomas (Revalida) é uma prova criada pelos ministérios da Educação e da Saúde para reconhecimento de diplomas de medicina emitidos por instituições estrangeiras. Para atuar como médico no Brasil, o estudante formado no exterior precisa fazer o reconhecimento do seu diploma para solicitar ao conselho regional de medicina a autorização para  trabalhar. A primeira edição do Revalida foi em 2010, como projeto piloto, e o exame tornou-se oficial a partir de 2011.

A prova referente a 2018 ainda não foi realizada devido a um atraso da segunda etapa do exame de 2017, que somente foi realizado nos dias 17 e 18 de novembro.

A maioria dos médicos que fazem o exame são brasileiros que fizeram a graduação em medicina fora do país. Considerando apenas os médicos estrangeiros, os cubanos representam a segunda nacionalidade com o maior número de aprovados no Revalida.

De acordo com o Inep, Cuba fica atrás apenas da Bolívia, que já teve 491 médicos aprovados no exame. Segundo os dados, a taxa de aprovação de Cuba no Revalida é de 28,8%, a sétima mais alta, superior inclusive que a de candidatos de naturalidade brasileira.

Saiba Mais: Médico cubano custa menos da metade que brasileiro no interior do RN

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