Pico de contaminação do Coronavírus no RN deve acontecer no final de abril, estimam cientistas
Natal, RN 29 de mar 2024

Pico de contaminação do Coronavírus no RN deve acontecer no final de abril, estimam cientistas

31 de março de 2020
Pico de contaminação do Coronavírus no RN deve acontecer no final de abril, estimam cientistas

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O Rio Grande do Norte já acumula 82 casos confirmados, 1.836 sob investigação e uma morte em decorrência do Coronavírus, segundo o boletim epidemiológico divulgado no final a manhã desta terça-feira (31). E pelo modelo físico-matemático desenvolvido por dois astrofísicos brasileiros e um sanitarista tunisiano, as próximas semanas serão cruciais para evitar mortes em razão do pico da epidemia no Estado, previsto para o final do mês de abril.

O modelo foi batizado pelos pesquisadores de MOSAIC (EpideMic InfectiOus DiSease lArge populatIon Code cuja tradução livre é: Código de Modelo Infeccioso para População de Larga Escala).

Os modelos usam como dados o número de infectados e os óbitos. Os poucos números, porém, podem trazer imprecisão ao resultado. A preocupação, nesse caso, é com as subnotificações, que podem esconder números maiores do que os divulgados. Pra tentar contornar o problema, os cientistas levam em conta, também, o que tem ocorrido no restante do país. Assim, o esperado é que entre os dias 15 de abril e 1º de maio aconteça o pico dos casos de infecção da doença e, logo em seguida, o momento de hospitalização dos casos mais graves. Será nessa fase que o sistema de saúde será pressionado pelo maior número de internações dos pacientes.

As equações, comumente utilizadas na astrofísica para analisar fenômenos da natureza, é que ajudaram na construção do modelo, desenvolvido para prever como a pandemia do Coronavírus se comportará no Brasil. O MOSAIC foi iniciado pelos pesquisadores Wladmir Lyra, astrônomo da Universidade do Novo México, EUA, pelo professor do Departamento de Física da UFRN, José Dias do Nascimento Júnior, que atualmente é pesquisador no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, e pelo tunisiano PhD em epidemiologia veterinária pela UCDAVIS, Jaber Belkhiria. Mas, conforme o interesse pelo assunto foi aumentando, outras colaborações começaram a surgir e, atualmente, mais seis pesquisadores, além de uma equipe do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal (LAIS/ UFRN), fazem parte do projeto.

As informações têm sido úteis para que autoridades do setor adotem medidas para suavizar a curva de contágio e evitar que muitas pessoas adoeçam ao mesmo tempo, superlotando o sistema de saúde, que já não dá conta da demanda em dias normais. Os dados estão sendo usados pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) para montar suas estratégias de atuação.

Os gráficos apontaram alguns cenários possíveis. No pior deles, a estimativa para o Brasil era de 1,4 milhão até 2 milhões de mortes (com os dados anteriores ao dia 18 de março), caso nenhuma medida fosse adotada pelos governantes para conter a pandemia. Os cientistas apontam que iniciativas como o isolamento social e o lockdown ajudaram a conter a expansão do vírus.

“Apesar das circunstâncias políticas adversas no país, o governo adotou medidas e há esforço coletivo, tanto de enfrentamento para reduzir o contágio, quanto de preparo para o que vem pela frente. A sociedade civil também se mobilizou muito, inclusive, com a oferta de EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) para os profissionais de saúde”, avalia Ion Andrade, doutor em epidemiologia pela UFRN e co-autor do estudo.

Pra evitar que a doença se espalhasse, boa parte dos países entraram em quarentena e anunciaram uma inédita pausa na economia. A monotonia de ficar dias em casa só tem sido quebrada pelo ritmo frenético das estatísticas que mudam a cada minuto nos 202 países e territórios do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

José Dias do Nascimento Júnior é professor de Física da UFRN e pesquisador no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

As primeiras predições do grupo ficaram prontas no dia 18 de março, cerca de 15 dias antes dos números apresentados pelo Imperial College de Londres. As técnicas são diferentes, mas na avaliação dos cientistas brasileiros, os resultados próximos deram confiabilidade à pesquisa.

“Claro que eles têm mais recursos, são modelos mais completos e robustos. Nosso modelo é mais simples, mas dá bons resultados. Além de ser focado no Brasil e suas regiões, o que é importante, já que os ingleses não terão condições de atender a todos os países do mundo ao mesmo tempo. Precisamos ter autonomia na pesquisa. Publicamos que, sem medidas de contenção, o Brasil poderia chegar a até 2 milhões de mortos, enquanto o Imperial College apontou 1,15 milhão de mortes diante do mesmo cenário. Mas, além da margem de erro, que pode ser um pouco para mais ou para menos, nós também fizemos a previsão antes e com poucos dados, por estarmos bem no início da pandemia”, explica o astrofísico José Dias do Nascimento.

As lições que ficam de um cenário tão negativo, segundo os pesquisadores, é de que não dá para resolver grandes problemas sem levar em conta o conhecimento científico.

 “Foi a partir dos gráficos e agitação das predições dos modelos que a UFRN montou um grupo de proteção na atenção básica ao idoso. Nós fizemos isso porque os dados matemáticos apontavam essa como uma medida eficiente”, defende Ion Andrade.

Cientistas acreditam que o número de subnotificações é grande

Ion Andrade é médico do LAÍS

A previsão do modelo era de que o primeiro óbito no Rio Grande do Norte acontecesse entre os dias 26 e 27 de março. De acordo com a Sesap, a primeira vítima fatal do Coronavírus no Estado foi o professor doutor em Química da UERN, Luiz Di Souza, de 61 anos. Ele morreu dia 28.

“O modelo matemático é um parâmetro, é o mundo real que fala mais alto. Mas essa previsibilidade dá um grau de confiabilidade muito forte. Se você pensar bem, ele não errou, foi bastante preciso”, explica Andrade.

A data foi calculada a partir do registro dos primeiros casos e tem relação com a curva dos infectados. Os cientistas acreditam que o número real pode ser muito maior do que tem sido divulgado. A falta de testes e a subnotificação podem explicar os números oficiais:

“Não tem como ter uma morte num dia e nenhuma no outro. A não ser que tivéssemos feito um lockdown muito rígido, mas essas medidas foram recentes e não deu tempo de surtir esse tipo de efeito. O modelo não é uma mágica que dá os resultados por si só. Ele precisa ser alimentado com informações dos órgãos de saúde”, explica Nascimento.

Pesquisador brasileiro explica modelo criado para prever comportamento da pandemia no país

O astrônomo da Universidade do Novo México (EUA) Wladmir Lyra explica no vídeo abaixo o modelo físico-matemático SIR, em python (linguagem de programação), criado por três pesquisadores (dois brasileiros e um tunisiano) que prevê o comportamento da pandemia do Coronavírus no Brasil:

[embed]https://www.youtube.com/watch?v=mr8Tz01FtZc&t=26s&fbclid=IwAR0T_E1y9Gn89KhP09-Yrq5heWZzfJDXFyUKSZ_UFbcrop1xkeUFt8s15nc[/embed]

+ SAIBA MAIS
Projeções do modelo para o COVID-19, o progresso das infecções, cenário, níveis de demanda por hospitalização e progressão dos casos no Brasil e em cada estado podem ser encontrados em:

https://covid.lais.ufrn.br/#projecoes

+ VOCABULÁRIO
LOCKDOWN: Termo usado para descrever paralisações totais ou parciais do deslocamento de pessoas e, por consequência, da economia.

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