O filme Sideral foi a notícia desta quarta (21), ao integrar a lista preliminar para o Oscar 2023. O curta é um dos 15 selecionados dos quais sairão os indicados, entre 200 obras do mundo inteiro. Alguns podem estar surpresos, mas quem acompanha com atenção o cinema já conhecia a nova realidade do audiovisual potiguar, evidenciada no talento das pessoas reunidas e dirigidas por Carlos Segundo.
Produzido pela Casa da Praia e pela O Sopro do Tempo em coprodução com os franceses da Les Valseurs, Sideral discute questões essenciais de forma sensível e audaz, como o machismo nas relações familiares e a quem serve a tecnologia num país extremamente desigual.
Abandonando a surrada caricatura da trabalhadora doméstica, explorada no cotidiano e exaustivamente ridicularizada nas telas, o filme questiona os sentidos do desenvolvimento. Priscila Vilela, interpreta Marcela, uma mulher que chega ao limite, depois de ser explorada ao extremo. A protagonista lidera um elenco magistral que conta com Ênio Cavalcante, Robson Medeiros, George Holanda, Matteus Cardoso, Fernanda Cunha e Matheus Cunha
Dando tela para o nosso cinema.
Caberia uma crítica mais detalhada, que considerasse a montagem e os efeitos, até mesmo o som, ou a direção de arte - um curta metragem pode ser um filme imenso e este é o caso - mas há uma urgência. Esta obra reafirma a expressividade do cinema potiguar, que até pouco tempo, muitos faziam questão de ignorar.
O Oscar é conhecido pelo grande público, diferentemente de outros prêmios que Sideral já conquistou, muitos até mais representativos, mais diversos, mais plurais. Estar entre os 15 curtas selecionados já é uma vitória indelével, que ressalta o valor dos artistas no RN. E se trata de um projeto produzido com financiamento público da Lei Aldir Blanc, mostrando que a arte traz retorno não só simbólico ou estético - conquistou mais de 60 prêmios pelo mundo - mas também econômico e social, mesmo recebendo recursos irrisórios.
Sideral é a prova de que investir em cultura dá resultados, portanto é imperativo que gestores e políticos nos municípios, estados e o governo federal discutam políticas públicas com quem faz cultura e com a sociedade. Nossos artistas são daqui e são do mundo como um filme, mas precisam de palcos e telas para transcender, iluminar outros olhos.
É preciso criar uma secretaria estadual de cultura, bem como tirar do papel a secretaria municipal em Natal, avançando nas políticas públicas, com servidores, estrutura, e o devido investimento, como requer uma atividade essencial para o desenvolvimento. Nossa arte é a nave que nos levará às estrelas.