Marisa fecha na Cidade Alta e comerciantes dizem que especulação imobiliária afasta grandes lojas do centro de Natal
Natal, RN 20 de abr 2024

Marisa fecha na Cidade Alta e comerciantes dizem que especulação imobiliária afasta grandes lojas do centro de Natal

22 de maio de 2023
Marisa fecha na Cidade Alta e comerciantes dizem que especulação imobiliária afasta grandes lojas do centro de Natal

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Apesar do anúncio recente de fechamento da loja Marisa localizada na Avenida Rio Branco, na Cidade Alta, os pedidos de abertura de novos negócios (1.248) superou as solicitações de fechamento de empresas (650) no centro de Natal entre os anos de 2019 e 2023, segundo os dados da Jucern (Junta Comercial do Rio Grande do Norte).

O encerramento das atividades da Marisa na Avenida Rio Branco faz parte de um programa de “eficiência operacional” da rede, que anunciou o fechamento de unidades em diferentes estados do país num total de 91 lojas, sendo 25 entre março e abril, 33 em maio e outras 33 lojas em junho.

No centro da capital potiguar, as atividades serão encerradas em definitivo até o dia 31 deste mês. Até lá, a direção da Marisa está fazendo promoções com descontos de até 40% em suas peças para queimar o estoque. Além disso, a promessa é de que não haja demissões e os 18 funcionários da unidade sejam transferidos para as lojas do Partage Norte Shopping e do Midway Mall.

“Não há perigo de nos tornarmos uma Ribeira”

Mas, mesmo enfrentando o fechamento de algumas lojas de grandes redes, como a C&A e a Renner no ano passado, os comerciantes da Cidade Alta ainda apostam que a região é uma área promissora da capital potiguar. Recentemente, a região passou por uma reforma das calçadas com a criação de espaços para ciclovias.

Na verdade, o centro de Natal vem passando por uma mudança de características de centro comercial varejista para centro de empresas prestadoras de serviços. Se você prestar atenção, em ruas como a Felipe Camarão, Princesa Isabel... há muitas clínicas, laboratórios, escritórios, galerias. O Centro sempre vai ser forte, temos uma infraestrutura muito boa, ônibus para as quatro zonas de Natal, uma Avenida Rio Branco repleta de bancos. Não há perigo de nos tornarmos uma Ribeira, argumenta Rodrigo Vasconcelos, presidente da Associação Viva o Centro de Natal.

Espaço para ciclovias I Avenida Rio Branco, Cidade Alta, Natal (RN) I Foto: Mirella Lopes
Espaço para ciclovias I Avenida Rio Branco, Cidade Alta, Natal (RN) I Foto: Mirella Lopes

Aluguéis caros...

Um dos problemas apontados pelos comerciantes da Cidade Alta para o fechamento de lojas seria o elevado valor cobrado pelos aluguéis, principalmente, na avenida principal, a Rio Branco, onde estão imóveis maiores e antigos.

Temos um estudo da Jucern que mostra que de 2019 até hoje o número de empresas instaladas aqui na Cidade Alta cresceu em torno de 45%. O que a gente coloca é que não tem condições dos proprietários de imóveis cobrarem preços absurdos, se os empreendedores não têm condições de entrar com a locação de um imóvel custando até R$ 100 mil. O que acontece é que o dono da loja não consegue se manter por muito tempo. A C&A, por exemplo, pagava um aluguel de R$ 120 mil. Qual é a empresa hoje no Brasil que, com a queda do varejo, vai conseguir manter um aluguel de R$ 120 mil?”, questiona Rodrigo.

Na avaliação do presidente da Associação Viva o Centro de Natal, muitos dos imóveis localizados na Avenida Rio Branco, área mais valorizada, são grandes, antigos e pertencem a famílias que preferem manter o local fechado a baixar o preço dos aluguéis.

Para incentivar uma maior ocupação do centro da cidade, alguns projetos estão sendo estudados junto à Prefeitura de Natal, como a concessão de descontos no ISS (Imposto Sobre Serviços) para empresas de prestação de serviços que se instalarem na Cidade Alta, assim como descontos no IPTU para aquelas que recuperarem a fachada histórica do prédio onde estão instaladas.

"Não podemos esconder a especulação imobiliária que está acontecendo na Cidade Alta, com cobrança de aluguéis acima do valor de mercado. O empreendedor não consegue sequer abrir uma empresa por causa do alto valor cobrado. Estamos estudando, inclusive, junto a Prefeitura do Natal um projeto de Lei para incentivar empresas prestadoras de serviços a se instalarem no bairro com o benefício de isenção parcial de ISS, como também uma isenção de IPTU para quem restaurar os prédios históricos. Porém, precisamos da sensibilidade dos donos de imóveis em rever os valores dos aluguéis. Não entendo como preferem deixar um ponto comercial fechado por vários anos, gerando custos de IPTU e manutenção, do que baixar o valor e gerar renda", desabafa Rodrigo.

Subida da Avenida Rio Branco, centro de Natal I Foto: Mirella Lopes
Subida da Avenida Rio Branco, centro de Natal I Foto: Mirella Lopes

Reforma

A Prefeitura de Natal deu início a uma reforma com a proposta de valorizar a área central da cidade e criar um ambiente para melhor convivência através de um plano de revitalização do Centro Histórico, que inclui os bairros de Cidade Alta e Ribeira.

O calçadão da rua João Pessoa vai ganhar áreas de convivência, com caramanchões (cobertura arborizada) que vão servir de ponto de descanso para quem estiver precisando escapar das altas temperaturas da “Cidade do Sol”.

O projeto também prevê a substituição da atual fiação dos postes por dutos de fiação subterrânea. Também será construído um espaço exclusivo para pedestres, desde o trecho entre a avenida Rio Branco e a rua Princesa Isabel, que terá um palco que vai permitir a visualização de qualquer ponto do trecho, para atrações culturais. Também está prevista a revitalização da Praça Padre João Maria, com a criação de um espaço lúdico de descanso e de brincadeira para crianças na região.

Trecho do Calçadão da João Pessoa que fica entre a avenida Rio Branco e a rua Princesa Isabel I Foto: Mirella Lopes
Trecho do Calçadão da João Pessoa que fica entre a avenida Rio Branco e a rua Princesa Isabel I Foto: Mirella Lopes
Projeção do Calçadão da João Pessoa após requalificação I Imagem: Prefeitura de Natal
Projeção do Calçadão da João Pessoa após requalificação I Imagem: Prefeitura de Natal

Um lugar histórico

O terreno onde se situa o prédio nº 669, na Cidade Alta, antiga C&A, já abrigou grandes casas da elite natalense e um mercado municipal, cuja parte da construção resiste, ao lado da C&A, na Rua João Pessoa. Inclusive, a memória do lugar expressa no painel feito pelo artista plástico Dorian Gray Caldas, por encomenda da empresa, em 1992.

No século passado, aquela esquina e o seu entorno ficaram conhecidos como Grande Ponto, por concentrar a efervescência política, comercial e cultural da época; os encontros.

“A maior parte das casas foi derrubada entre os anos 20 e 50. Petrópolis e Tirol passaram a assumir essa função residencial; enquanto o Centro, a comercial, com cafés, lojas, mercado,… tinha o escritório da Cruz Vermelha, os principais cinemas…”, conta o professor e historiador Henrique Lucena, ao lembrar que chegou a comer em uma das lanchonetes dali quando criança, nos anos de 1980.

Historiador Henrique Lucena fala sobre importância do encontro da Av. Rio Branco com a Rua João Pessoa para a cidade de Natal
Historiador Henrique Lucena fala sobre importância do encontro da Av. Rio Branco com a Rua João Pessoa para a cidade de Natal
Cartão-postal “Cidade Moderna”, Jaeci Galvão, Natal, RN. O grande ponto, cruzamento da Avenida Rio Branco com a Rua João Pessoa, final da década de 1940.
Cartão-postal “Cidade Moderna”, Jaeci Galvão, Natal, RN. O grande ponto, cruzamento da Avenida Rio Branco com a Rua João Pessoa, final da década de 1940.

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