Um estudo conduzido por pesquisadores ligados à Fundação Oswaldo Cruz, Universidade Federal da Bahia e Centre for Global Mental Health (Londres) demonstrou recentemente que o Programa Bolsa Família foi responsável por uma diminuição do número de suicídios entre populações de baixa renda no Brasil.
Os pesquisadores chegaram a esse resultado cruzando dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2004 e 2012. O artigo revelou que, quanto mais e por maior tempo um município recebe o programa de transferência de renda, menos seus habitantes dão fim à própria vida. A pesquisa foi publicada na última edição da revista científica Social Psychiatric and Psychiatric Epidemiology. Leia um resumo do artigo aqui.
A hipótese dos pesquisadores é que a melhoria das condições econômicas de pessoas com muito baixa renda tenha contribuído para melhoria da saúde mental e, por consequência, para a diminuição de suicídios. Outra descoberta foi que houve maior redução de mortes por essa causa entre mulheres - designadas pelo programa para receber diretamente os recursos. Outros estudos já demonstraram que o Bolsa Família diminuiu o índice de doenças ligadas à pobreza como mortalidade infantil, lepra e desnutrição.
O artigo também mostrou que o suicídio foi maior entre pessoas com baixa renda, baixa escolaridade, estado civil separado e que vivem sozinhas. Por outro lado, pessoas empregadas, ligadas à religião Pentecostal e em municípios mais urbanizados morreram menos por essa causa.
Além da implementação e ampliação do Bolsa Família, entre 2004 e 2012 também houve incrementos no Programa de Saúde na Família, no número de empregos e na escolaridade, e uma queda no número de pessoas com muito baixa renda no Brasil. Curiosamente, dentre estes apenas o aumento do Programa de Saúde da Família não se mostrou protetor contra suicídios.
O suicídio é responsável por cerca de um milhão de mortes todo ano ao redor do mundo. O Brasil ocupa o oitavo lugar na posição entre os países em que mais se suicida: em 2012, quase 5,8 pessoas a cada 100 mil habitantes cometeram o ato. Há diferença entre os sexos: homens suicidam-se três vezes mais que mulheres, e pessoas mais velhas mais que pessoas mais novas.