“Ontem foi Marielle, já foi a Doroty e amanhã pode ser eu”.
Natal, RN 19 de abr 2024

“Ontem foi Marielle, já foi a Doroty e amanhã pode ser eu".

22 de dezembro de 2018
“Ontem foi Marielle, já foi a Doroty e amanhã pode ser eu

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Um dia depois da execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), o soldado da Polícia Militar João Maria Figueiredo, um dos líderes do movimento dos Policiais Antifascismo no Rio Grande do Norte executado com cinco tiros na cabeça nesta sexta-feira (21), participou de um debate sobre Violações dos Direitos Humanos no interior das Corporações Policiais, durante o Fórum Social Mundial, realizado em março de 2018, em Salvador (BA).

A participação de Figueiredo durou 14 minutos e foi gravada em vídeo, onde ele desabafa sobre as dificuldades e os desafios assumidos pelas pessoas que lutam em defesa dos Direitos Humanos no país:

- Vi meus colegas cariocas lamentando, chorando pelo que ocorreu ontem (a execução de Marielle). Infelizmente, tentaram dar uma prova de força. Marielle foi a vítima recente, já foi a Doroty (missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005 no Pará), tantas outras. E amanhã pode ser eu. Mas quando eles eliminam uma pessoa, eles fazem nascer várias outras. Agora vão nascer várias outras Marielles porque aquilo ecoa e o poder do exemplo é muito forte.

O corpo de João Maria Figueiredo foi encontrado numa estrada carroçável por trás do motel Ele&Ela, na Zona Norte de Natal. A arma e o telefone celular do PM foram levados. Figueiredo participou voluntariamente da equipe de segurança da campanha eleitoral da governadora eleita Fátima Bezerra (PT) e é o 26º policial assassinado no Estado em 2018.

Fátima cobrou apuração do crime, que será investigado por uma comissão formada por quatro delegados da Divisão de Homicídios, além do núcleo de inteligência da Polícia Civil. Ainda não se sabe se o assassinato tem relação com a atividade profissional do PM nem com a militância dele ligada à defesa dos Direitos Humanos.

Durante o Fórum Social Mundial, Figueiredo também comentou sobre as dificuldades de policiais defenderem posições progressistas dentro das instituições:

- Quando você fala em Direitos Humanos no interior das corporações é taxado de “esquerdalha”, “esquerdopata”, dizem que é pra proteger bandido. Hoje é bem difícil você ter posições progressistas dentro das instituições, infelizmente, seja ela civil, militar, federal. Essa história de dizer que só a PM é ruim, não é. O numero de suicídio da PF é maior entre agentes e escrivães muito por conta do assédio moral e outras questões. Na PM aparece mais porque é a polícia que lida mais com o povo.

Figueiredo entrou para a Polícia Militar em 2009, mas começou a ampliar sua visão política bem cedo, através do movimento estudantil e do convívio com lideranças de movimentos sociais e sindicais do Estado. Se filiou ao Partido dos Trabalhadores na juventude e permaneceu como membro do PT até entrar para a PM, sendo obrigado a se desfiliar em razão do regimento da instituição. Ele também cursou Direito, na Uni Nassau, o que ajudou a questionar o próprio trabalho:

- Quando você faz o curso de Direito a semente da discórdia começa a nascer na sua cabeça", disse no debate em Salvador

Como liderança do movimento dos Policiais Antifascismo no Estado, Figueiredo acreditava que a mudança na mentalidade dos operadores da Segurança Pública dentro das corporações viria da sociedade:

- Comecei no Rio Grande do Norte tentando reunir os policiais que tinham pensamentos progressistas. Começamos com cinco, passamos para 13 e hoje somos 80. Temos um núcleo disposto a discutir segurança pública com cidadania, participação popular e direitos humanos. E agora estamos nos inserindo nos movimentos populares, com outros setores, juventude, LGBT, negros. Sou persona non grata devido aos meus posicionamentos. Mas vejo a necessidade de que a sociedade se reaproxime. A mudança vem de fora para dentro, através de espaços como esse. Defender direitos humanos nesse contexto é difícil e no Brasil está ficando mais difícil ainda", afirmou.

Saiba Mais: Segurança da campanha de Fátima é executado com cinco tiros na cabeça em Natal

Governadora eleita Fátima Bezerra cobra apuração do crime

A governadora eleita Fátima Bezerra (PT) cobrou a "devida apuração" para que os responsáveis pela execução de João Maria Figueiredo sejam identificados e punidos nos rigores da lei. Consternada, ela divulgou uma nota de pesar sobre o assassinato do soldado da PM e um dos líderes do movimento dos Policiais Antifascismo no Estado:

O assassinato brutal do querido Figueiredo nos deixa consternados, com profundo sentimento de perda, abalados em alma. Ao mesmo tempo, os exemplos de coragem e de solidariedade que nosso amigo nos deixou nos inspirarão para continuarmos a luta por dias melhores, por uma sociedade mais justa e para todos e todas.

 Queria bem a ele como um filho, um irmão.

 Que tragédias como a de Figueiredo - infelizmente cada dia mais presentes na vida de nossos trabalhadores e abnegados profissionais da Segurança - tenham a devida apuração e elucidação.

 Sua memória não será esquecida, meu amigo. Meus sentimentos aos familiares e amigos e meu abraço fraterno.

 Figueiredo, presente!

 #SaudadesSempreFigueiredo

 Fátima Bezerra

Senadora e governadora eleita do RN

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