Onze pessoas morreram em conflitos no campo, no Nordeste, em 2021
Natal, RN 19 de abr 2024

Onze pessoas morreram em conflitos no campo, no Nordeste, em 2021

19 de abril de 2022
4min
Onze pessoas morreram em conflitos no campo, no Nordeste, em 2021

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Os conflitos no campo continuam sendo marcados por atos violentos. Em 2021, 11 pessoas foram assassinadas no Nordeste lutando por dignidade na zona rural, segundo a publicação “Conflitos no Campo Brasil 2021", do Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (Cedoc-CPT), divulgado na segunda-feira (18). Em todo o país, foram 35, o que representa uma alta de 75% em comparação com o ano anterior, quando foram registrados 20 homicídios.

Na Bahia, dois homens foram mortos. Em 7 de agosto, Wagner Romão da Silva, presidente da Associação Marisa Leticia, da Fazenda Lagoa da Serra, em Oliveira dos Brejinhos, foi assassinado na sede do Assentamento. Em 23 de agosto, foi o indígena tupinambá Alex Barros Santos da Silva, de 37 anos, em Ilhéus, enquanto trabalhava no roçado em sua casa, segundo relatos.

No Maranhão, nove trabalhadores perderam a vida nesse tipo de conflito. O quilombola Antônio Gonçalves Diniz, de 70 anos, foi executado no município Arari. No mesmo município, o posseiro João de Deus Moreira Rodrigues, 51, conhecido como Conzinhado, foi atacado por dois pistoleiros em frente a sua residência no Povoado Santo Antônio. No final de 2020, ele já havia sido vítima de tentativa de homicídio.

Em Bom Jardim, a vítima foi o indígena José Vane Guajajara, de 26 anos, que vivia na aldeia Januária, da Terra Indígena Rio Pindaré.

Também foram vítimas o quilombola da Comunidade Vergel José Francisco de Souza Araújo, apelidado de Vanur, na Fazenda Boa Esperança, município de Codó; e outro quilombola sem nome identificado que vivia na Comunidade Paiol do Centro, Povoado Jabuti/Suzano, em Parnarama.

O casal Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa foram mortos em emboscada no dia 18 de junho, no Povoado Vilela/Gleba Campina, município de Junco do Maranhão. Maria da Luz era dirigente sindical. O filho de criação do casal, de apenas 2 anos de idade, foi encontrado vivo, sobre o corpo da mãe, banhado de sangue. Uma nota cobrando justiça foi assinada por mais de 130 organizações.

Em novembro, Maria José Rodrigues, 78, e o filho José Carmo Corrêa Júnior, 38, coletavam coco babaçu quando foram atingidos por uma palmeira derrubada por um trator na Comunidade Bom Lugar, no município de Penalva. O motorista fugiu. Segundo denúncias à polícia, a árvore teria sido derrubada após ordens de um fazendeiro que pretendia plantar capim na região.

Outros sete estados também registraram mortes em conflitos agrários: Goiás (1), Mato Grosso (1), Pará (2), Rio Grande do Sul (2), Rondônia (11), Roraima (1) e Tocantins (3).

O relatório registra ainda que, em 2021, 897.335 pessoas se envolveram em 1.768 conflitos no campo (trabalhistas, por terra e por água). Esse número era de aproximadamente 1.300 entre 2012 e 2015, mas se mantém superior a 1.500 desde então, atingindo a maior quantidade em 2020 quando foram enumerados 2.054.

Série histórica

Apesar do grande aumento de assassinatos em 2021 se comparado a 2020, os anos que antecedem esta década foram até mais sangrentos. Em 2019, 32 assassinatos foram registrados com o conflito no campo como causa. Em 2018, 30; em 2017, 71; em 2016, 64 morreram assim; em 2015, foram 50; em 2014, 37; em 2013, 35; e em 2012, 36.

A dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Antônia Ivoneide, Nenem, contou em entrevista ao Programa Balbúrdia desta terça-feira (19), que as populações mais afetadas por esses conflitos são indígenas e quilombolas, mas também os sem-terra. Ela acredita que a redução desses crimes em 2020 se deve ao impedimento de despejos.

“A gente teve uma perspectiva de não ter acontecido mais casos durante 2020 por causa da ação do STF que impediu despejos durante a pandemia. Mais de 20, 30 mil famílias poderiam ter sido despejados e provocado também muito mais violência”.

Na opinião da dirigente do MST a violência se sustenta pela impunidade e pela motivação. “Há a destruição daquilo que poderia ser instrumento de fiscalização, de acompanhamento, a perseguição aos defensores dos direitos humanos”, comenta. “O povo do campo está à mercê da lei do mais forte. E o mais forte agora tem um defensor principal, que é o atual presidente da República [Jair Bolsonaro], e que está armando os empresários e fazendeiros, e dando o direito de ter milícias armadas no campo. Por isso que a violência aumenta”, completa Antônia Ivoneide.

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