A falácia do antipetismo
Natal, RN 25 de abr 2024

A falácia do antipetismo

23 de agosto de 2022
4min
A falácia do antipetismo

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Por Artemilson Lima

Sabemos o quão comum é ouvir em discurso corrente que há uma resistência ao PT e a Lula. Isso é verdade, porém há controvérsias. Essa papagaiada diária na grande imprensa contagiou muita gente país afora, inclusive alguns que outrora votavam no PT. É corrente a sentença senso-comum sobre os erros do PT, como justificativa para a pessoa ser “antipetista” ou pelo menos ser vacilante na defesa do legado social deixado pelo PT nos 13 anos de governo. Para esses, as derrapadas do partido são mais expressivas do que os seus acertos. Há ainda uma parcela muito significativa da população que nunca votou no PT, aliás, nunca votou na esquerda, desde que foi reestabelecida a nossa claudicante democracia a partir de 1989, com a primeira eleição direta para presidente, depois da ditadura.

A goga fácil de que o PT inventou a corrupção, de que os petistas são todos bandidos ou de que apoiam o aborto, o casamento gay e estabeleceram um pacto com o demônio etc. ajuda a construir o que, falaciosamente, é embolsado como antipetismo, como se o PT fosse signatário de todo o mal e das desgraças que assolam o país. No entanto, quando fazemos um retrospecto histórico das eleições presidenciais desde 1989, essa tese do antipetismo se desmancha como torrão de açúcar na chuva. Sim, isso mesmo.

O PT surgiu em 1980, como um partido de esquerda que não era levado a sério pela direita brasileira. Quantas gargalhadas não ouvi de gente da direita quando, em 1982, apresentamos o nome de Rubens Lemos para Governador? Consideravam-nos ingênuos sonhadores, utópicos − o que é em parte verdade e do que me orgulho −, e que nunca chegaríamos a eleger sequer um vereador aqui no estado do RN. Que motivação esse pessoal tinha para desdenhar desse “partideco”, sabendo que ele não incomodaria o sono de ninguém, por pertencer a uma pouco expressiva esquerda, representada antes apenas pelo PCB e PCdoB que, desde suas fundações foram os bravos defensores do povo, dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros?

Pois bem. Desde 1989, esse partido de ingênuos vem, cada vez mais, se afirmando como a principal opção de parte significativa do povo e como incômoda pedra no caminho da direita reacionária e ultrarreacionária do Brasil, que já existia muito antes de o PT se consolidar como o maior partido de esquerda da América Latina. O que prova isso é o fato de, em 1989, 1994 e 1998, o embate ter se dado entre Lula x Collor; Lula x FHC. No período de 2002, 2006, 2010 e 2014, quatro eleições foram ganhas pelo PT. Mesmo depois do golpe de 2016 e da sórdida perseguição ao PT e a Lula, que todos já conhecem de cor e salteado, deu Haddad (PT) x O inominável (PSL). Agora, estamos diante de um novo pleito e, pasmem, quem está na disputa com sérias chances de vencer, inclusive no primeiro turno? O PT.

Então, precisamos perguntar: existe mesmo um antipetismo? Ou o que temos é um reacionarismo antiesquerdista histórico que combateria as pautas sociais de qualquer partido que fosse, de qualquer sigla que as defendesse, como foi o caso da histórica perseguição feita pela elite de direita ao PCB e PCdoB, ao longo de quase um século? Como justificar o discurso do antipetismo se, nas últimas décadas, a adesão do povo ao partido, demonstrada em seguidos pleitos, faz dele a opção de quase metade do eleitorado brasileiro? Por que nunca se criou a ideia de um antipeemedebismo, ou antipsdebismo, ou antipefelismo? Que história é essa de antipetismo?

Portanto, na verdade, isso é uma falácia. Essa balela foi plantada apenas para legitimar o reacionarismo e o ultra reacionarismo existentes na sociedade brasileira, desde sua gênese. Acerca disso, é preciso refletir a quem interessa a disseminação desse discurso de que, no Brasil, há um antipetismo. No Brasil, verdadeiramente, o que há é um projeto antipopular e antidemocrático, pois o povo e a democracia são os grandes fantasmas que atormentam as noites da elite de direita do Brasil, esta que, desde sempre, demonstrou grande desprezo pela democracia.

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