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Suspensão de bolsas pela Capes em 2019 atingiria no RN mais de 1.800 pesquisadores
3 de agosto de 2018

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A ameaça de suspensão das bolsas de mestrado e doutorado pela Capes, a partir de agosto de 2019, vai atingir 1.866 pesquisadores das três universidades públicas do Rio Grande do Norte, além do Instituto Técnico Federal. A justificativa é a estimativa de corte no orçamento destinado à Educação para o próximo ano.
Em nível nacional, a Capes estima que 200 mil bolsas podem ser suspensas a partir do segundo semestre do próximo ano, entre as quais, 93 mil de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) e outras 105 mil de programas de formação de professores da rede básica de Educação.
Contabilizando as pesquisas desenvolvidas na UFRN, UERN, UFERSA e no IFRN com o auxílio das bolsas para estudantes de pós-graduação, a Capes financia no Estado 1.097 estudantes de mestrado e 769 doutorandos. A maioria das bolsas está concentrada na UFRN e correspondem a 86% da pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no Estado.
O investimento total só no RN equivale a R$ 3.337.300 por mês, levando em conta que a Capes paga R$ 1.500 para cada bolsista de mestrado e R$ 2.200 por cada pesquisador de doutorado. O tempo de duração do auxílio varia de acordo com o título. A bolsa de mestrado é paga por até 24 meses e a bolsa de doutorado tem duração máxima de 36 meses.
As duas únicas linhas de financiamento público para pós-graduação no Rio Grande do Norte vêm da Capes e do CNPq. Porém, a Capes responde por mais de 90% desse investimento.
O pró-reitor de pós-graduação da UFRN Rubens Maribondo é categórico ao afirmar que caso essa suspensão seja levada adiante, os 90 programas de pós da UFRN correm o risco de fecharem:
- Vai parar tudo. Temos 90 programas de pós-graduação, em todas áreas de conhecimento. Se houver esse corte, vai fechar mesmo. A maioria das pesquisas desenvolvidas no Instituto do Cérebro tem o apoio de pesquisadores de mestrado ou doutorado. Não lembro, mesmo quando fui aluno, de acordar com uma notícia dessa de corte dessa forma.
Segundo Maribondo, 25% dos estudantes de mestrado e doutorado da UFRN recebem bolsa da Capes para pesquisa, num universo de 6 mil alunos matriculados nos cursos de pós-graduação da universidade federal. Para ele, o corte estimado é um ataque sem precedentes à área de pesquisa do país.
- As pesquisas de ponta desenvolvidas no Brasil são realizadas nas universidades públicas por alunos de mestrado e doutorado. Deixar as universidades para procurar emprego e sobreviver significa parar projetos de pesquisa. Se isso acontecer (suspensão das bolsas), vamos parar a pesquisa no Brasil.
A situação da pesquisa é ainda mais grave no Rio Grande do Norte porque, ao contrário de outros Estados, a Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapern), vinculada ao Governo do Estado, vem sendo sucateada há várias gestões e já não financia mais nenhum projeto na área de ciência e tecnologia.
- Hoje mais de 90% das bolsas é Capes. O CNPq manteve as bolsas que concedeu até o início dos anos 2000, e não investiu mais em nenhum novo projeto. E não temos as bolsas da FAPERN que, apesar da boa vontade de alguns dirigentes, não tem apoio. Também tínhamos um financiamento da ANP, que financiava bolsas de mestrado e doutorado com interesse da indústria e do Petróleo, mas acabou. Então hoje o único custeio vem só da Capes mesmo.
Eduardo Sequerra é pesquisador do Instituto do Cérebro[/caption]
A possibilidade da suspensão das bolsas de mestrado e doutorado pela Capes divulgada quinta-feira (2) ligou o sinal de alerta da comunidade acadêmica. O pesquisador e professor do Instituto do Cérebro Eduardo Sequerra desenvolve uma pesquisa relacionada aos efeitos do vírus zika sobre o desenvolvimento do sistema nervoso embrionário.
Todas as bolsas de pesquisa do projeto, de mestrado e pós-doutorado, são financiadas pela Capes. Ele afirma que a redução no financiamento de projetos que começou durante o governo Dilma e se intensificou na gestão de Michel Temer já diminuiu o interesse dos estudantes. Mas a suspensão total das bolsas seria trágico para o futuro da pesquisa.
- A queda no financiamento de projetos já minou o interesse dos alunos pela carreira científica. Mas uma interrupção nas bolsas seria uma catástrofe. Significaria não pagar o aluguel, a comida do filho. Diferente do que disse o Fernando Henrique Cardoso quando presidente, bolsa é salário. É o que faz a carreira científica possível para pessoas que não são ricas. Sem ela voltamos para os tempos dos naturalistas, em que somente ricos faziam ciência.
Sequerra destaca que sem as bolsas o projeto que desenvolve hoje corre risco:
- Sim, total. Eu tenho pouco tempo pra ir para a bancada. Dou aula, escrevo projeto, e etc.
A força do financiamento de pesquisas no país vem da Capes. O professor do Instituto do Cérebro reforça a importância dos alunos no desenvolvimento dos projetos:
- Nós atualmente temos bolsas de iniciação científica e pós doutorado vindas do CNPq. Mas a grande força de trabalho dos artigos brasileiros são os alunos de pós graduação. São eles quem mais tempo se dedicam a um projeto. Graças a eles os pesquisadores conseguem desenvolver projetos de quatro anos ou mais.
“Seria uma catástrofe”, avalia pesquisador do Instituto do Cérebro
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