O dia em que Bora Porra imitou um peru para ver o ABC jogar
Natal, RN 19 de abr 2024

O dia em que Bora Porra imitou um peru para ver o ABC jogar

2 de dezembro de 2018
O dia em que Bora Porra imitou um peru para ver o ABC jogar

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Anos setenta. Auge do amor dos torcedores natalenses pelo futebol. Dia de clássico, podia esperar, carreatas saindo de vários pontos da cidade. Bandeiras tremulando, música tocando, em paz, sem agressões ou qualquer tipo de violência. Parece mentira, mas não é. Era assim mesmo.

Nas rádios, profissionais amantes faziam, desse dia, uma festa ainda maior, com promoções, entrevistas exclusivas direto das concentrações, era realmente um tempo áureo que desperta saudades que chegam a doer.

Lembro de um clássico especial. Acho que era a decisão de 1973, não tenho certeza. Souza Silva, radialista da rádio Cabugi, setorista do ABC, naquela manhã de domingo fazia, ao vivo, no seu programa de rádio (ou participação) uma promoção especial: o torcedor do ABC que imitasse um animal, podia ser ave também, ganharia um par de ingressos para o jogão da tarde no Castelão (queria mudar o nome, mas ainda era homenagem ao ditador sem pescoço).

Nem precisa dizer mais nada. A fila começava na frente da porta da rádio, na Ribeira, e chegava ao Teatro Alberto Maranhão, fazendo voltas na praça.

Entravam de cinco em cinco, ou dez em dez, os detalhes com mais minúncias o contador dessa  história não soube precisar. Na fila, um velho conhecido nosso, não na época, pois ele, até então,  era um simples anônimo, torcedor iniciante, mas claro, já fazendo das suas, de tudo um pouco pelo ABC. Ele mesmo: Roberto Luís da Costa Barbosa, ou Roberto Lili, hoje conhecido na Frasqueira como Bora Porra.

Estava em casa se arrumando para encontrar sua namorada Iracema, com quem casaria em 1986, quando ouviu a "promoção" no seu radinho de pilha. Doido para ver o jogo, mas sem uma ruela furada no bolso, pensou: "Está pra mim", e foi.

Esperou quase uma hora na fila. Enfim, chegou sua vez. Entrou no estúdio se tremendo, encabulado, doido para fugir, mas o amor pelo clube, a vontade de ver Danilo, Alberi, Morais, Maranhão, Dr. Edson foi mais forte. Se segurou no canto e esperou angustiado, suando frio.

Depois, tremendo, viu o dedão de Souza Silva apontar na sua direção:

-Você, seu nome, pode vir - disse o radialista abcdista

- Me chamo  Roberto Luís da Costa Barbosa, respondeu.

- Vai imitar o quê, questionou o radialista?

-  Um cachorro e um peru, respondeu nosso heroi. E foi.

- Não, não, você só pode imitar um - cortou Souza.

Nosso herói concordou.

Imitou o peru. Infelizmente não tenho como reproduzir a imitação aqui no texto, mas dia desses prometo gravar. Hoje, ele só faz isso quando está cheio de canjibrina.

A sua imitação do peru foi um sucesso estrondoso. Souza Silva, que não se aguentava, já chorava de tanto rir,  pediu para ele repetir a imitação umas cinco vezes ou mais. Cada vez que ele fazia a ave o estúdio quase vinha abaixo. Ria todo mundo, controlista, radialista, diretor e torcedores.

Devido ao sucesso do "Peru", Souza Silva admitiu que ele fizesse também a imitação do cachorro. Animado, já solto, sem nervosismo, fez o latido do pastor alemão, e vieram ainda mais reações positivas na rádio. Sorrisos e palmas dentro do estúdio. Todo mundo rolando de tanto rir e aplaudindo  Lili.

E Souza Silva pedia: imita o peru! Agora, o cachorro. O peru, o cachorro, o peru, o cachorro e, enfim, depois de uns bons minutos preciosos do tempo da rádio, entregou o par de ingressos ao nosso herói que voltou esfuziante, saltitante para casa.

Com os ingressos no bolso se lembrou da namorada. "Eita porra! E agora?" Tinha que correr, já passava da hora do almoço e gostava de chegar cedinho ao estádio. Correu, pegou o ônibus e bateu na porta da casa da amada.

Logo na entrada, recebeu o abraço do cunhado e das cunhadas, todo mundo rindo, falando ao mesmo tempo sobre o seu feito ao vivo na rádio Cabugi. Ele, que conhecia bem o gênio da namorada, suou frio, pois sabia que ela não devia estar muito feliz com ele.

Perguntou: cadê Tema? (apelido de Iracema) Todo mundo parou de lhe abraçar e sorrir. Silêncio total. A porta do quarto da sua amada foi se abrindo, e surgiu ela com a cara de bode quando come urtiga. O fuzilou com o olhar e disse entredentes: - Roberto Luís, que palhaçada, você não tem vergonha disso não? (essa é a versão que ele conta, mas dizem os mais chegados que a namorada avançou contra ele e o encheu de porradas, expulsando-o de casa). Depois se trancou dentro do quarto.

Vou ficar, claro, com a versão dele.

Expulso de casa pela namorada (ele disse que ela passou dois meses sem falar com ele), não teve outro jeito. Foi para o Machadão acompanhado do cunhado, feliz da vida pelo ingresso ganho.

E foi assim, umas das presepadas de nosso herói, antes de se tornar Bora Porra, o regente da Frasqueira nos jogos do Machadão, e depois Frasqueirão.

PS: atualmente, não sei se da boca pra fora, revoltado com as contratações do ABC, disse que não vai a campo tão cedo. Birino, amigo, abcdista igual a ele, garante que essa promessa é só da boca pra fora. Vamos ver.

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