Conhecida pela divulgação de notícias falsas, a médica infectologista Roberta Lacerda foi às ruas de Natal nesta terça-feira, 4, para se colocar contra a vacinação para crianças de 5 a 11 por covid-19. Em vídeos divulgados nas redes sociais, a médica fala em um carro de som próximo ao Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), onde atua, e chama a vacina de ‘experimental’.
A vacina contra a covid-19 para crianças foi aprovada em dezembro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o imunizante da Pfizer, após a análise de dados científicos enviados pela farmacêutica. Segundo a equipe técnica da Agência, as informações avaliadas indicam que a vacina é segura e eficaz para o público infantil.
Apesar das evidências científicas, a infectologista Roberta Lacerda apresenta informações falsas em que diz que “muitas crianças estão morrendo após a aplicação da vacina nos Estados Unidos”.
Essa informação tem circulado em grupos de Telegram desde que a vacinação de crianças iniciou nos Estados Unidos, em novembro. Ela é atribuída ao site britânico The Exposé e um vídeo do médico Vernon Coleman. O portal The Exposé é conhecido por publicar textos com desinformação relacionada à covid-19.
O protesto desta terça-feira (4) já havia sido convocado pela médica na sua conta do Twitter. Ela convocou a população a protestar contra o passaporte vacinal. “Às ruas!!! Dia 4 de janeiro!!! Nosso novo dia de luta pela liberdade!!!”, escreveu Lacerda no Twitter na sexta-feira, 31 de dezembro. Apesar da convocação, a adesão foi mínima.
Os vídeos que registraram a médica foram feitos por volta das 10h. Horas depois, ela participou da audiência pública do Ministério da Saúde para discutir a vacinação de crianças, a convite da deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL), também conhecida por distribuir informações falsas durante a pandemia.
A audiência fez parte de diversas consultas anunciadas pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para deliberação sobre a aplicação da vacina em crianças de 5 a 11 anos. Apesar da liberação pela Anvisa, da chancela de especialistas do próprio Ministério e da experiência internacional, o governo Jair Bolsonaro é contrário à vacinação desta faixa etária.
Infectologista ficou conhecida por dizer que ivermectina pararia pandemia
A médica Roberta Lacerda ficou conhecida por afirmar em entrevista a uma rádio local que a “a Ivermectina tem o poder de parar esta pandemia”. A declaração foi registrada em vídeo e postada no YouTube. A plataforma excluiu por entender que o conteúdo promovia desinformações sobre a covid-19.
Durante toda a pandemia, o uso do medicamento para o combate a covid-19 foi promovido por médicos bolsonaristas. Entretanto, ficou provado cientificamente que ele não tem eficácia contra a doença.
Na audiência pública, médicos defendem vacina para crianças
Além de Roberta Lacerda, participaram entidades e médicos ligados à pediatria que reforçaram a importância e a segurança de imunizar as crianças. O pediatra Renato Kfouri, representante da Associação Médica Brasileira (AMB), chamou atenção para a importância de não se aderir a “teorias da conspiração”.
“Eu quero tranquilizar as famílias, os pais que estão aqui. Se a gente acreditar em teorias conspiratórias, que os órgãos internacionais querem matar nossas crianças, agem de má fé, querem colocar em risco a vida dos nossos filhos, fica realmente uma discussão muito desqualificada em termos de nível de entendimento”, afirmou Kfouri.
Kfouri também chamou a atenção para o fato de que a covid-19 matou mais crianças nos últimos dois anos do que todas as demais doenças infecciosas contempladas no calendário de vacinação infantil. Foram 2,4 mil vítimas – o que coloca o Brasil como o país com o maior número de crianças mortas pela doença. “Com a vacina desse público a gente evita mortes, evita efeitos longos da covid, complicações tardias, evita transmissão”, defendeu.
A vacinação de crianças está permitida em pelo menos 31 países de quatro continentes. A Pfizer é o imunizante presente em mais países, mas a Sinopharm, a Coronavac e a Soberana também estão sendo utilizadas para vacinar esse público.
Em todos os países em que a Pfizer está autorizada para vacinar crianças, a recomendação é o uso de duas doses, com intervalo mínimo de 21 dias, cada uma com 10 microgramas – quantidade menor que a utilizada em adultos. O volume a ser aplicado também é menor, de 0,2 mL.
As mesmas regras valem para o Brasil, que deve começar a vacinar as crianças este mês. Além disso, os frascos do imunizante serão de cor laranja para diferenciar das doses administradas em adultos e será necessário treinar profissionais de saúde para evitar eventuais erros.